Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Quando o lobo veste a pele de cordeiro não será, certamente, para defender o rebanho. Mal irá o pastor que o acolha a julgar só pela aparência. No mínimo terá de o observar com desconfiança e mantê-lo debaixo de olho pois por baixo da lanífera capa de dócil ruminante continua o pelo eriçado da fera carniceira.
Seria, igualmente, estultícia julgar apenas pelo tom cordato, pela formulação cuidada, pela ilusória cândida intenção a recente proposta de referendo sobre a imigração trazida com pezinhos de lã, com beatíficas intenções por quem, na Assembleia da República, à vista de todos (às vezes parece mesmo que é apenas para que seja visto por todos) tanto se exalta, acometendo com os mais variados e agressivos epítetos contra todos (ou quase) que, à semelhança dos portugueses da década de sessenta, procuram extrafronteiras, melhorar a sua vida e a dos seus, sem deixar de contribuir para o desenvolvimento, o equilíbrio das receitas da Segurança Social e a diminuição do déficit demográfico de quem, por bem, os acolher. Depois de agitarem as águas, causando reboliço e alvoroço na classe política com o anúncio da exigência de um referendo à imigração e de se insurgirem contra todos quantos questionaram a proposta, vêm agora com um discurso afável declarar que “apenas” pretendem querer obter a resposta popular a duas perguntas singelas a que, facilmente, se induz a resposta pretendida. Tanto assim que António Vitorino, um dos políticos mais sagazes do nosso tempo, veio dizer que também se poderia perguntar ao povo se querem ou não que o sol continue a brilhar todos os dias.
A questão das quotas é uma falsa questão. A diminuição acentuada do fluxo migratório do Portugal profundo para a França e Alemanha não aconteceu por qualquer contingentação nos países de destino. Contudo pode ser popular defendê-las, mesmo sabendo que sendo cegas não defendem o verdadeiro interesse nacional que, nesta altura precisa de imigrantes (os empresários, sobretudo os mais pequenos que o digam), por outro lado promovem o tráfico humano e toda a criminalidade associada. Mas não é só a popularidade da medida que move os pretensos referendários. O que mais os instiga é a possibilidade de ver o país a discutir um tema em que são mestres em explorar a demagogia e populismo facilmente associáveis. E não só. Porque, levantando um pouco a capa, já fomos “avisados” que, a seguir, é preciso rever a política de apoios sociais e de subsídios à imigração. Que apoios são esses e a que mirabolantes subsídios se referiam, não esclareceram. Nem esclarecerão. Porque enunciados vagamente induzem a ideia de uma existência inquestionável e uma magnitude capaz de causar a inquietação nos menos avisados, como tem, infelizmente acontecido. Ter este caldo preparado para o momento de maior fragilidade do governo, quando necessita de negociar todas as medidas que pretende incluir no orçamento do próximo ano, é a situação que mais convém a quem quer, desesperadamente fazer esquecer a debacle das últimas eleições europeias e, ao mesmo tempo, ganhar relevo e notoriedade que receia não ter por causa do “não é não”.
Seria, igualmente, estultícia julgar apenas pelo tom cordato, pela formulação cuidada, pela ilusória cândida intenção a recente proposta de referendo sobre a imigração trazida com pezinhos de lã, com beatíficas intenções por quem, na Assembleia da República, à vista de todos (às vezes parece mesmo que é apenas para que seja visto por todos) tanto se exalta, acometendo com os mais variados e agressivos epítetos contra todos (ou quase) que, à semelhança dos portugueses da década de sessenta, procuram extrafronteiras, melhorar a sua vida e a dos seus, sem deixar de contribuir para o desenvolvimento, o equilíbrio das receitas da Segurança Social e a diminuição do déficit demográfico de quem, por bem, os acolher. Depois de agitarem as águas, causando reboliço e alvoroço na classe política com o anúncio da exigência de um referendo à imigração e de se insurgirem contra todos quantos questionaram a proposta, vêm agora com um discurso afável declarar que “apenas” pretendem querer obter a resposta popular a duas perguntas singelas a que, facilmente, se induz a resposta pretendida. Tanto assim que António Vitorino, um dos políticos mais sagazes do nosso tempo, veio dizer que também se poderia perguntar ao povo se querem ou não que o sol continue a brilhar todos os dias.
A questão das quotas é uma falsa questão. A diminuição acentuada do fluxo migratório do Portugal profundo para a França e Alemanha não aconteceu por qualquer contingentação nos países de destino. Contudo pode ser popular defendê-las, mesmo sabendo que sendo cegas não defendem o verdadeiro interesse nacional que, nesta altura precisa de imigrantes (os empresários, sobretudo os mais pequenos que o digam), por outro lado promovem o tráfico humano e toda a criminalidade associada. Mas não é só a popularidade da medida que move os pretensos referendários. O que mais os instiga é a possibilidade de ver o país a discutir um tema em que são mestres em explorar a demagogia e populismo facilmente associáveis. E não só. Porque, levantando um pouco a capa, já fomos “avisados” que, a seguir, é preciso rever a política de apoios sociais e de subsídios à imigração. Que apoios são esses e a que mirabolantes subsídios se referiam, não esclareceram. Nem esclarecerão. Porque enunciados vagamente induzem a ideia de uma existência inquestionável e uma magnitude capaz de causar a inquietação nos menos avisados, como tem, infelizmente acontecido. Ter este caldo preparado para o momento de maior fragilidade do governo, quando necessita de negociar todas as medidas que pretende incluir no orçamento do próximo ano, é a situação que mais convém a quem quer, desesperadamente fazer esquecer a debacle das últimas eleições europeias e, ao mesmo tempo, ganhar relevo e notoriedade que receia não ter por causa do “não é não”.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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