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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Perguntar não ofende? Depende...

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Quando o lobo veste a pele de cordeiro não será, certamente, para defender o rebanho. Mal irá o pastor que o acolha a julgar só pela aparência. No mínimo terá de o observar com desconfiança e mantê-lo debaixo de olho pois por baixo da lanífera capa de dócil ruminante continua o pelo eriçado da fera carniceira.
Seria, igualmente, estultícia julgar apenas pelo tom cordato, pela formulação cuidada, pela ilusória cândida intenção a recente proposta de referendo sobre a imigração trazida com pezinhos de lã, com beatíficas intenções por quem, na Assembleia da República, à vista de todos (às vezes parece mesmo que é apenas para que seja visto por todos) tanto se exalta, acometendo com os mais variados e agressivos epítetos contra todos (ou quase) que, à semelhança dos portugueses da década de sessenta, procuram extrafronteiras, melhorar a sua vida e a dos seus, sem deixar de contribuir para o desenvolvimento, o equilíbrio das receitas da Segurança Social e a diminuição do déficit demográfico de quem, por bem, os acolher. Depois de agitarem as águas, causando reboliço e alvoroço na classe política com o anúncio da exigência de um referendo à imigração e de se insurgirem contra todos quantos questionaram a proposta, vêm agora com um discurso afável declarar que “apenas” pretendem querer obter a resposta popular a duas perguntas singelas a que, facilmente, se induz a resposta pretendida. Tanto assim que António Vitorino, um dos políticos mais sagazes do nosso tempo, veio dizer que também se poderia perguntar ao povo se querem ou não que o sol continue a brilhar todos os dias.
A questão das quotas é uma falsa questão. A diminuição acentuada do fluxo migratório do Portugal profundo para a França e Alemanha não aconteceu por qualquer contingentação nos países de destino. Contudo pode ser popular defendê-las, mesmo sabendo que sendo cegas não defendem o verdadeiro interesse nacional que, nesta altura precisa de imigrantes (os empresários, sobretudo os mais pequenos que o digam), por outro lado promovem o tráfico humano e toda a criminalidade associada. Mas não é só a popularidade da medida que move os pretensos referendários. O que mais os instiga é a possibilidade de ver o país a discutir um tema em que são mestres em explorar a demagogia e populismo facilmente associáveis. E não só. Porque, levantando um pouco a capa, já fomos “avisados” que, a seguir, é preciso rever a política de apoios sociais e de subsídios à imigração. Que apoios são esses e a que mirabolantes subsídios se referiam, não esclareceram. Nem esclarecerão. Porque enunciados vagamente induzem a ideia de uma existência inquestionável e uma magnitude capaz de causar a inquietação nos menos avisados, como tem, infelizmente acontecido. Ter este caldo preparado para o momento de maior fragilidade do governo, quando necessita de negociar todas as medidas que pretende incluir no orçamento do próximo ano, é a situação que mais convém a quem quer, desesperadamente fazer esquecer a debacle das últimas eleições europeias e, ao mesmo tempo, ganhar relevo e notoriedade que receia não ter por causa do “não é não”.

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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