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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

O Pão-nosso de cada dia

O pão é o nosso principal alimento, estando todos os dias na mesa. Por isso, no livro «Mirandelês» a apresentar dentro de pouco mais de um mês, em Mirandela, tem várias referências ao pão.
O pão trigo «abarretado», comprido como o barrete militar, que é o melhor pão que se faz na cidade de Mirandela, merece a primeira referência. Segue-se o pão centeio, «centeio-alveiro» e que a farinha muito fina saía da poética mó albeira. Esta farinha fina consegue-se ao ser peneirada «esbeijada» na peneira mais fina e a deslizar nas «varilhas» por cima da masseira.
Quando a farinha triga não é tão apurada, na mó alveira, peneirada só pela peneira grossa, temos o charrão ou «pão charrão» e do farelo podemos fazer uma «enfarnada» para o cavalo ou para o porco, bastando juntar ao balde de água duas ou três malgas deste fibroso alimento.
Estamos a «escangar» a farinha quando lhe tiramos o farelo mais grosso ou «relão» ou «ralão». E é posta no «missoulo» ou saco pequeno quando é pouca, sendo a maquia cobrada pelo moleiro menor. O pão charrão obtém-se do «relão» (também se chama «pão-ralão» ou «pão-relão») que é a farinha ou farelo mais grossos. Da farinha centeia menos apurada na azenha (maior) ou no moinho (pequeno) faz-se o «pão-preto» (o último que comi foi feito em Pitões – Montalegre) (le pain noir dos franceses) ou pão dos pobres, ou pão que o «Diabo amassou». Hoje só quase temos o pão dos parasitas que recebem e não querem trabalhar.
A «sêmea» ou pão-sêmea, tal como o charrão são feitos de farinha trigo e farelo. Mas, a sêmea é confeccionada a partir de uma farinha de grossura média. Por sua vez, o «pão albeiro» ou «pão coado» é conseguido com a farinha mais fina que se utiliza na regueifa e noutros pãos finos.
O «pão arfado» ou empolado, levantado pela acção do calor brusco é uma característica de algum do nosso pão ou bolos cozidos. Por sua vez, «o pão resinado» é aquele que fica mal cozido e acaçapado. Mesmo assim, quando temos muita fome podemos partir um «benairo» de pão.
Por mais que as pás mecânicas batam a farinha, o melhor pão é aquele é amassado a braços. A farinha não pode ficar «ingrunhada» e sempre que vemos algum «ingrunho» é sinal de que precisa de ser mais trabalhada.
O pão ao ir para o tendal, para a massa não se pegar ao bragal, tem que levar um cheirinho de farinha e estamos a «fingir» ou fangir, isto é, quase fingimos ou fangimos que deitamos. Também se finge o pão quando vai para a pá para entrar no forno. Quando se pedia a alguém para cozer uma fornada de pão pagava-se-lhe com a poia ou pão mais pequeno.
O «molête» ou pão trigo de poucas gramas, como o de três/quatro cantos, é um produto mais da cidade, porque nas aldeias havia mais fartura e o pão era de quilos.
Como diz o ilustre Prof. Adriano Moreira, que «Mirandela é o Poço do Azeite», este precioso e fino «ouro da terra» entra na «bola sovada» (devido à tareia que leva na masseira) ou «bola calcada», na «bola de azeite» e na novíssima bola de azeitonas e em muita da nossa bolaria.
A «painça» ou farinha de milho (tem o seu nome no milho miúdo ou painço, ou pão-de-passarinho, que depois passou para o milho americano ou graúdo) faz um pão mais pesado, fibroso e nutritivo, mais usado no Minho e litoral norte.
Nem todo o pão que se come (ou se comia antigamente) provem de cereal, também se obtém pão moendo a bolota ou a sua prima castanha. Foi o pão mais tradicional da castanha, a «falacha» que me motivou a escrita do livro «Castanea uma dádiva dos deuses».
À guisa de conselhos não «poupa no farelo e gasta na farinha », porque é sinal de pouca inteligência. Este ano, prevejo que vai ser «ano de muito gaimão, ano de muito pão».
Que saudades eu tenho do «bolo molhado» que fazia a minha mãe, quando cozia a fornada, e com um pão centeio mais pequeno ainda quente, em vez de o incertar, escarolava-o para uma panela, juntando-lhe açúcar (escuro) e vinho tinto (também gosto das sopas-de-cavalo-cansado)!
No último Verão a minha irmã mandou-me levantar o testo a uma panela e tinha dentro o bolo molhado!… Fiquei petrificado com emoção húmida e feliz que me encheu a alma!...
Com os nacos ou carolos de pão, ao sair do forno, a minha avó, M.ª Rosa, costumava fazer outro petisco juntando-lhe só azeite e açúcar.
No Verão, com o pão duro ou pão velho, costumo, seguindo os saberes da minha mãe, esfarolar ou esforgalhar o pão e fazer uma «salada de pão», juntando-lhe cebola picada, alcaparras ou azeitonas quartilhadas, azeite e vinagre de lavrador. É tão delicioso que nem uma forgalha deixo no prato.
«Paniegos» ou «pãozeiros» são os que comem muito pão e temos algumas aldeias no concelho de Mirandela com esta nomeada. Quem gosta pouco de pão come só um «tantinho», para não ser desmancha-prazeres.

in:jornal.netbila.net
por:Jorge Lage

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