O rato de Cabrera é o único roedor endémico da Península Ibérica, possuindo uma distribuição muito restrita e fragmentada devido às suas necessidades ecológicas muito particulares, não tolerando amplitudes térmicas acentuadas e humidade reduzida.
IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS
O rato de Cabrera (Microtus cabrerae Thomas, 1906) é o único roedor endémico da Península Ibérica, pertencendo à Família dos Murídeos e à Sub-família dos Microtíneos.
Esta espécie caracteriza-se por possuir uma pelagem comprida e áspera, de tonalidade castanho-amarelada no dorso, mais pálida no ventre. A cabeça é larga com focinho arredondado, olhos pequenos, orelhas e cauda curtas. Difere de outros indivíduos pertencentes ao género Microtus no que diz respeito à morfologia dos molares e do crânio.
O comprimento da cabeça e do corpo varia entre 11,6 e 13,0cm e a cauda entre 3,3 e 4,6cm. O peso médio dos indivíduos varia entre 43 e 78g.
DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA
Apresenta uma área de distribuição fragmentada abrangendo o Sudoeste e Centro da Península Ibérica. Em Portugal, a sua distribuição incide no Sudoeste, Centro e Nordeste do território continental sendo mais frequente nas regiões do Litoral Alentejano, Ribatejo, Beira Interior e Douro Internacional.
ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO
Em Portugal encontra-se classificado no Livro Vermelho dos Vertebrados Terrestres (actualização de 2005) com o estatuto de Vulnerável, encontrando-se ao nível Europeu incluído na Directiva Habitats, relativa à conservação de habitats naturais e da fauna e flora silvestre, figurando no Anexo II (lista de espécies animais e vegetais de interesse comunitário cuja conservação requer a designação de zonas especiais de conservação) e no Anexo IV (lista de espécies animais e vegetais de interesse comunitário que requerem uma protecção rigorosa). A inclusão do rato de Cabrera nestas categorias encontra-se associada ao desaparecimento de várias colónias nos últimos anos em diversas áreas da Península Ibérica.
FACTORES DE AMEAÇA
Os principais factores de ameaça são a alteração e destruição do habitat, consequências directas da intensificação das práticas agrícolas.
HABITAT
As colónias do rato de Cabrera ocorrem em várias áreas das zonas bioclimáticas supra e mesomediterrânea. Esta espécie está frequentemente associada a áreas dominadas por gramíneas (zonas utilizadas como alimento) e silvados localizados perto de pequenos cursos de água (zonas utilizadas como protecção), evitando a margem de rios e lagoas permanentes onde habita a rata-de-água (Arvicola sapidus).
ALIMENTAÇÃO
Este pequeno mamífero alimenta-se sobretudo de Gramíneas, podendo também consumir outras Monocotiledóneas como Ciperáceas, Juncáceas e ainda algumas Dicotiledóneas.
INIMIGOS NATURAIS
Tal como outros roedores é presa habitual das rapinas nocturnas, sobretudo da coruja-das-torres. Também pode ser predado por carnívoros como o saca-rabos, a raposa ou a geneta.
REPRODUÇÃO
Alguns estudos sugerem que se trata de uma espécie monogâmica. A actividade reprodutora parece diminuir no final da Primavera e princípio do Verão, devido à ausência de precipitação que geralmente caracteriza esta estação. Cada fêmea pode parir 2 a 4 vezes por ano. O período de gestação ronda os 23 dias, sendo o número de crias 3 a 8 por parto. Os progenitores constroem um ninho aéreo ou subterrâneo, em função da formação vegetal presente na colónia.
MOVIMENTOS
A actividade deste mamífero, tanto se desenrola sobre o solo, onde elabora uma notável rede de caminhos e latrinas, como por baixo do solo, onde se refugia durante as horas de repouso e nos períodos mais críticos do ano. Encontra-se activo principalmente ao crepúsculo e ao amanhecer.
O fim do Inverno e início da Primavera parecem ser as épocas do ano mais favoráveis, pois é nestas alturas que se observa uma maior abundância de caminhos e depósitos de dejectos recentes e uma maior abundância e actividade dos indivíduos. No Verão, esta actividade pode chegar a cessar por completo, sobretudo à superfície do solo, na maior parte das colónias. Com as chuvas outonais e o rebentar da vegetação herbácea, assiste-se à reactivação nas colónias, mas com menor intensidade que na Primavera.
CURIOSIDADES
Apesar de ainda não se saber ao certo qual a área vital desta espécie, alguns estudos revelaram que o rato de Cabrera consegue percorrer grandes distâncias, tendo em conta o seu pequeno tamanho. Outro aspecto curioso prende-se com o grande comprimento do seu tubo digestivo, principalmente do ceco, que devido ao papel desempenhado na fermentação da celulose, lhes permite o consumo de uma grande quantidade de Monocotiledóneas, essencialmente Gramíneas.
LOCAIS FAVORÁVEIS À OBSERVAÇÃO
Esta espécie é de difícil observação diurna devido ao seu comportamento de actividade essencialmente crepuscular. Para detectá-la recorre-se frequentemente aos indícios de presença, tais como os caminhos marcados na vegetação e aos dejectos encontrados ao longo desses caminhos, geralmente agrupados em latrinas.
Indícios de presença de M. cabrerae: (a) entrada de um túnel; (b) dejectos frescos e secos.
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Mafalda Costa, Maria João Maia, António Mira
in:naturlink.sapo.pt
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