“Chícharo. S.m. legume”
[in Dicionário da Língua Portugueza, de José da Fonseca, edição de 1840.]
O dicionarista José da Fonseca é sucinto a caracterizar esta apreciada leguminosa na província transmontana, Roquete (edição de 1848) também não se avantaja, o Dicionário Contemporaneo da Língua Portugueza (edição de 1881), o de Cândido Figueiredo, ainda o de e Morais Silva adiantam mais: “planta leguminosa. A semente da mesma planta espécie de feijão, que se come seco como legume.” No Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado pode-se ler:” Chícharo, s.m. (do lat. Cicer, pelo italiano Cícero). Planta leguminosa (Cicer erietinum). A semente da mesma planta, espécie de feijão, que se come seca como legume. Variedade de ervilha seca. Legume medicinal.” O Dicionário da Academia das Ciências acrescenta: “Semente dessa planta, parecida com o feijão seco, comestível. Designação do feijão frade. Variedade de ervilha seca.” O Dicionário Enciclopédico atém-se a: “Planta leguminosa. Variedade feijão. Fruto desta planta, e o Dicionário Houaiss anota o “chícharo, o chícharo-miúdo e o chícharo selvagem.” No Vocabulário Portuguez e Latino (1712-1728), Rafael Bluteau acrescenta: “Legume, procedido de huma mata pequena que deita muita ástea dobradiça, e rasteira vestida de humas folhas, compridas e estreitas e ponteagudas. Há de duas cores brancas e vermelhas.”
A estas citações podia ter acrescentado outras semelhantes contidas em dicionários de menor estatuto científico relativas ao termo chícharo, ou seja a leguminosa que pelo seu constante uso na alimentação dos estudantes do Colégio de São João de Brito em Bragança, é a razão dos seus alunos terem passado a ser conhecidos como – os chícharos –, e não chícharros, ou chíncharros. O termo chicharro nos dicionários referidos é sempre associado a carapau grande. No entanto, em dois receituários consagrados à cozinha transmontana aparecem as receitas de: sopa de chicharros verdes, o elemento principal é o feijão-frade em vagem, de chicharros com o mesmo elemento, sopa de chincharros, e salada de chicharros (feijão frade). Um dos receituários em causa – Cozinha Tradicional Portuguesa – aduz a justificação de o termo chicharro também significar chícharo.
A autora, Maria de Lourdes Modesto estudiosa e grande impulsionadora da defesa e divulgação das artes culinárias tradicionais portuguesas escreveu: “Chicharro é o nome que em Trás-os-Montes se dá ao feijão-frade, alimento que durante o ano está presente em quase todas as casas transmontanas, onde é carinhosamente tratado por «chicharrinho». Pronuncia-se tchitcharrinho, sendo a grafia, segundo o Abade de Baçal, chicharro, embora os estranhos a Trás-os-Montes tenham tendência para pronunciar chícharo.”
Na página LVIII, do Tomo V, das Memórias, o Abade de Baçal referencia a dita leguminosa, escrevendo chícharos.
No Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro, o termo chicharro está associado a Alfândega da Fé, e o termo chíncharro a Freixo de Espada à Cinta, o que explica a menção a sopa de chíncharros, pois a autora do dito receituário Isabel Gomes Mota, é uma distinta senhora oriunda de ilustre família daquela vila.
Na Etnografia Portuguesa, Vol. II, Leite de Vasconcelos anota chicharal em Avis, afirmando que chícharo e feijão-frade são a mesma coisa, a menção a frade na douta opinião dele entronca na semelhança com o hábito dos frades.
O chíncharro, chicharro e mais vulgarmente conhecido por chícharo chegou à Península Ibérica na bagagem dos romanos, Dioscórides e Columela recomendam a época de ser cultivado, se é destinado a pasto dos animais o mês indicado é Setembro, caso seja para semente a partir do meio do mês de Janeiro, não devendo ser semeado junto de vinhas, bosques ou entre as árvores porque tira muita substância às plantas vizinhas.
O chícharo foi denodado guerreiro contra a persistente carestia existente até há dezenas de anos no Nordeste, noutras regiões do mesmo modo, permitindo a confecção de sopas, purés, saladas, guarnições e, quantas vezes a ter de assumir a condição de combatente principal de modo as cozinheiras ganharem a batalha.
Comeres Bragançanos e Transmontanos
Publicação da C.M.B.
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