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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

CHÍCHARO, em Comeres Bragançanos e Transmontanos

“Chícharo. S.m. legume”
[in Dicionário da Língua Portugueza, de José da Fonseca, edição de 1840.]

O dicionarista José da Fonseca é sucinto a caracterizar esta apreciada leguminosa na província transmontana, Roquete (edição de 1848) também não se avantaja, o Dicionário Contemporaneo da Língua Portugueza (edição de 1881), o de Cândido Figueiredo, ainda o de e Morais Silva adiantam mais: “planta leguminosa. A semente da mesma planta espécie de feijão, que se come seco como legume.” No Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado pode-se ler:” Chícharo, s.m. (do lat. Cicer, pelo italiano Cícero). Planta leguminosa (Cicer erietinum). A semente da mesma planta, espécie de feijão, que se come seca como legume. Variedade de ervilha seca. Legume medicinal.” O Dicionário da Academia das Ciências acrescenta: “Semente dessa planta, parecida com o feijão seco, comestível. Designação do feijão frade. Variedade de ervilha seca.” O Dicionário Enciclopédico atém-se a: “Planta leguminosa. Variedade feijão. Fruto desta planta, e o Dicionário Houaiss anota o “chícharo, o chícharo-miúdo e o chícharo selvagem.” No Vocabulário Portuguez e Latino (1712-1728), Rafael Bluteau acrescenta: “Legume, procedido de huma mata pequena que deita muita ástea dobradiça, e rasteira vestida de humas folhas, compridas e estreitas e ponteagudas. Há de duas cores brancas e vermelhas.”
A estas citações podia ter acrescentado outras semelhantes contidas em dicionários de menor estatuto científico relativas ao termo chícharo, ou seja a leguminosa que pelo seu constante uso na alimentação dos estudantes do Colégio de São João de Brito em Bragança, é a razão dos seus alunos terem passado a ser conhecidos como – os chícharos –, e não chícharros, ou chíncharros. O termo chicharro nos dicionários referidos é sempre associado a carapau grande. No entanto, em dois receituários consagrados à cozinha transmontana aparecem as receitas de: sopa de chicharros verdes, o elemento principal é o feijão-frade em vagem, de chicharros com o mesmo elemento, sopa de chincharros, e salada de chicharros (feijão frade). Um dos receituários em causa – Cozinha Tradicional Portuguesa – aduz a justificação de o termo chicharro também significar chícharo.
A autora, Maria de Lourdes Modesto estudiosa e grande impulsionadora da defesa e divulgação das artes culinárias tradicionais portuguesas escreveu: “Chicharro é o nome que em Trás-os-Montes se dá ao feijão-frade, alimento que durante o ano está presente em quase todas as casas transmontanas, onde é carinhosamente tratado por «chicharrinho». Pronuncia-se tchitcharrinho, sendo a grafia, segundo o Abade de Baçal, chicharro, embora os estranhos a Trás-os-Montes tenham tendência para pronunciar chícharo.”
Na página LVIII, do Tomo V, das Memórias, o Abade de Baçal referencia a dita leguminosa, escrevendo chícharos.
No Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro, o termo chicharro está associado a Alfândega da Fé, e o termo chíncharro a Freixo de Espada à Cinta, o que explica a menção a sopa de chíncharros, pois a autora do dito receituário Isabel Gomes Mota, é uma distinta senhora oriunda de ilustre família daquela vila.
Na Etnografia Portuguesa, Vol. II, Leite de Vasconcelos anota chicharal em Avis, afirmando que chícharo e feijão-frade são a mesma coisa, a menção a frade na douta opinião dele entronca na semelhança com o hábito dos frades.
O chíncharro, chicharro e mais vulgarmente conhecido por chícharo chegou à Península Ibérica na bagagem dos romanos, Dioscórides e Columela recomendam a época de ser cultivado, se é destinado a pasto dos animais o mês indicado é Setembro, caso seja para semente a partir do meio do mês de Janeiro, não devendo ser semeado junto de vinhas, bosques ou entre as árvores porque tira muita substância às plantas vizinhas.
O chícharo foi denodado guerreiro contra a persistente carestia existente até há dezenas de anos no Nordeste, noutras regiões do mesmo modo, permitindo a confecção de sopas, purés, saladas, guarnições e, quantas vezes a ter de assumir a condição de combatente principal de modo as cozinheiras ganharem a batalha.

Comeres Bragançanos e Transmontanos

Publicação da C.M.B.

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