Num passado não muito remoto, os ritos executados pelas personagens da Morte, do Diabo e da Censura assumiam proporções verdadeiramente aterradoras. Era essa a finalidade que pretendiam atingir. A Morte acompanhada pelo Diabo e pela Censura (grupos de três), percorrem indiscriminadamente os espaços públicos da cidade. Armados de gadanhas, tridentes e chicotes, percorrem ruas, largos e vielas da zona medieval da cidade batendo às raparigas e às mulheres. Recuando até há poucos anos, sabemos que as raparigas se fechavam em casa e das janelas gritavam, num gesto de desafio: "Tens pori de vir aqui!". Espicaçados por estas palavras, trepavam às varandas e janelas (o que ainda hoje fazem), com o recurso a escadas, e entravam nas casas com o único intuito de castigar as jovens provocadoras.
Os "máscaros" que outrora animavam a Festa de Santo Estêvão saem nos dias de hoje à rua no Domingo Gordo e no Dia de Carnaval. Durante a tarde, a mesa de Santo Estêvão era organizada num espaço ao ar livre. Neste ritual o pároco fazia a cerimónia da transmissão dos poderes das autoridades cessantes para as que iam iniciar funções. Os "máscaros" ou Caretos percorriam as ruas da aldeia e faziam as suas habituais tropelias. O dia terminava com a "galhofa" e um baile tradicional. Os Caretos continuam com os seus rituais, actuam em regra em pequenos grupos que, dispersos por diferentes locais, acabam por tomar conta da aldeia à procura das suas vítimas, as moças solteiras e para diversão do povo.
O ritual do "julgamento do Entrudo" começa com um cortejo que termina no largo central onde está montado o tribunal. À frente do cortejo vai o Anunciador seguido do Entrudo, a sua mulher e filhos. Atrás vêm os Advogados de defesa e de acusação e por último, o juiz com o grande livro das leis. Todos (espectadores e personagens) querem tomar parte no julgamento que libertará a comunidade desse malfeitor e seu clã familiar, o causador dos males passados no Inverno, e a fará entrar, já purificada, no novo ciclo produtivo. Depois da sentença final que o juiz proferiu, os bonecos de palha previamente preparados e que representam o Entrudo e todos os membros da sua família, são lançados ao chão e com eles se acende a fogueira que os há-de queimar, cumprindo assim a pena a que foram condenados.
Na quarta-feira de cinzas, saem à rua os diabólicos mascarados, chamados Diabos e a terrífica personagem da Morte. Logo após a meia-noite de Terça-feira, os Diabos efectuam a primeira investida contra os foliões que saem dos diversos locais de diversão. Já durante o dia, dezenas de personagens diabólicas saem às ruas da vila atormentando a população, principalmente as raparigas, e fustigando-a sob as vergastadas acutilantes dos seus cinturões. A personagem da Morte, que é única, só sai no próprio dia de Cinzas. Anda sempre acompanhada por um séquito de Diabos e executa rituais que lhe são exclusivos, nos quais recorre a alguns requintes de crueldade na imposição de sacrifícios e penitências às suas vítimas. O povo acompanha toda a movimentação destes personagens e vai-se divertindo com as artimanhas a que, por vezes, eles têm que deitar mão para alcançarem os objectivos a que a tradição lhes exige.
A Vaca Bayona costumava ser acompanhada de um vaqueiro que levava alforges com cinza, farelo ou palha para lançar às pessoas. Era também habitual a presença de um burro enfeitado que apanhava os maiores sustos ao ver que a vaca simulava atacá-lo. Sobre o burro encontrava-se uma personagem de trapo que era vulgarmente chamada de "Pedro Palhas" que finalmente era derrubado e atacado pela vaca. Também aparecia a figura do semeador, que semeava as ruas com palha. Era também comum a leitura de loas de carácter local. A presença da vaca era efémera já que em muitas aldeias só aparecia no momento do baile simulando escornar as crianças, perseguindo os jovens, atacando os vizinhos para receber esmolas e levantando as saias das raparigas. O final era sempre o mesmo, ser toureada e morta no chão como último acto da festa.
O Carnaval de Lazarim centra-se no confronto verbal entre dois grupos sociais, as comadres e os compadres. Estes têm um período de duas semanas para os preparativos: a semana dos compadres e a semana das comadres. Os artesãos de máscaras pelo contrário, iniciam a sua construção logo após o termo das festividades do ano anterior. Os grupos das comadres e dos compadres entram em cena na Terça-feira de Carnaval. A crítica social, que tem como mote a rivalidade entre homens e mulheres, é trazida a público num cortejo hilariante. Terminada a crítica segue-se a queima dos bonecos representativos de personagens de ambos os grupos. Tudo termina em convívio, com comida e bebida e uma grande festa.
Os dias festivos são o Domingo Gordo e a Terça-feira Gorda. No entanto, o ritual dos "casamentos" ou "contratos de casamento", realiza-se ao início da noite de Sábado e só termina quando a sátira tiver "casado" todas as moças solteiras da terra. Os "caretos" saem à rua no Domingo e na Terça, percorrem as ruas da sua aldeia e das aldeias vizinhas efectuando os actos de "chocalhar" as mulheres que lhes são característicos. Também na Terça-feira são representadas pelas ruas da aldeia as "cerimónias dos casamentos", organizando-se verdadeiros cortejos nupciais. As Madamas ou Matrafonas são as raparigas que entram neste rito.
Hoje, os personagens tradicionais dos Cencerrones de Villanueva de Valrojo encontram-se associados com as típicas máscaras de carnaval. Ao longo de 3 dias de festa Domingo Gordo, Segunda e Terça-feira de Carnaval realizam-se os denominados "números", paródias de situações reais passadas na aldeia e levadas a cabo por mascarados com trajes a condizer com essas situações. Os chocalhos impedem que as pessoas interrompam estas acções. Segunda-feira de Carnaval os jovens fazem o peditório pelas casas da aldeia. Os Diabos só actuam na Terça-feira de Carnaval à noite. A sua máscara tem vindo a misturar-se e a conviver com as máscaras carnavalescas.
in:museudamascara.cm-braganca.pt
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