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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Festas de Carnaval Tradicionais


Num passado não muito remoto, os ritos executados pelas personagens da Morte, do Diabo e da Censura assumiam proporções verdadeiramente aterradoras. Era essa a finalidade que pretendiam atingir. A Morte acompanhada pelo Diabo e pela Censura (grupos de três), percorrem indiscriminadamente os espaços públicos da cidade. Armados de gadanhas, tridentes e chicotes, percorrem ruas, largos e vielas da zona medieval da cidade batendo às raparigas e às mulheres. Recuando até há poucos anos, sabemos que as raparigas se fechavam em casa e das janelas gritavam, num gesto de desafio: "Tens pori de vir aqui!". Espicaçados por estas palavras, trepavam às varandas e janelas (o que ainda hoje fazem), com o recurso a escadas, e entravam nas casas com o único intuito de castigar as jovens provocadoras.


Os "máscaros" que outrora animavam a Festa de Santo Estêvão saem nos dias de hoje à rua no Domingo Gordo e no Dia de Carnaval. Durante a tarde, a mesa de Santo Estêvão era organizada num espaço ao ar livre. Neste ritual o pároco fazia a cerimónia da transmissão dos poderes das autoridades cessantes para as que iam iniciar funções. Os "máscaros" ou Caretos percorriam as ruas da aldeia e faziam as suas habituais tropelias. O dia terminava com a "galhofa" e um baile tradicional. Os Caretos continuam com os seus rituais, actuam em regra em pequenos grupos que, dispersos por diferentes locais, acabam por tomar conta da aldeia à procura das suas vítimas, as moças solteiras e para diversão do povo.


O ritual do "julgamento do Entrudo" começa com um cortejo que termina no largo central onde está montado o tribunal. À frente do cortejo vai o Anunciador seguido do Entrudo, a sua mulher e filhos. Atrás vêm os Advogados de defesa e de acusação e por último, o juiz com o grande livro das leis. Todos (espectadores e personagens) querem tomar parte no julgamento que libertará a comunidade desse malfeitor e seu clã familiar, o causador dos males passados no Inverno, e a fará entrar, já purificada, no novo ciclo produtivo. Depois da sentença final que o juiz proferiu, os bonecos de palha previamente preparados e que representam o Entrudo e todos os membros da sua família, são lançados ao chão e com eles se acende a fogueira que os há-de queimar, cumprindo assim a pena a que foram condenados.


Na quarta-feira de cinzas, saem à rua os diabólicos mascarados, chamados Diabos e a terrífica personagem da Morte. Logo após a meia-noite de Terça-feira, os Diabos efectuam a primeira investida contra os foliões que saem dos diversos locais de diversão. Já durante o dia, dezenas de personagens diabólicas saem às ruas da vila atormentando a população, principalmente as raparigas, e fustigando-a sob as vergastadas acutilantes dos seus cinturões. A personagem da Morte, que é única, só sai no próprio dia de Cinzas. Anda sempre acompanhada por um séquito de Diabos e executa rituais que lhe são exclusivos, nos quais recorre a alguns requintes de crueldade na imposição de sacrifícios e penitências às suas vítimas. O povo acompanha toda a movimentação destes personagens e vai-se divertindo com as artimanhas a que, por vezes, eles têm que deitar mão para alcançarem os objectivos a que a tradição lhes exige.


A Vaca Bayona costumava ser acompanhada de um vaqueiro que levava alforges com cinza, farelo ou palha para lançar às pessoas. Era também habitual a presença de um burro enfeitado que apanhava os maiores sustos ao ver que a vaca simulava atacá-lo. Sobre o burro encontrava-se uma personagem de trapo que era vulgarmente chamada de "Pedro Palhas" que finalmente era derrubado e atacado pela vaca. Também aparecia a figura do semeador, que semeava as ruas com palha. Era também comum a leitura de loas de carácter local. A presença da vaca era efémera já que em muitas aldeias só aparecia no momento do baile simulando escornar as crianças, perseguindo os jovens, atacando os vizinhos para receber esmolas e levantando as saias das raparigas. O final era sempre o mesmo, ser toureada e morta no chão como último acto da festa.


O Carnaval de Lazarim centra-se no confronto verbal entre dois grupos sociais, as comadres e os compadres. Estes têm um período de duas semanas para os preparativos: a semana dos compadres e a semana das comadres. Os artesãos de máscaras pelo contrário, iniciam a sua construção logo após o termo das festividades do ano anterior. Os grupos das comadres e dos compadres entram em cena na Terça-feira de Carnaval. A crítica social, que tem como mote a rivalidade entre homens e mulheres, é trazida a público num cortejo hilariante. Terminada a crítica segue-se a queima dos bonecos representativos de personagens de ambos os grupos. Tudo termina em convívio, com comida e bebida e uma grande festa.


Os dias festivos são o Domingo Gordo e a Terça-feira Gorda. No entanto, o ritual dos "casamentos" ou "contratos de casamento", realiza-se ao início da noite de Sábado e só termina quando a sátira tiver "casado" todas as moças solteiras da terra. Os "caretos" saem à rua no Domingo e na Terça, percorrem as ruas da sua aldeia e das aldeias vizinhas efectuando os actos de "chocalhar" as mulheres que lhes são característicos. Também na Terça-feira são representadas pelas ruas da aldeia as "cerimónias dos casamentos", organizando-se verdadeiros cortejos nupciais. As Madamas ou Matrafonas são as raparigas que entram neste rito.


Hoje, os personagens tradicionais dos Cencerrones de Villanueva de Valrojo encontram-se associados com as típicas máscaras de carnaval. Ao longo de 3 dias de festa Domingo Gordo, Segunda e Terça-feira de Carnaval realizam-se os denominados "números", paródias de situações reais passadas na aldeia e levadas a cabo por mascarados com trajes a condizer com essas situações. Os chocalhos impedem que as pessoas interrompam estas acções. Segunda-feira de Carnaval os jovens fazem o peditório pelas casas da aldeia. Os Diabos só actuam na Terça-feira de Carnaval à noite. A sua máscara tem vindo a misturar-se e a conviver com as máscaras carnavalescas.

in:museudamascara.cm-braganca.pt

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