A Diocese de Bragança-Miranda vai disponibilizar a partir da próxima semana atendimento à população para ouvir angústias e problemas e encaminhar as necessidades que surgirem para respostas adequadas, anunciou hoje o bispo José Cordeiro.
O prelado adiantou à agência Lusa que o serviço arranca na quinta-feira, na igreja de Nossa Senhora da Graça, em Bragança, e explicou que vai funcionar semanalmente naquele dia com oito padres disponíveis para ouvirem quem necessitar de ajuda.
Todos aqueles casos que “ultrapassam o âmbito espiritual serão encaminhados para um gabinete interdisciplinar onde as pessoas possam ser ouvidas, ao nível psicológico, psiquiátrico, médico, ou apenas de um desabafo”, como explicou o bispo.
Este apoio encaminhará também casos com outras necessidades, nomeadamente de carências materiais, em que o suporte serão principalmente as instituições da Igreja, responsáveis por “70% das respostas sociais” no Nordeste Transmontano.
O prelado já tinha avançado com esta intenção que ganhou força, segundo contou à Lusa, na realidade que tem constatado nas visitas pastorais que iniciou há ano a todos os lugares da diocese.
A “maior necessidade” que tem observado junto das pessoas “é a falta de carinho, a falta de alguém que as escute que as acolha, sem interesse, sem esperar nada em troca”.
“Essa é a maior necessidade porque felizmente no nosso contexto, a não ser nos grandes centros, no comum das nossas aldeias não tenho sentido casos de extrema pobreza ou de miséria. Sinto, sim, esta necessidade do acompanhamento e da escuta porque as pessoas vivem muito sós e muitas delas começam a desesperar e a desistir de viver e de dar um sentido para a vida”, afirmou.
O projeto arranca, para já, em Bragança, mas o bispo diocesano conta também com a ajuda dos “samaritanos nas comunidades, pessoas que estão a fazer um papel extraordinário de dar tempo, de ajudar aqueles que mais precisam”.
“Cada vez mais precisamos de pessoas que se disponham a dar do seu tempo aos mais necessitados, aos pobres”, alertou.
A crise e a realidade da região têm agravado o problema da solidão e do isolamento e o bispo teme que nos pequenos lugares mais isolados seja agudizado pela extinção das freguesias e a perda do único elo de apoio às populações.
“Porque viam no presidente da junta ou naquele vogal da junta na sua própria terra - e espero que continue a existir - alguém que os socorre em determinados momentos e que lhe resolve assuntos pontuais do seu dia-a-dia”, sustentou.
O pároco é, para muitas populações, o único apoio que resta e José Cordeiro garantiu que tem pedido aos sacerdotes que, “se for necessário, diminuam às missas, ao culto, para poderem atender às pessoas”.
“Que ninguém, por falta da nossa disponibilidade, possa sentir-se desamparado na vida”, sublinhou.
O bispo diocese já visitou 90 das 326 paróquias e 203 das 634 comunidades da diocese.
José Cordeiro quer visitar todas em quatro anos e ouvir e falar com as pessoas, sobretudo acamados, idosos, as que vivem sozinhas ou institucionalizadas.
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