Diz a lenda que três ribeirinhos alegres e saltitantes queriam ver o mar e um dia resolveram meter-se a caminho.
-Partimos logo de manhã muito cedo - disse um deles.
-Partimos antes do nascer do Sol - disse o outro.
-E vamos ver qual de nós chega primeiro ao mar - disse o último.
O luar brilhava nas águas adormecidas dos três ribeirinhos.
No outro dia, o primeiro a acordar bocejou, agitou as águas e pensou:
-Partirei já e assim serem o primeiro a chegar!
O ribeirinho que sempre ouvira chamarem-lhe Tajo deixou-se escorregar pela montanha. Como era um ribeirinho muito alegre saudava os povoados e as gentes; a todos dizia adeus e informava:
-Vou a caminho do mar; tudo é muito lindo, mas eu quero ver o mar. Adeus, adeus.
Brincava com as raparigas que lavavam a roupa nas suas águas claras, escolhia os caminhos mais belos entre pinheiros, oliveiras e pomares. Aos ribeirinhos que encontrava dizia sempre:
-Vou para o mar! Venham comigo! Vamos para o mar!
E muitos abraçavam aquele ribeirinho aventureiro . Cada vez mais forte, o Tajo seguia feliz e encantado com as terras que banhava.
Um dia, uma menina que brincava com as ondas pequeninas chamou-lhe Tejo e ele gostou do novo nome.
-Tejo serei para quem me veja.
E para os pescadores, ele ficou a ser o Tejo que lhes dava o sustento de cada dia. Para os lavradores, ele é o Tejo que lhes rega as terras.
Calmo e divertido, o Tejo chegou ao mar entrou nele de braços abertos. Ali estava, azul e refrescante, o mar que procura por tão longo caminho.
Entretanto, tinha acordado outro ribeirinho, aquele que se habituara a que lhe chamassem Ana e sabia que outros que davam o nome de Uadi-Ana, ou seja, Rio Ana.
Ainda ensonado, não sabia bem qual o melhor caminho para chegar ao mar. Ora corria para um lado, ora mudava para outro. mas sabia que o desejo mar se encontrava para sul.
E lá seguia, entre terras baixas e secas; mais tarde entre rochedos queimados pelo sol.
Apercebeu-se então de que o povo o chamava por um novo nome. Agora, para todos, ele era o Guadiana.
Fez amizade com o Caia e Degebe, uns ribeirinhos tímidos que também queriam ver o mar e se juntaram a este novo amigo.
Um dia, assim em boa união, encontraram o mar, um mar bem azul e águas tépidas e límpidas. O bom do rio Guadiana mergulhou no Oceano Atlântico feliz como uma criança que brinca na areia.
Mas não era ele o primeiro a encontrar o Oceano pois o Tejo, que saíra mais cedo, mais cedo encontrara o mar.
Enfriorado e dorminhoco, o terceiro ribeirinho só acordou quando o sol já tinha acordado há muito tempo.
-Estou atrasado! Já é muito tarde! - pensava o ribeirinho ensonado.
Lembra-se de que lhe tinham chamado Durius, mas agora as gentes que o olhavam e lhe chamavam Duero. Corria por terras baixas e secas onde se demorava a observar os campos cultivados.
Mas não deixa de pensar
-Vou ser o último! É preciso correr!
E partiu de abalada esgueirando-se por corredores pedregosos saltando rochedos, correndo apressado, cada vez mais apressado.
Nas suas margens subiam encostas cobertas de vinhedos com folhas verdes na Primavera e folhas douradas no Outono, escondendo pesados cachos de uvas maduras.
-Quero chegar ao mar, mas vou ser o último, já sei, vou ser o último! -
Por isso, o Douro que também é Duero e já foi Durius, acabou por seguir o caminho mais agitado.
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(Henrique Martins)
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