Portugal, Bragança, Carrazeda de Ansiães, Lavandeira
Arquitectura religiosa, românica. Igreja paroquial de planta longitudinal composta por nave e capela-mor mais baixa e estreita, com fachada principal em empena truncada, rasgada por portal escavado, composto por várias arquivoltas e tímpano profusamente decorado, encimado por pequena fresta. Fachadas rematadas em cornija, assente em cachorrada, as laterais rasgadas por portas travessas e janelas em arco de volta perfeita assentes em colunas. Capela funerária adossada.
Número IPA Antigo: PT010403070003
Categoria
Monumento
Descrição
Planta longitudinal composta por nave, capela-mor mais baixa e estreita e, no exterior, adossada obliquamente ao cunhal direito, uma capela funenária quadrangular. De volumes articulados, disposição horizontalista e com coberturas diferenciadas de duas águas na nave e capela-mor. Fachadas em cantaria aparente, rematadas por cornija assente em cachorrada simples e beiral.
A IGREJA tem a fachada principal voltada a O., com portal escavado, de volta perfeita, constituído por cinco arquivoltas boleadas, as exteriores decoradas por motivos fitomórficos, geométricos, animais, actividades rurais e, na interior, vários Apóstolos, as quais assentam em capitéis figurativos, com humanos e animais fantásticos; o tímpano apresenta Cristo em Majestade, circundado por mandorla e por tetramorfo. Sobre o portal, pequena fresta e a fachada remata em empena truncada. A fachada lateral esquerda, virada a N., possui duas frestas, ladeadas por duas colunas de fuste liso, anel inferior e capitéis decorados com animais e elementos fitomórficos, e uma porta de arco em volta perfeita, assente em impostas salientes, uma delas decorada com palmeta, e tímpano vazado com cruz de Malta. O volume da capela-mor é cego, com os cachorros decorados com elementos antro e zoomórficos.
Fachada lateral direita, virada a S., rasgada, na nave por duas frestas e portal escavado, em arco de volta perfeita, assente em duas colunas de fuste liso, toros e escócias na base e capitéis cúbicos com decoração fitomórfica; sobre estes, duas impostas decoradas com entrelaçados e moldura exterior denteada. O tímpano ostenta uma cruz pátea vazada, sendo o lintel arredondado e ornado com vários lóbulos. Na capela-mor, abre-se, num pequeno ressalto do muro, um arcossólio em arco apontado, com moldura estriada, assente em capitel de motivo vegetalista no lado direito e imposta saliente no oposto. A cachorrada é decorada com motivos zoomórficos. Fachada posterior em empena, rasgada nos volumes da nave e capela-mor por frestas centrais. INTERIOR com arco triunfal de volta perfeita, com decoração de palmetas e capitéis com motivos geométricos. Na nave existe um pequeno núcleo museológico onde se incluem fragmentos do pelourinho de Ansiães e estelas sepulcrais decoradas com símbolos solares, cruzes de Malta e Templária e estrelas judaicas *2. CAPELA funerária da família Sampaio de planta quadrangular, com fachada principal virada a NO. com portal escavado em arco de volta perfeita, assente em impostas salientes e dupla moldura, a interior boleada, com tímpano decorado por cruz pátea, a qual, constitui o único elemento decorativo.
Remate em cornija assente em cachorrada decorada com motivos boleados. Fachadas laterais, em empena, rasgadas por fresta e a posterior remata em cornija assente em cachorrada ainda com vestígios da primitiva decoração e rasgada por fresta. INTERIOR rasgado por dois arcossólios ligeiramente apontados e mantendo as tampas dos sarcófagos.
Acessos
EN 214, a 3 km. a S. de Carrazeda de Ansiães, no largo de Castelo de Ansiães
Protecção
MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 14 985, DG, 1.ª série, n.º 28 de 03 fevereiro 1928
Grau
1 – imóvel ou conjunto com valor excepcional, cujas características deverão ser integralmente preservadas. Incluem-se neste grupo, com excepções, os objectos edificados classificados como Monumento Nacional.
Enquadramento
Rural, isolado, o monumento está inserido na cerca do Castelo de Ansiães (v. PT010403070002), que se situa no topo do mais alto de quatro montes, junto à porta de Santiago, no lado S. do castelo.
Descrição Complementar
Utilização Inicial
Religiosa: igreja matriz
Utilização Actual
Marco histórico-cultural: igreja
Propriedade
Pública: estatal
Afectação
Sem afectação
Época Construção
Séc. 13
Arquitecto / Construtor / Autor
ARQUITETO: Baltazar de Castro (1930).
Cronologia
1160 - D. Afonso Henriques concede foral a Ansiães; 1198 - foral dado por D. Sancho I; 1219 - concessão de feira à vila por D. Afonso III; séc. 13, meados - construção da igreja; pertencia ao padroado real e era comenda da Ordem de Cristo; séc. 13, finais / séc. 14, inícios - construção da capela funerária adossada à fachada principal para panteão da família Sampaio; 1384 - reconstrução dos muros da fortificação; 1442 - reconstrução da igreja; 1510 - D. Manuel I dá foral novo; 1706 - segundo o Padre Carvalho da Costa é reitoria do padroado real e rende 80$000, sendo cabeça da Comenda do Salvador e a ermida de São João Baptista é cabeça de outra comenda; o Comendador de ambas é Manuel de Melo, porteiro-mor e regedor da Casa da Suplicação e Prior do Crato; 1966, 21 Junho - o imóvel encontrava-se sem portas; 1967, 7 Setembro - segundo memória descritiva, o imóvel estava em ruínas, com a cobertura parcialmente caída; 1987 - projecto de criação de uma Sala Municipal de Arqueologia na igreja; 1995 - projecto de investigação arqueológica contemplando a vila medieval, enquadrada no Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos (PNTA) e na linha da investigação medieval do Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense e do Vinho do Poto (GEHVID); 1998, 4 Dezembro - relatório dos trabalhos arqueológicos, sendo referidos os vestígios de uma estrutura de fundição artesanal de sinos no meio da nave, de onde se retirou um conjunto significativo de escórias de metal e fragmentos de argila; verificou-se a existência de uma necrópole medieval, com várias sepulturas antropomórficas escavadas na rocha.
Características Particulares
Capela de fundação românica, mantendo portal axial com programa iconográfico e escultórico bastante desenvolvido que se terá devido a, pelo menos, duas mãos, uma que daria espacialidade às figuras e outra, mais elementar, que as aplana. O tímpano com Cristo em Magestade rodeado por tetramorfo e vários santos nas arquivoltas. A cachorrada e capitéis laterais mostram decoração fitomórfica. A profusão decorativa dos elementos estruturais denota influências directas da escola de Braga. A capela funerária, adossada obliquamente a um dos cunhais da fachada principal, mantém, no interior, arcossólios em arcos apontados, alguns preservando as tampas dos sarcófagos que encerram. No interior da igreja, mantém-se vasto espólio proveniente das imediações e interior.
Dados Técnicos
Sistema estrutural de paredes portantes.
Materiais
Granito na estrutura, modinaturas, cachorradas, decoração; madeira nas portas.
Bibliografia
AFONSO, Belarmino, A Arte Religiosa na Diocese de Bragança, in Brigantia, vol. I, Bragança, 1981; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Geografia da Arquitectura Românica, in História da Arte em Portugal, vol. 3, Lisboa, 1986, pp. 51 - 130; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, O Românico, in História da Arte Portuguesa, vol. 1, Lisboa, 2001; BARROCA, Mário Jorge, A Epigrafia Medieval Portuguesa, Porto, 2000; Castelo de Ansiães visitável até 2006, in I Informativo, 20 Janeiro 2005; COSTA, António Carvalho da (Padre), Corografia Portugueza..., Lisboa, Valentim da Costa Deslandes, 1706, tomo I; FERNANDES, Paulo Almeida, A igreja de São Salvador de Ansiães, in Brigantia, Bragança, 1999; GASPAR, Luís Pereira, Douro. Estudos e Documentos, Porto, 1998; História da Arte Portuguesa [dir. PEREIRA, Paulo], vol. II, Lisboa, 1993; MORAIS, João Pinto de e MAGALHÃES, António de Sousa Pinto de, Memórias de Ansiães, Carrazeda de Ansiães, 1985; PEREIRA, Ricardo Manuel Paninho, De Ansiães a Carrazeda de Ansiães, s.l., 1991; RODRIGUES, Jorge, O Poder no Românico Português, in Propaganda e Poder. Congresso Penincular de História da Arte, Lisboa, 2001; Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976; VERDELHO, Pedro, Roteiro dos Castelos de Trás-os-Montes, Chaves, 2000; VITORINO, Pedro, O Portal Românico de Ansiães, Porto, 1925.
Documentação Gráfica
IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN; GEHVID
Documentação Fotográfica
IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN
Documentação Administrativa
IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN; IPPAR; Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães; GEHVID
Intervenção Realizada
DGEMN: 1930, 15 maio - Portaria publicada no DG n.º 110, 2.ª série, nomeando o arquiteto Baltazar de Castro, diretor interino dos Monumentos Nacionais do Norte, para integrar a Comissão administrativa das obras a executar na Igreja e Castelo Carrazeda de Ansiães, comissão que era constituída ainda por Manuel de Melo Sampaio (Visconde de Alcobaça) e António Bernardo Ferreira Trigo Moutinho; 1946 - restauro da igreja; 1958 - reconstrução da cobertura; 1966 - construção do taipal de vedação da porta de acesso à igreja; 1967 - construção da cobertura, colocação das portas da igreja; colocação de cantarias em falta; execução de frechais em betão armado para apoio do telhado da cabeceira; limpeza geral com remoção da vegetação do interior; 1976 - reparação da cobertura e reconstrução das portas da igreja, consolidação da capela-mor, colocação de forro de telha; 1977 - reparação das portas da nave.
Observações
*1 - DOF: Ruínas da Igreja de Ansiães / Igreja de São Salvador de Ansiães. *2 - as colunas há muito que desapareceram para serem reutilizadas noutros fins; uma das colunas estava há uns anos em Alganhafres; os altares colaterais seriam dedicados a Nossa Senhora do Rosário e a São Brás.
Autor e Data
Ernesto Jana 1994 / Marisa Costa 2001
Actualização
Paula Noé 1999
in:monumentos.pt
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