Local: Arcas, MACEDO DE CAVALEIROS, BRAGANÇA
Nas Drobas das Arcas, concelho de Macedo de Cavaleiros, num sítio a que chamam “Cabeço dos Mouros” há um mistério qualquer. Quando eu era rapaz íamos para lá com o gado e lembra-me haver um buraco, onde atirávamos com as pedras e sentíamo-las tilintar lá em baixo. Agora o que lá havia não sei.
Só sei o que me contou um homem, chamado Zé Moleiro. E isso passou-se com ele, já lá vão uns cinquenta anos, ou mais. Ia então esse homem a passar por lá, ao correr do rio, e tocava um animal para beber água. De repente viu uma menina, que estava conforme Deus a botou ao mundo. Estava à borda do rio, a lavar-se e a pentear-se com um pente de ouro. O homem passou e disse para ela:
— Bom dia, menina. Que está por aqui a fazer?
— Ando a saber de quem me queira levar.
— Nesse caso vou buscar roupa e levo-a — disse o homem. — E então como é que a menina aparece aqui assim?
— Deixaram-me aqui despida — disse ela.
Puseram-se então a falar um com o outro e dali a nada já se tratavam por tu. Diz-lhe então ela:
— Tu serás capaz de me vir buscar. Amanhã às tantas horas passas por aqui e levas-me. Mas não tenhas medo. Vem uma serpente, e na serpente fico eu. Quando subir por ti acima, e te beije, fico mulher como estou agora aqui.
Ele concordou. Mas antes de ir embora botou-lhe as mãos e tirou-lhe o pente de ouro. E levou-o. No dia seguinte, à hora combinada, lá tornou o homem a passar no sítio do “Cabeço dos Mouros”. Esteve à espera, à espera, até que lhe veio um monstro, que era uma cobra. E ele quando viu a cobra fugiu-lhe. Teve-lhe medo.
A rapariga veio a ela e chamou por ele, a dizer que lhe tinha dobrado o encanto. Que estava encantada e que estava lá cheia de ouro, que queria ser desencantada, mas dobrou-se-lhe o encanto.
O homem diz que ainda voltou para trás a ver se a agarrava, só que ela escondeu-se e nunca mais a viu. Esse homem era pobre, e com esse pente que vendeu não sei que riqueza apanhou. Só sei que até à data em que encontrou essa mulher nem tinha sequer uma junta de bois, tinha apenas uma burrita. E dali para diante comprou juntas de bois a uns e outros.
Fonte:PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.254
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