Gonçalo Villaverde/Global Imagens |
Um bom exemplo disso é o caso de Manuel António, agricultor na aldeia de Carragosa a poucos quilómetros de Bragança. Ele, a mulher e o filho cuidam de 140 vacas e perto de 400 ovelhas. No verão leva a maior parte para terrenos alugados na serra de Montesinho. O resto, por causa da seca, está nos estábulos perto da aldeia. " Ficámos com alguns terrenos alugados na serra de Montesinho e temos lá parte da exploração. Tinha aí outras vacas noutros lameiros mas acabaram por não ter lá água e trouxe-as para cá", diz o agricultor.
Na serra, os animais maiores que andam à solta, procuram eles a água. " As vacas que saem para fora da vedação ainda procuram elas a água. Muitas vezes até irão beber à barragem...elas têm que beber nalgum sítio". Para os vitelos, Manuel António, tem que a levar da aldeia. "Tenho que a lá levar, não há água. Havia ali uns nascentes perto mas secaram. Não os posso deixar morrer à sede", acrescenta.
De manhã e à noite faz quatro viagens e mais de 50 quilómetros. "Umas vezes nesta carrinha de transporte de animais, outras vezes noutra carrinha mais pequena. Levo-lhes 2000 litros. Mil de manhã e outros mil à noite... levo todos os dias". Mas começa a ter outro problema. As reservas que tem em Carragosa estão a chegar fim. " Também estão quase a acabar. Está quase no fundo, aquilo ao acabar, não sei".
Com as cerca de 400 ovelhas a situação é semelhante, diz Alcina Afonso, mulher de Manuel António. " Temos que procurar água onde a há. Às vezes andamos quilómetros para as "chegar" a beber. A água é pouca em todo o lado. As pastagens estão todas secas". Manuel António acrescenta que à falta de água junta-se agora a falta de alimento. "Não têm nada. Secaram-se. Nós fizemos cerca de 15 hectares de milho, não temos lá nada. Algum nem nasceu. Com a seca não nasceu. Já não há água desde o inverno. Sempre cada vez manos, cada vez menos."
É por isso que, tanto para as vacas como para as ovelhas, Manuel António e a esposa já estão a dar as forragens que eram para o inverno, diz Alcina Afonso. " Sim, porque o que tínhamos guardado para o inverno têm que o comer agora no verão, depois no inverno vamos ver. Vamos cortando ramas de freixo e a gente vai governando-se como pode para ver se não gastamos muito a comida que temos guardada para o inverno. O casal é só um exemplo do que os produtores de gado, na região, estão a passar, por causa da seca.
Afonso de Sousa
TSF
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