Arte Rupestre do Côa. Foto: Wikipédia (Henrique Matos) |
Com cerca de 1,1 milhões de habitantes, a cidade de Ulsan foi no passado um importante centro da pesca à baleia, atividade que terá começado na Idade da Pedra, por volta de 6000 a.C., conforme atestam as descobertas arqueológicas feitas na região.
É neste contexto de proximidade histórica que surge o convite à Fundação Côa Parque, por parte do Doutor Sangmog Lee, Diretor do Museu do Petróglifo, de Ulsan, para a realização de uma exposição sobre a Arte Pré-histórica do Vale do Côa.
Assim, a Coreia do Sul irá acolher, pela primeira vez, uma súmula da mais original e mediática história da arqueologia portuguesa na transição do milénio, em paralelo com uma visão de síntese da grande arte paleolítica do Côa, uma das joias da coroa do património cultural em território português.
Para António Ponte, Presidente da Fundação Côa Parque, este convite “é revelador do interesse que a Arte Rupestre do Vale do Côa desperta, não só no nosso país, mas também no estrangeiro”, sendo certo que a oportunidade de expor na Coreia do Sul será igualmente aproveitada “para dar seguimento a uma estratégia de divulgação do património ali existente, quer ao público sul-coreano quer aos visitantes de outras nacionalidades que afluem ao Museu do Petróglifo e à sua envolvente”.
“20% do total de visitantes do Vale do Côa são estrangeiros, sinónimo de que este valioso património mundial pode e deve ser incluído nas rotas mundiais de turismo. O Vale do Côa e o seu património constituem o maior conjunto mundial de arte paleolítica de ar livre, pelo que temos vindo a desenvolver um esforço de promoção, com o objetivo de atrair cada vez mais visitantes”, salienta o Presidente da Fundação Côa Parque.
Também por esse motivo, os textos e a documentação gráfica de apoio à exposição serão objeto de publicação num catálogo com textos em português, inglês, francês e coreano.
António Ponte sublinha tratar-se de "uma excelente oportunidade de promoção cultural e turística para a região do Vale do Côa”, cujo potencial deve ser explorado de forma a "assegurar a sua sustentabilidade, não só do ponto de vista da dinâmica cultural, mas também pelas repercussões que daí podem advir para a economia local”.
A exposição «A Arte Rupestre do Vale do Côa», comissariada por António Martinho Baptista, foi pensada e distribuída em dois módulos que se interligam. No primeiro, sintetiza-se a história da salvação da arte do Côa até ao abandono da construção da barragem em finais de 1995 e da criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa em 1996 e, bem assim, da primeira sistematização do estudo da arte do Côa, cuja grande antiguidade evidenciada pela arqueologia seria decisiva para a tomada de decisão política do abandono das obras da barragem; no segundo, mais desenvolvido, perspetiva-se o estado dos conhecimentos que hoje temos dos ciclos rupestres do Côa e do seu enquadramento arqueológico, centrados no tempo longo paleolítico.
Concede-se também particular destaque à criação do Museu do Côa, em 2010, enquanto grande centro de interpretação da arte do Côa e porta de entrada para a sua fruição pública.
A exposição consiste num lote de painéis com grandes ampliações fotográficas, acompanhados por desenhos de algumas rochas selecionadas dos principais períodos artísticos do Côa.
Um dos mais importantes atrativos da exposição, realizada expressamente para esta mostra, será uma nova réplica da rocha 3 da Penascosa, a mais visitada rocha do Côa, com o seu notável e bem ilustrativo lote de sobreposições de picotagens profundas do período antigo do Côa. Esta réplica ficará seguidamente em depósito no Museu de Ulsan, assinalando na Coreia do Sul um dos marcos desta exposição, mas também convidando/desafiando os futuros visitantes desse museu a uma visita ao Museu do Côa e aos nossos sítios de arte pré-histórica.
Foram ainda feitas, também propositadamente para esta exposição, duas réplicas de placas com arte móvel paleolítica do Fariseu.
Com um total aproximado de 34 mil visitantes em 2014 (registando uma subida de 16% comparando com 2013), o Museu do Côa e o Parque Arqueológico do Vale do Côa continuam a registar um acréscimo de interesse, não só devido à sua importância histórica, mas também pela atenção que a comunicação social lhe vem dedicando, através de vários filmes e artigos, de que é exemplo recente o texto «An Ice Age Heritage, Nearly Lost» publicado no New York Times, o mais conceituado jornal norte-americano.
Sobre o Vale do Côa
Inscrito na Lista da Unesco como Património da Humanidade em 1998, o Vale do Côa é considerado o mais importante sítio com arte rupestre paleolítica de ar livre.
O sítio arqueológico divide-se em dois eixos fluviais principais: 30 quilómetros ao longo do rio Côa – Faia, Penascosa, Quinta da Barca, Ribeira de Piscos, Canada do Inferno - e 15 quilómetros pelas margens do rio Douro – Fonte Fireira, Broeira, Foz do Côa, Vermelhosa, Vale de José Esteves, Vale de Cabrões.
Como uma imensa galeria ao ar livre, o Vale do Côa apresenta mais de mil rochas com manifestações rupestres, identificadas em mais de 70 sítios distintos, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 25.000 anos.
Reproduções de cavalos, bois, cabras, auroques, veados e caçadores armados foram gravadas em superfícies verticais de xisto, com recurso a quatro técnicas distintas - incisão fina (simples ou estriada), picotagem, abrasão e raspagem – que por vezes se complementam. Algumas gravuras, pós-Paleolítico, apresentam vestígios de pintura. Na verdade, o Vale do Côa guarda pinturas e gravuras do Neolítico e Calcolítico, gravuras da Idade do Ferro e, depois, ao longo dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX, serviu de suporte às manifestações dos moleiros, que se tornaram os últimos gravadores do fundo deste vale imenso.
NI DRCN (Felicidade Ramos)
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