Foto: Luís Liberal |
Apesar da grandeza do Abade de Baçal os erros têm que ser sempre contestados e corrigidos. Hoje, já não há os revisores de provas de antanho e quem revê, na maioria dos casos não domina grande parte do saber, daí serem vulgares os erros e as gralhas, mesmo nos académicos e escritores mais rigorosos. Por isso, um jubilado lente de Coimbra me disse, há anos, na apresentação de um meu livro: - já viu algum livro sem erros? Pelo menos nos livros e textos que escrevo e nos que vou lendo (até em Prémios Nóbeis) lá vão aparecendo erros ou gralhas.
Voltando ao Regodeiro, a lenda ou a memória oral não deixam dúvidas, os seus habitantes chamam-se «Gateiros». Gateiros não no sentido de gatos, mas de augueira ou levada que «asseibaba» as terras mimosas, para que, no estio, houvesse fartura para os regodeirenses e para os animais que eram a extensão da família, e abundassem as «castanhas da terra» e a gradura nos meses de míngua, ou seja, «do castanho ao cerejo». Diz a memória oral ou a lenda que em tempos recuados foram provocados ou enganados, por dois mariolas que, empoleirados ou acoitados cada um na croa de seu negrilho, e terão, alternadamente, soltado gritos de arrebate: - à Gateira! Foram todos, de fouces, forcadas, varapaus e fusis, defender o rego de água ou augueira comum e viram que tudo corria como desejavam. A novo grito responderam com igual ímpeto. Estes logros espicaçaram-lhes o orgulho comunitário e a partir dessa data longínqua passaram a considerar ofensivo que alguém lhes falasse ou gritasse «à Gateira»!
Mudam-se os tempos, adoçam-se os ímpetos e hoje vêem a nomeada, «à Gateira», como memória imaterial da sua aldeia. Não faz sentido, nem prestigia o pelouro cultural do Município de Mirandela (nem prestigiados dicionários trasmontanos), que no site www.mirandela.com conste que os de Regodeiro são «Gaiteiros». Mas que gaita é esta permanecer no erro? Tanto mais que, no melhor dicionário do concelho «Mirandelês» e no de «Falares de Mirandela», que o complementa, em parte (estou a ultimar o terceiro livro), está bem explícito e fundamentado que OS DE REGODEIRO SÃO «GATEIROS». Também sugiro que estas duas publicações constem no site oficial municipal.
Jorge Lage
in:atelier.arteazul.net
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