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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A Emigração do Nordeste Transmontano para o Brasil no início do século XX - DESTINOS DOS EMIGRANTES TRANSMONTANOS

Sem dúvida, a concluir pelos números apresentados nas estatísticas oficiais, nos Livros de Registos de Passaportes e pela informação colhida nos periódicos regionalistas do distrito de Bragança, nas duas primeiras décadas do século XX, especialmente no pico do fluxo emigratório: 1911, 1912, 1913, a análise dos pólos de atracção geográfica dos emigrantes deixa transparecer uma preferência indiscutível pelos destinos intercontinentais (gráfico n.º 1), mais concretamente os transoceânicos, privilegiando o continente americano.
Vejamos os valores absolutos e percentuais dos emigrantes, que o quadro n.º 2 nos transmite: os 48 160 emigrantes são distribuídos da seguinte forma: América 47 133 (97,87%); África 564 (1,17%); Europa 287 (0,60%); Oceânia (Ilhas de Sandwiche/Hawai) 159 (0,33%); Ásia (Índia Inglesa, Polinésia – serviços militares) 17 (0,04%).
AAmérica é o continente que sobressai. Os restantes continentes apresentaram valores que não atingiram os 2%.
Todos os anos apresentam registos de emigrantes. Apenas os anos de 1901, 1902, 1903, 1906, 1915, 1917 e 1918 não atingem valores iguais ou superiores a 1 000 emigrantes. O ano mais representativo é o de 1912 com 11 502, (99,74% dos 11 532 emigrantes desse ano). Entre 1907 e 1914 registam-se os valores mais elevados. Curioso referir que para o ano de 1914, emigraram para a América 1 411 indivíduos, correspondente a 100% dos emigrantes desse ano. Os anos de 1908, 1909, 1912, 1913 e 1915 ultrapassam valores percentuais de 99%.
Os Livros de Registos de Passaportes apresentam muitas vezes a designação “América” sem especificar países. Os E.U.A. confundem-se com a designação América do Norte. E o Brasil também aparece designado como Estados Unidos do Brasil.
A América do Norte concentrou 1 569 emigrantes, 3% dos emigrantes do Distrito de Bragança, entre 1901-1920. Os E.U.A. apresentam-se como um país atractivo, junto da população emigrante, especialmente pelas ofertas de trabalho remunerado. No entanto, as políticas de recepção de emigrantes, pautaram-se por restrições quantitativas e qualitativas. O desenvolvimento deste país passava pela selecção de mão-de-obra válida, saudável, alfabetizada, pondo de parte velhos, doentes ou portadores de condutas moralmente contestadas. Empregar e albergar esta mão-de-obra emigrante implicava custos que os governos pretendiam minimizar.
A América do Sul aparece-nos subdividida nas estatísticas oficiais entre “outros países da América do Sul” e “Brasil” e reúne, nestes dois espaços, um contingente de 45 564 indivíduos, respectivamente, 493 e 45 071 emigrantes.
O peso, em termos absolutos e percentuais, exercido pelo Brasil, depreende-se logo à partida. Destacam-se ainda países como o Chile, Uruguai (Montevideu), Panamá e Argentina (Buenos Aires). O fluxo, para estes países, passava pelas ligações via Brasil.
Para a Argentina, regista-se maior incidência entre os anos de 1907 a 1919.
Associava-se a um país jovem, com capacidade de absorção da população, com recursos naturais e mercado de trabalho propício, principalmente no sector agrícola, mas onde se efectuava o controlo dos clandestinos. O Chile é também um país que só é referido para os anos de 1909 e 1910, onde atraíam as actividades agrícolas vinícolas que os emigrantes transmontanos conheciam. Outros países como o Uruguai, são referidos para os anos de 1907, 1911, 1912 e 1916 e o Panamá é mencionado em 1909.
O continente africano – mais concretamente as zonas sobre as quais incidia a colonização portuguesa: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, associadas ao Zaire e Congo – revelou-se um destino competitivo e propagandeado, mas ignorado pela massa populacional emigrante, já que África simbolizava aventura e a necessidade de construir e dinamizar a partir do “nada”; a este destino associavam-se ainda políticas e projectos de fomento colonial pouco atractivos, um clima rigoroso e um estatuto de “colono” que não
agradava a quem via na emigração um sinal de rápida prosperidade económica.
Esta emigração “organizada”, “orientada” e de tipo “colonial”, promovida pelos governos, não se viu traduzida em contingentes numéricos significativos, entre 1901-1920. Para aqui não convergiram as ambições que os governos pretendiam reflectir nos habitantes.
A Europa redescobriu-se a partir de 1916 e marcou posição após o confronto bélico de 1914-1918. A inversão do quadro geográfico revelou a faceta intercontinental do fenómeno emigratório regional, atendendo à urgência da reconstrução das economias, do reerguer dos espaços urbanos e redinamização das explorações mineiras e agrícolas. O país de maior incidência emigratória, neste período, foi a França, seguida da Alemanha, Bélgica e Espanha. A 1.ª Grande Guerra travou, pela insegurança que transmitia, a saída de contingentes emigrantes para a América, mas dinamizou, imediatamente, a mobilidade destes indivíduos para o novo pólo geográfico, focalizando na Europa as suas atenções.
Neste cenário, as possibilidades de trabalho remunerado estavam bem mais perto e ao alcance de um maior número de braços, disponibilizados pela crise brasileira e pelo apertado filtro dos E.U.A.

Maria da Graça Lopes Fernandes Martins

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