(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Pois não tem acontecido nada de especial na pacatez tão desejada da aldeia. As cegonhas lá continuam na visita quotidiana aos lameiros, num voo branco e preto com uma precisão admirável. Em breve os ovos serão a promessa da vida. Os idosos continuam gemendo e mancando, espreitando a soalheira e desejando o tempo das colheitas, com dias longos e tardes quentes. O homem do pão, do peixe e da carne chega sempre, trazendo as novidades de longe e a comida para a mesa. Os rebanhos madrugaram, na melancolia dos balidos, sonhando prados verdes e os homens dos tratores já passaram para o campo, ufanos, na potência da técnica e no domínio da natureza. A lavoura com ar condicionado.
Eu também já tenho o meu quintal limpo e as ervas daninhas que me assombraram durante todo o Inverno já foram arrancadas. Tudo cavado… estrumado e a relva nova nascerá em breve. A semente da alface maravilha de Verão também já repousa no coração da terra e é promessa de salada na calmaria da tarde. As rosas já se anunciam no segredo do botão. As macieiras e a cerejeira estranham o tempo e temem as geadas que se adivinham, por isso, ainda guardam, na seiva nova, o milagre da flor.
Os vizinhos passam e dizem: - Então já arranjou o quintal!
- Tem que ser!
E no ar fica o sonho da relva fresca, das rosas perfumadas, das cerejas vermelhas e das maçãs doces. Na verdade os milagres existem!
E logo tu estás comigo no vermelho dos morangos!
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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