A lenda do Conde de Ariães
Num castelo que havia além naquele cabeço, entre Bragança e o Castro de Avelãs, vivia o Conde de Ariães. Naquele tempo só havia ali o castelo e pouco mais. E aqui, em Castro de Avelãs, havia um convento de monges. O Conde de Ariães vivia no castelo com a sua mãe, e tinham lá também uma moça – Alcina era como se chamava – com quem ele andava para casar.
Nessa altura, na Serra da Nogueira havia outro castelo e também outro conde.
Chamava-se Conde Redemiro. Mas era uma pessoa diferente. Era mau. Tão mau que até exigia umas sete ou oito donzelas todos os anos para o castelo dele, para as ter lá ao seu dispor. E tinha muitos ciúmes pela moça do Conde de Ariães. Bem lha queria roubar, mas não podia.
Ora, certa ocasião o Conde de Ariães foi para uma batalha. E quando regressou ao castelo já não encontrou a noiva. A mãe tinha-a deixado raptar numa noite, quando vieram uns, a mando do Conde da Serra da Nogueira, e varreram com ela. E para onde? Para o castelo do Conde Redemiro.
O Conde de Ariães ficou tão aborrecido com a sua mãe que lhe soltou os leões.
E como ela era uma velha, sem forças, já se está a ver o que lhe aconteceu.
Desfizeram-na.
Mais tarde ele arrependeu-se. E foi então pedir aos monges do mosteiro do Castro de Avelãs que lhe dissessem que castigo deveria receber por ter deixado que a mãe fosse devorada pelos leões. E o que lhe disseram eles? Que criasse uma cobra que depois o devorasse também a ele, tal como deixou devorar a mãe. Ele assim fez. Criou uma cobra e sepultou-se com ela num túmulo que ainda hoje existe. E ali foi devorado.
Quando o Conde estava já no túmulo, travou-se uma batalha entre cristãos e mouros na Serra da Nogueira, onde os cristãos mataram o Conde Redemiro, com a ajuda de uma criada que ele lá tinha, e ganharam a batalha. E logo libertaram a moça, a Alcina. Ela fugiu então para o castelo de cá. Só que quando chegou já o conde estava sufocado. Mas ainda travaram palavras, até que ele morreu. E com o desgosto, a moça morreu junto dele.
Dizem também que os ais dela eram tão grandes, que se ouviam nas terras ao redor. E uma dessas terras ficou até com o nome "Grandais", por causa dos grandes ais que se ouviam.
O túmulo do conde está no mosteiro de Castro de Avelãs, onde viveram durante muito tempo os monges beneditinos1.
Fonte: Inf.: Lúcia Gonçalves, de 75 anos; rec.: Castro de Avelãs,
Bragança, 2001.
1 No muro do adro deste mosteiro estão igualmente representados em pedra os leões que devoraram a idosa. Um deles está sem cabeça, o que, na tradição popular, também é justificado: foi o conde quem lha cortou após se arrepender do que aconteceu à sua mãe.
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