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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Mais Quatro Lendas do Concelho de Macedo de Cavaleiros

Soutelo Mourisco
A Pedra Baloiçante

A nordeste de Bouzende, concelho de Macedo de Cavaleiros, coisa de um quilómetro do povo, no cume de um cabeço coroado por uma longa fiada de fraguedos graníticos chamados de Penha Mourisca, que marcam a divisória entre os termos de Bouzende e Soutelo Mourisco, fica a Fraga do Berço, também dita Sino dos Mouros e ainda Embanadouro. (...)
Oscila a um pequeno impulso, inclinando-se para um e outro lado, mas colocando-se um homem em cima dela e calcando alternadamente ora com o pé direito ora com o esquerdo, produz tão grande som que dizem ouvir-se em Ferreira, povoação distante dez quilómetros. De onde vem, segundo a lenda, que essa pedra oscilante foi um sino primitivo dos cristãos que, não podendo utilizar os de metal, se serviam dele para chamar os fiéis à oração, sem despertar a perseguição dos mouros.

Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, vol. IX, Porto, 1934, pp. 124-125.

O tesouro do monte do Castelujo

Passou uma vez uma mulher junto a umas fragas no monte do Castelujo, em Peredo, concelho de Macedo de Cavaleiros, e disse:
– Eu não sei o que sinto aqui! Só sei que é um barulho...
Era o barulho dum tear. Mas como não via tear nenhum, ela não acreditava. E como continuava a ouvi-lo, disse, agora cheia de medo:
– Ai, Jesus, que eu não sei o que sinto aqui!
Em resposta, ouviu uma voz que lhe disse:
– Vai andando, que eu cá fico tecendo o meu ramal.
Então o que havia de ser? Dizem que era uma princesa encantada, que estava ali condenada a tecer enquanto não fosse descoberto um tesouro que estava enterrado no Castelujo. E dizem também que as pancadas do tear só se sentiam no mês de S. João, antes do nascer do sol.

Fonte: Inf. : Ilda de Jesus Paredes, 69 anos; rec.: Peredo, Macedo de Cavaleiros,1999

A moura e o moleiro de Nozelos

Perto de Nozelos, no concelho de Macedo de Cavaleiros, havia há muito tempo, à beira do rio, um moinho onde vivia o moleiro. Numa manhã, o moleiro encontrou junto a uma fraga que ainda lá existe um pente de ouro. Apanhou-o e ficou todo o contente.
Nisto apareceu-lhe uma donzela muito bonita, que lhe disse:
– Esse pente é meu, mas, se o quiseres, pode ser teu. E posso ainda dar-te mais riquezas. Só tens de me desencantar, pois eu sou uma moura e estou encantada numa cobra.
E explicou-lhe como tinha de fazer. Ir lá num determinado dia, a uma determinada hora e esperar que a cobra viesse e subisse por ele acima, até lhe dar um beijo. E também lhe disse que se tivesse medo, estragaria tudo.
O moleiro aceitou e à hora combinada lá foi. Sentou-se na dita pedra e esperou.
De repente, sentiu atrás de si um barulho a roçar nas ervas, o que o fez tremer de susto.
A seguir olhou para trás e já nada viu. Apenas uma voz:
– Ah, maroto, que me dobraste o encanto!
E nunca mais encontrou nem a moura, nem a cobra.

Fonte: Inf.: Eugénia Gonçalo, 58 anos; rec.: Nozelos, Macedo de Cavaleiros, 2000.

Lenda do Cabeço dos Mouros

Versão A:

No tempo em que os mouros viviam na Península, diz-se que se instalaram no cimo de uma montanha no termo das Arcas, concelho de Macedo de Cavaleiros, que passou a chamar-se "Cabeço dos Mouros".
Como no sopé desta montanha passa um rio, os mouros, para conseguirem uma melhor estratégia militar, trataram de dividir o seu curso, de maneira que o rio ficasse a passar metade de um lado da montanha e metade do outro. E assim ficaram mais isolados e protegidos. É essa a explicação que a tradição dá para um extenso fosso, com cerca de trinta metros de profundidade, que ainda hoje se pode ver no local.
Diz também o povo que, quando os mouros foram expulsos, ficou no cabeço uma princesa encantada de rara beleza, que costuma estar a tecer num tear de ouro.
Esta princesa apareceu numa noite de S. João, em forma de serpente, a um moleiro das Arcas, ao qual pediu um beijo a fim de tentar libertar-se do encantamento que ali a aprisionava. Só que o moleiro assustou-se ao aproximar-se dele tão repugnante animal
e fugiu. E ela exclamou:
– Ah, cão, que me dobraste o encanto!

Versão B (Lenda da Cobra das Drobas):
Nas Drobas das Arcas, concelho de Macedo de Cavaleiros, num sítio a que chamam "Cabeço dos Mouros" há um mistério qualquer. Quando eu era rapaz íamos para lá com o gado e lembra-me haver um buraco, onde atirávamos com as pedras e sentíamo-las tilintar lá em baixo. Agora o que lá havia não sei.
Só sei o que me contou um homem, chamado Zé Moleiro. E isso passou-se com ele, já lá vão uns cinquenta anos, ou mais. Ia então esse homem a passar por lá, ao correr do rio, e tocava um animal para beber água. De repente viu uma menina, que estava conforme Deus a botou ao mundo. Estava à borda do rio, a lavar-se e a pentearse com um pente de ouro. O homem passou e disse para ela:
– Bom dia, menina. Que está por aqui a fazer?
– Ando a saber de quem me queira levar.
– Nesse caso vou buscar roupa e levo-a – disse o homem. – E então como é que a menina aparece aqui assim?
– Deixaram-me aqui despida – disse ela.
Puseram-se então a falar um com o outro e dali a nada já se tratavam por tu.
Diz-lhe então ela:
– Tu serás capaz de me vir buscar. Amanhãs às tantas horas passas por aqui e levas-me. Mas não tenhas medo. Vem uma serpente, e na serpente fico eu. Quando subir por ti acima, e te beije, fico mulher como estou agora aqui.
Ele concordou. Mas antes de ir embora botou-lhe as mãos e tirou-lhe o pente de ouro. E levou-o. No dia seguinte, à hora combinada, lá tornou o homem a passar no sítio do "Cabeço dos Mouros". Esteve à espera, à espera, até que lhe veio um monstro, que era uma cobra. E ele quando viu a cobra fugiu-lhe. Teve-lhe medo.
A rapariga veio a ela e chamou por ele, a dizer que lhe tinha dobrado o encanto.
Que estava encantada e que estava lá cheia de ouro, que queria ser desencantada, mas dobrou-se-lhe o encanto.
O homem diz que ainda voltou para trás a ver se a agarrava, só que ela escondeu-se e nunca mais a viu. Esse homem era pobre, e com esse pente que vendeu não sei que riqueza apanhou. Só sei que até à data em que encontrou essa mulher nem tinha sequer uma junta de bois, tinha apenas uma burrita. E dali para diante comprou juntas de bois a uns e outros.

Fonte – versão A: Inf.: Mabilde da Conceição Afonso, 47 anos; rec.: Macedo de Cavaleiros, 1999. Fonte – versão B: Inf.: Manuel Rodrigues, 65 anos; rec.: Arcas, Macedo de Cavaleiros, 2000.

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