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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Mais Quatro Lendas do Concelho de Macedo de Cavaleiros

Lenda de Latães

A aldeia de Latães, situada nas fraldas da serra de Corujas e pertencente à freguesia de Amendoeira, concelho de Macedo de Cavaleiros, tem a origem do seu nome ligada às lendas das lutas entre cristãos e mouros.
Dizem os mais antigos que os mouros dominaram estas terras durante muito tempo. Depois vieram os cristãos e moveram-lhes uma luta feroz até que os expulsaram. Os habitantes serranos, ao saberem desta vitória, ficaram todos satisfeitos e foram atrás do chefe cristão, para lhe dizerem:
– Já que nos livraste dos mouros, vimos pedir-te que dês agora um nome cristão à nossa terra.
O chefe cristão, que estava cheio de pressa para ir em perseguição dos mouros que continuavam a dominar outras terras, não lhes ligou nenhuma. Os serranos foram então embora, mas um ficou a combater ao lado dos cristãos. E como insistisse em pedir um nome cristão para a sua terra, o chefe das tropas acabou por mandá-lo embora dizendo:
– Vai-te embora, que quando lá chegares lá o tães.
O serrano ao chegar ao pé dos seus vizinhos transmitiu-lhes as palavras do chefe cristão. E estes, tanto as repetiram para tentarem entender que nome seria esse, que acabaram por ficar no ouvido com o nome "Laotães", que, depois de muito usado, veio a dar em Latães.

Fonte: Inf.: Ângelo José Morais, 47 anos; rec.: Macedo de Cavaleiros, 1999.

Lenda da Pia dos Mouros

Próximo da aldeia de Ala, no concelho de Macedo de Cavaleiros, há um campo chamado Parafita, onde está aquilo que o povo diz ser a Pia dos Mouros, e onde a tradição também diz haver uma moura encantada. A pia é, afinal, um enorme buraco numa rocha, que tem gravadas duas patas de um cavalo. E quando chove armazena-se ali muita água.
Segundo a tradição, a moura mandava os criados com os cavalos a beber nesse buraco, por isso lhe foi dado o nome de Pia dos Mouros. Ainda hoje há quem recorde uma cantiga que diz:

" – Há em Parafita
uma grande pia,
que os mouros fizeram
p'ra beber a cria"

Também se diz que há lá um tear de ouro e que já lá foram escavar a ver se o encontravam. Só que a determinada altura as ferramentas não conseguem penetrar, e por isso se diz que é impossível encontrá-lo.
Conta-se que essa moura se apaixonou por um jovem cristão. Mas teve sempre de encontrar-se com ele às escondidas do seu pai, que a tinha destinada a casar com um da sua raça. Entretanto, o tempo passou e, quando os mouros iam ser expulsos destas terras, ela encontrou-se com o jovem cristão, dizendo-lhe:
– Eu não posso cá ficar, tu não podes ir comigo, mas também não posso ficar sem ti. Sabes como resolver isto?
– Não sei – responde o jovem.
– Mas sei eu – torna-lhe a moura. – Ora ajuda-me a encher esta pia.
Encheram-na. E no fim disse a moura:
– Esta pia será a nossa cama de núpcias.
Abraçaram-se então, deram um grande beijo e lançaram-se à água, onde morreram afogados. Diz o povo que, mais tarde, se encontraram naquele local os cristãos com os mouros. Os cristãos à procura dele e os mouros à procura dela. E o que viram eles? No fundo da pia os dois jovens estavam ainda de mãos dadas e com os lábios colados um no outro. Ao verem tal, cristãos e mouros resolveram não se guerrear mais.

Fonte: Inf.: Ângelo José Morais, 47 anos; rec.: Macedo de Cavaleiros, 1999.

O moleiro, a moura e a cabra

Conta-se na aldeia de Vila Nova da Rainha, do concelho de Macedo de Cavaleiros, que houve um moleiro daquela povoação que, quando era novo, encontrou uma menina sentada numas fragas que há por ali perto, e que esta estava a pentear-se com um pente de ouro. Ao vê-la, e porque era muito bonita, pôs-se a olhar para ela. E a menina perguntou-lhe:
– Ó moleiro, tu és solteiro?
– Sou - disse ele.
– Então casa comigo, e verás como ficas muito rico. Vem aqui amanhã, para eu te dizer o que tens a fazer.
O moleiro ficou todo contente. E no dia seguinte lá foi. Só que nas mesmas fragas, onde esperava encontrar a menina, encontrou uma cabra. E, como se tal não bastasse, a cabra ainda se pôs a olhar para ele, com olhos de quem lhe queria dizer qualquer coisa. Então o moleiro, como ainda era novo, acagaçou-se todo, e fugiu. E nas suas costas, ouviu a cabra a dizer:
– Ah, maroto, que dobraste o meu encanto!
O moleiro parou, e só então percebeu que aquela voz, embora saísse da boca da cabra, era a voz da menina que lhe prometera casamento. Por isso retrocedeu para ir ter com ela. Mas já nada adiantou. A menina nada quis com ele. E disse-lhe que não voltasse a passar por ali, senão acontecer-lhe-ia uma grande desgraça.
Por isso o moleiro – diz quem o conheceu – nunca mais por lá passou. E dizem ainda que, sempre que ele contava esta história a alguém, acontecia-lhe logo alguma coisa de mal.

Fonte: Inf.: Maria Teresa Afonso Malta, 45 anos; rec.: Macedo de Cavaleiros, 1999.

O Vale dos Namorados

Há um lugar perto da aldeia de Grijó, concelho de Macedo de Cavaleiros, a que chamam Vale dos Namorados e onde se diz que existe um encanto. Esse encanto é uma capelinha em oiro e uma grande cobra que está em cima dela.
Quem quiser quebrar o encanto e ficar com a capelinha tem que ter muita coragem. Deverá ir ao Vale dos Namorados, à meia noite e sozinho, e esperar que lhe apareça a cobra. Esta subir-lhe-á pelo corpo acima e beijará a pessoa na boca. Se não tiver medo, a cobra transformar-se-á numa moura rica, e a pessoa ficará com a capela.
Se a pessoa estremecer com medo, a cobra diz:
– Ah, maldito, dobraste-me o encanto.
E a moura ficará encantada, como cobra, mais cem anos. Já muitas pessoas foram a esse local, mas quando chega a meia noite fogem com medo.

Fonte: Inf.: Belizanda dos Anjos, 95 anos; rec.: Grijó, Macedo de Cavaleiros, 2000.

Coletânea de: Alexandre José Parafita Correia

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