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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Memórias Orais - Ester Andrade

Se não a interpelassem, Ester de Jesus, Simões do pai, Andrade do marido, como faz questão de dizer, era capaz de falar o dia inteiro. Os 92 anos fazem com que já tenha muito que contar do tanto que se lembra. É natural de Ligares mas atualmente vive no Centro Social da aldeia de Poiares.
A vida seguiu sempre sem grandes preocupações do “viver”, o pai era proprietário e a lavoura dava para o sustento da família de uma forma despreocupada, o que à época não era comum. “Nunca segamos mas a lavoura era grande, colhíamos muito trigo, muito centeio e cevada para os animais, o centeio também para os animais e para vender, e o trigo para o gasto de casa”.
A vida “desafogada” não impediu que Ester não tivesse vontade de trabalhar. Queria ceifar como ceifavam as filhas dos outros lavradores mas o pai achava que não tinha jeito. Um dia calhou ir para a ceifa mas um acidente com a foice fez com que lhe ganhasse medo e esse ofício ficaria para sempre esquecido. Aos 25 anos casou e como quase sempre acontecia, Ester seguiu os passos do marido. “Não me casei mais cedo porque não quis. Tinha medo aos homens. Tinha-lhes medo, porque alguns davam porrada, enchiam-nas de filhos e maltratavam-nas”. Ester teve “sorte”, acompanhou o marido para onde quer que ele fosse e não enumera sequer uma queixa. 
Com o marido esteve na Guiné sete anos. Foram sem trabalho e já com um filhos nos braços. O seu último trabalho foi como polícia e numa das vezes que veio de licença a Portugal acabou por não regressar. Os tempos na Guiné eram difíceis de ver e o regresso à terra do marido era o que tinham como certo. Assim foi, e Ester não mais saiu da aldeia de Poiares. O tempo agora passa-o no Centro Social e Paroquial onde as ausências e esse passar de tempo talvez lhe pareçam menores.

Texto: Joana Vargas


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