A vida seguiu sempre sem grandes preocupações do “viver”, o pai era proprietário e a lavoura dava para o sustento da família de uma forma despreocupada, o que à época não era comum. “Nunca segamos mas a lavoura era grande, colhíamos muito trigo, muito centeio e cevada para os animais, o centeio também para os animais e para vender, e o trigo para o gasto de casa”.
A vida “desafogada” não impediu que Ester não tivesse vontade de trabalhar. Queria ceifar como ceifavam as filhas dos outros lavradores mas o pai achava que não tinha jeito. Um dia calhou ir para a ceifa mas um acidente com a foice fez com que lhe ganhasse medo e esse ofício ficaria para sempre esquecido. Aos 25 anos casou e como quase sempre acontecia, Ester seguiu os passos do marido. “Não me casei mais cedo porque não quis. Tinha medo aos homens. Tinha-lhes medo, porque alguns davam porrada, enchiam-nas de filhos e maltratavam-nas”. Ester teve “sorte”, acompanhou o marido para onde quer que ele fosse e não enumera sequer uma queixa.
Com o marido esteve na Guiné sete anos. Foram sem trabalho e já com um filhos nos braços. O seu último trabalho foi como polícia e numa das vezes que veio de licença a Portugal acabou por não regressar. Os tempos na Guiné eram difíceis de ver e o regresso à terra do marido era o que tinham como certo. Assim foi, e Ester não mais saiu da aldeia de Poiares. O tempo agora passa-o no Centro Social e Paroquial onde as ausências e esse passar de tempo talvez lhe pareçam menores.
Texto: Joana Vargas
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