Vilarinho dos Galegos
No termo de Vilarinho dos Galegos, concelho de Mogadouro, quilómetro e meio daquele povo, fica o Castelo dos Mouros, de que ainda há paredes com dois e três metros de altura, restos de muros e fossos em volta. Está situado num alto apenas acessível pelo lado norte, onde a defesa é constituída por larga facha de lajes de meio metro de altura enterradas no solo com a ponta aguda para cima, só mui dificilmente permitindo trânsito entre elas. Pelos outros lados defendem-no naturalmente os despenhadeiros que se precipitam sobre o Douro.
(...) No Castelo dos Mouros está uma moura encantada, que na manhã de São João espaneja ao sol a capa de D. Feliz, que foi governador do Castelo, recamada de campainhas de oiro e prata.
Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Porto, vol. X, 1934, pp. 292-293.
A lenda da fraga do Poio
A certa distância da aldeia de Brunhoso, concelho de Mogadouro, no caminho do Poio, existe uma grande fraga redonda, com uma grande rachadela, e que é chamada a Fraga da Tecedeira, embora também seja conhecida como a Fraga do Poio.
Contam os mais velhos que, em tempos antigos, houve por aquelas bandas uma luta com os mouros, onde foi raptado um príncipe cristão que tinha amores com uma bela princesa moura.
Passado algum tempo, quando os mouros já se tinham ido destas paragens, apareceu ali a jovem, cheia de desgosto, e refugiou-se na dita fraga, na esperança de o príncipe um dia voltar. Esperou semanas, meses e anos. E depois de tanto esperar, resolveu pedir à senhora Miquelina, que ali passava todos os dias, a ver se lhe arranjava um tear para ocupar o tempo.
A senhora Miquelina, como era a tecedeira mais importante da região, arranjou-lhe então um tear. E dizem que ao passar-lho para as mãos, este transformou-se num tear de ouro. O príncipe nunca mais apareceu, mas ela continuou lá a viver e a tecer no seu tear. Diz-se que ainda hoje espera a chegada do príncipe. E a fraga passou a ser conhecida como a Fraga da Tecedeira.
Na aldeia cumpre-se hoje a tradição de as pessoas mais velhas chamarem as mais novas e perguntarem:
– Quereis ouvir uma princesa a tecer?
As crianças encostam a cabeça e a pessoa mais velha dá-lhe com ela na fraga.
Elas ficam então com um zunzum na cabeça, e perguntam-lhes:
– Então, ouvistes?
As crianças dizem que sim. Mas, quer tenham ouvido ou não, aprendem pelo menos que nem em todas as fantasias se pode acreditar. E amanhã, serão elas a transmitir essa mesma lição a outros.
Fonte: Inf.: Maria Zita Baptista, 50 anos; rec.: Brunhoso, Mogadouro, 2001.
A lenda de Vale da Madre
Conta-se que os mouros estavam na serra de Mogadouro e que os cristãos correram atrás deles, indo encontrar-se num vale onde travaram uma grande batalha.
Aí os cristãos, no meio de grande aflição, pediram ajuda a Nossa Senhora, prometendo dar àquele lugar o nome de Vale da Madre de Deus. Como ganharam a batalha, cumpriram a promessa e assim nasceu o nome desta terra.
Fonte: Inf.: Maria Eugénia Mesquita Cabanal, 46 anos; rec.: Mogadouro, 2001.
A Fonte do Ouro
Há em Santo André, na freguesia de Valverde, Mogadouro, uma fonte onde as mulheres costumavam ir lavar a roupa. É conhecida como a Fonte do Ouro e diz o povo que está lá uma moura encantada.
Conta-se também que um dia uma mulher estava a lavar a roupa naquela fonte quando se lhe ardulhou (44) uma corrente de ouro ao botão de uma camisa. Ela começou então a puxar, a puxar, e a dada altura, sentindo-se já cansada, disse:
– Valha-me Deus!
Ao dizer tal, a corrente desapareceu. A mulher ficou muito desiludida e contou no povo o sucedido. Por isso a fonte passou a chamar-se "Fonte do Ouro".
(44) Regionalismo transmontano que é sinónimo de “enrodilhou”.
Fonte: Inf.: Lídia Martins, 71 anos; rec.: Valverde, Mogadouro, 2001.
Lenda do Poço do Dourado
Na povoação de Zava, do concelho de Mogadouro, há um espinhaço montanhoso que é conhecido por "Cimas de Mogadouro". E neste local está uma gruta a que o povo chama "Poço Dourado", a propósito de uma lenda muito antiga.
Conta-se que uma jovem pastora, enquanto o gado bebia, sentou-se na borda do poço a descansar e, de repente, viu reluzir na água um cordão de ouro. A pastora apressou-se a volteá-lo na mão, só que dobou, dobou, e o cordão nunca mais acabava.
E como o peso já era muito, resolve então cortar o cordão com um calhau afiado, dizendo:
– Para um par de meias já chega.
E nesse momento, ouviu uma voz desconhecida que lhe disse:
– Dobraste o meu encanto e fizeste a tua desgraça.
Era uma moura que ali estava encantada. Aturdida, a pastora olhou para um lado e outro e não viu ninguém. E nesse instante, todo o ouro desapareceu.
Fonte: Inf.: António Nascimento Moreiras, 43 anos; rec.: Mogadouro, 1999.
Alexandre Parafita
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