Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Memórias Orais - Maria Júlia Martins

Chama-se Maria Júlia Martins mas a idade já não a tem bem certa. Oitenta e oito, acha, pela comparação com a amiga Amélia. Sabe que têm os mesmos anos. Nasceu em Freixo de Espada à Cinta ela e mais sete irmãos. As agruras da vida fizeram com que Maria Júlia só conhecesse o trabalho. Assim sabia que as dificuldades seriam menores. “Fome nunca passamos mas a minha vida foi sempre a trabalhar, puseram-me logo de pequenina a guardar ovelhas e cabras e a segar o pão, a cevada, andar na eira a varrer e com os burros a trilhar o pão , foi a minha vida...”
Teve quatro filhos, uma delas nasceu por suas mãos. “Vieram-me as dores de noite e tive aquela menina, até está casada na Espanha e lá a compus e lá viveu, eu sozinha, mais ninguém. Trabalhei muito a criar aqueles filhos e ia a coser para Poiares, depois o senhor Almirante fez-me um forro mas ia a coser da quinta a Poiares a cavalo de um burrinho, para cima ia a cavalo, para baixo vinha carregado e eu a pé, pelo cabeço. Pode crer naquilo que eu lhe digo”.
É do tempo em que a água em Freixo era escassa e as mulheres iam com os cântaros à fonte à espera do “fiozinho” para governar a casa. “As mulheres até se batiam, porque queriam encher e a água era pouca percebe. Punham à vez os cântaros mas depois os ricos eram muitos e também não havia água, quem tinha mais água era o Senhor Doutor Francisco que a trazia de um prédio dele para casa mas os outros batiam-se, pintavam a sarameca. A Guarda Republicana lá ia muitas vezes a acomodar aquela gente. Íamos à fonte no Carril, há lá uma fonte onde está uma ponte, não era laje essa era assim lisinha e tinha uma pocinha e de manhã cedo alevantavamo-nos e íamos com o copo e com o cântaro a apanhar aquela gotinha de água”. 
“Agora a vida é outra”, diz, os tempos em que andava à chuva a trabalhar e muitas vezes descalça já estão longe ainda que, a cada dizer, bem presentes na memória.

Texto: Joana Vargas


Sem comentários:

Enviar um comentário