Os jovens têm sido esquecidos pelos programas de apoio, porque tudo, até a educação, os leva para fora as regiões de baixa densidade populacional.
Opinião de Henrique da Costa Ferreira, que tem desenvolvido pesquisas sobre a relação entre a demografia e a educação no último século, pelo distrito de Bragança.
Têm havido programas de apoio para muitas coisas, mas têm sido esquecidos os jovens. Porque a escola dá-lhes melhor formação académica, mas não têm sido integrados em programas de geração de estratégias para construírem uma situação económica que lhes permita ficar cá. E mesmo a montante disto, há uma realidade. Os curso têm sido demasiado académicos e pouco voltados para a região, para o estudo dos problemas locais.
Desse ponto de vista, a formação académica motiva os jovens mais facilmente para saírem, não para pensarem no regional e local.
Alguns concelhos, avança Henrique da Costa Ferreira, estarão mortos, do ponto de vista demográfico, com os idosos com idades acima dos 65 anos a ultrapassar em larga escala os mais novos.
E o antigo professor universitário, que lecionou nas áreas das ciências da educação, lembra que sem jovens a comunidade fica sem sustento. Diz ainda que o território não vai ficar deserto, mesmo que os habitantes nativos vão embora.
E além de não temos quem trabalhe para sustentar o futuro também não tem quem trabalhe para sustentar a própria comunidade, que é sustentável na medida em que é auto-defensável. Uma sociedade sem jovens, é vista como não sendo auto-defensável.
E ainda há dimensão, que é a de que se os jovens vão embora, o território, há de haver um momento, não fica deserto. Hão de vir outro. E esses outros hão de arranjar conflitos porque trazem novas culturas, novas etnias, novas formas de ver a realidade. E essas formas vão conflituar com a cultura existente. E como as pessoas que a representam já não têm juventude, já não são capazes de a defender.
Mudanças radicais que podem estar, portanto, a caminho, considera Henrique da Costa Ferreira.
O que está a acontecer, por exemplo, ao nível do roubo de terras. As pessoas mudam os marcos. Os donos não estão cá, nem sequer se apercebem que perderam as terras. E isto é apenas uma das faces deste iceberg. Porque a seguir, vem outra. Já não existe, sequer, quem roube terras, mas alguém chega e diz ‘esta terra não está trabalhada, por isso é minha e vou registá-la em meu nome, e vou trabalhá-la’.
Estamos em perspectivas de uma mudança radical, nos costumes, nas culturas, quer na forma de nos relacionarmos com o contexto regional e com a terra.
Algumas considerações do ex-professor do IPB, Henrique da Costa Ferreira, membro da Associação Terras Quentes, e que foi um dos oradores nas XV Jornadas da Primavera promovidas pela coletividade, onde se focou na demografia e na educação do concelho de Macedo de Cavaleiros entre 1820 até 2011.
Escrito por ONDA LIVRE
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