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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Da vergonha à Recuperação da Honra na Política

Salazar chegou ao poder cavalgando o medo da desordem, da incúria, da corrupção e do correlativo desastre orçamental, aparecendo como salvador da honra e garante da dignidade do país a que impôs, com a conivência de interesses político-económicos retrógrados, décadas de apagada e vil tristeza.
Pode parecer obtuso vir agora com esta memória para o tempo dito radioso do século de todas as promessas de harmonia e felicidade, a revelar-se fonte de misérias e horrores que quase nos deixam sem esperança em amanhãs nenhuns, no mundo todo e neste jardim de cinzas a meter medo ao próprio oceano. Mas não é, porque não se repetindo a história, a verdade é que os humanos têm uma propensão mórbida para recalcitrar, cada um e as comunidades com eles, numa vertigem de hedonismo que desdenha da ponderação e do bom senso que a experiência aconselha.
Com nove séculos de história a contemplar-nos, vemo-nos enredados em vergonhas que desanimam os entusiastas da democracia e ajudam ao crescimento do desleixo, até que inevitáveis tragédias tragam a dor imensa da negação de qualquer dignidade à nossa passagem por este mundo.
É penoso assistir quotidianamente à expressão da cupidez insana, mas arrogante, de quem chegou a conduzir os destinos do país, mas encarou a função como uma criança caprichosa, sem tino nem horizonte, qual narciso deleitado num pântano de podridão.
Ouvíramos falar de Calígula e de Nero em tempos longínquos, mas o seu poder não era propriamente resultante de processos democráticos. Não reconhecíamos como possível tal erupção sulfurosa nos dias das nossas vidas.
No entanto, a realidade parece não querer dar-nos razão. De qualquer modo, só teremos duas escolhas: a resignação ou o aprofundamento da cidadania, contribuindo para a elevação ética e moral das próximas gerações, que precisam de atenção aguda, mas serena, aos movimentos na realidade política, para não se deixarem enrodilhar em iniquidades que podem reconduzir-nos à miserável condição de bestas.
Se assim fosse, abrir-se-iam as portas ao surgimento de novíssimos redentores, vindos dos infernos, para acabar de vez com a obra imensa que tem sido o percurso civilizacional. A vida democrática comporta riscos que não se podem ignorar, mas também nos tem dado grandes alegrias, com todos os efeitos na dignidade, na construção do conhecimento, nos avanços técnicos e científicos que nos entusiasmam todos os dias.
Valerá a pena olhar para o outro lado da política, onde poderão surgir protagonistas em condições de apaziguar esta moinha que nos rói a alma e nos faz ficar de braços caídos de desilusão. Enquanto deixarmos que as decisões nos passem ao lado, não pedindo contas aos que elegemos e aceitarmos os ditames da obscuridade dos bastidores, estaremos a contribuir para a nossa própria desgraça.
Não é razoável queixarmo-nos das vergonhas da política, porque os políticos estão lá porque nós consentimos, só se mantêm se quisermos e só serão malevolentes se nós formos parvos.


Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com

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