Foto: Hugo Santos |
“Os veados devoram-nos tudo. Alguém nos ajude, porque assim não conseguimos. Este ano notamos que há o triplo de animais perto da aldeia em comparação com os outros anos”, queixa-se Manuel Inácio, um habitante da aldeia de Deilão, perto da fronteira com Espanha.
Com a falta de água, os animais vão-se aproximando das povoações onde encontram tanques. A somar a isso, pelo menos no caso de Deilão, está o facto de, nas aldeias vizinhas, como Rio de Onor, o despovoamento ter deixado os campos por cultivar. “Aproximam-se da aldeia, onde há sementeiras feitas, onde têm comida. As aldeias vizinhas já não semeiam. Eles têm de comer e aproximam-se”, diz Manuel Inácio, que tem 24 cabeças de gado.
Os veados destroem sobretudo plantações de milho, que nesta altura é praticamente o único alimento para o gado, até porque os pastos estão secos. Mas também destroem plantações de castanheiros e até algumas hortas. “Depois de segarmos os lameiros e os centeios, que estavam mais longe, aproximaram-se do povo. Eles vêm à água aos tanques e fontanários. As vinhas estão todas devoradas. Arrancam as batatas com as patas, destroem tudo”, conta Ernesto Marrão, que também já perdeu milheirais.
Orlando Dias ficou sem dezenas de castanheiros novos, já enxertados e prontos a produzir. “Vieram os veados e partiram-nos. Já não há hipótese de os recuperar. Este ano já foram uns 30 ou 40. Andamos a investir nisto, que ainda dá alguma coisa, vem a bicharada e acaba com eles”, lamenta.
Os agricultores têm feito participações ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que paga os prejuízos ao valor de mercado. Mas os produtores consideram que é insuficiente pois, no caso dos castanheiros, por exemplo, não é contabilizado o valor gasto na plantação e enxertia. “O valor que dão não é suficiente para pagar a árvore, máquina, enxertador”, frisa.
José Morais queixa-se do mesmo. “Às vezes dão-nos dois e três euros por cada árvore. É fazer pouco da gente”, acusa.
Fonte do ICNF admite que este ano o número de ocorrências tem estado a aumentar “devido à situação de seca”. Por escrito, o Gabinete de Comunicação do ICNF explica que, no caso dos castanheiros, são pagos valores entre os 12 e os 18 euros por árvores, consoante a idade e a perda de produção.
Mas o ICNF explica ainda que “a maior parte do território cinegético do distrito de Bragança é gerido por entidades titulares de zonas de caça (associativas, turísticas e municipais), as quais poderão ser responsabilizadas pelos prejuízos em causa caso não tenham tomado as necessárias medidas, incluindo o pedido de correcção de densidade das espécies cinegéticas”.
No entanto, só no “final do ano” serão apurados todos os prejuízos eventualmente causados “dado ainda não estar finalizada a época de colheitas de diversas culturas”.
O ICNF garante, ainda, que “têm vindo a ser realizadas diversas acções no âmbito das medidas de gestão e de exploração cinegética previstas no Plano de Gestão e Exploração Cinegética da ZCN da Lombada, sendo de destacar a realização de acções de maneio de habitat, através de desmatações dirigidas para a melhoria do habitat de cervídeos, da defesa do território contra a ocorrência de fogos florestais, bem como de conservação de pastagens, através do seu rejuvenescimento e bloqueio do avanço de espécies lenhosas pela acção do corte da vegetação envelhecida, acções que contribuem para minorar o fenómeno em causa”.
António Rodrigues
Jornal Público
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