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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Manufacturas de cortiça nas Memórias Arqueológico-Históricas

Clemente Menéres
Pelos anos de 1890 montou Valentim Guerra, naturalizado cidadão português, uma fábrica de cortiça em Sendim, concelho de Miranda do Douro.
Consta de sete máquinas de fazer rolhas que emprega em média diária trinta operários, sendo os seus produtos consumidos no reino e também exportados para Espanha, França e Inglaterra.
A exploração das cortiças no distrito de Bragança iniciou-se em 1874 com a casual chegada de Clemente Joaquim da Fonseca Guimarães Menéres (natural da Vila da Feira, comerciante no Porto desde 1860) à freguesia de Romeu, então no concelho de Macedo de Cavaleiros e hoje, por seu intermédio, no de Mirandela. As seculares florestas de sobreiros existentes na vastíssima zona conhecida por Quadraçal, tendo adstrita em grande parte ainda a cortiça primária ou brava, vergavam ao machado semiselvagem para fogueiras dos alambiques, embora na região nem todos ignorassem as aplicações da cortiça; mas as dificuldades da exploração, a subdivisão infinita das florestas, o desconhecimento absoluto dos processos silvícolas,então ainda incipientes no próprio Alentejo, onde a cultura do sobreiro buscava expandir-se, a carência de meios de transporte, o empate de avultados capitais na expectativa de uma dezena de anos até à tiragem das cortiças mansas, aptas para a indústria rolheira, eram outros tantos óbices insuperáveis à valorização desta grande fonte de receita.
Clemente Menéres, que aí chegara, como dizemos,em 1874, à cata de cortiças para exportação, concebe de relance o plano de a explorar; e ele, o modesto negociante de 1866, já então dispondo de crédito, por assim dizer, ilimitado, transforma-se num silvicultor arrojado e competente.
Inicia as compras de montados; recruta pessoal habilitado do Alentejo; estabelece clareiras nas matas para evitar incêndios; arranca as urzes, as estevas, que sugam o solo; limpa as árvores da cortiça virgem, dá-lhes vida, ar, luz, labor aos habitantes da região e a todos exemplo de quanto pode a iniciativa operosa e inteligente.
Entretanto, com a cortiça mansa de alguns sobreiros, descamisados pelos primitivos proprietários para cortiços de abelhas, pode logo dar princípio à laboração da fábrica que montou em Jerusalém do Romeu, no antigo lugar do Carriço, à margem da estrada real. Era Carriço, modesto fabricante de panelas (de barro), e único morador do local.
Compreende-se que, dada a carestia dos transportes, então nos pré-históricos carros-matos, o longo percurso de Romeu ao Pinhão, não consentia o preparo da cortiça em pranchas, de muito mais fácil venda nos países do Oriente Europeu e até nas Repúblicas da Prata, e por isso apenas rolhas se manufacturavam na fábrica
O rompimento da linha férrea do Tua a Mirandela, pronta para a circulação a 29 de Setembro de 1887, no que Clemente Menéres empregou grandes diligências, trouxe espíritos novos a esta indústria, e nesse mesmo ano a fábrica de rolhas de Jerusalém do Romeu foi mudada para o Porto para o extinto convento de Monchique, arrematado em 1872 por Clemente Menéres, onde perdura, se bem que em Mirandela mantém ainda uma fábrica de rolhas dos aparos das pranchas com vinte e quatro máquinas de quadrar cortiça, de fazer rolhas e de contar, que dá actividade a vinte famílias.
As propriedades do Quadraçal têm vinte e três guardas florestais em diversos locais e compreendem passante de quinhentos mil sobreiros.
No tomo V desta obra, ao tratar dos bragançanos ilustres, daremos completas notícias biográficas de Clemente Menéres, em razão das suas benemerências em prol da indústria e da instrução na nossa terra; bem como de seu filho, conselheiro Alfredo Menéres, que igualmente o merece pelos mesmos títulos e pela importante monografia sobre Carvalhais, em via de conclusão.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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