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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Padre Francisco Manuel Vaz

Nasceu em Bragança a 21 de Junho de 1852 e aqui faleceu a 9 de Setembro de 1918. Era filho de Manuel António Vaz e de D. Isabel Maria da Conceição. Cursou as aulas do liceu em Bragança e depois em Cernache do Bonjardim, completando os estudos teológicos
em que obteve accessits.
Regeu a cadeira de latim e latinidade desde 1874 a 1875 em Cernache, sendo ainda estudante de teologia, no impedimento do professor efectivo padre João Domingos Fernandes. Concluído o curso teológico em 1874 e ordenado presbítero em Maio de 1875, foi missionar para a África, de onde, concluído o tempo de missionário a 22 de Março de 1886, voltou a Portugal, vindo residir para Bragança.
Por decreto de 17 de Abril de 1890 foi despachado professor para as disciplinas do 3.º grupo (geografia, história e filosofia) do liceu de Bragança, depois de brilhantes provas dadas em concurso público, regendo já interinamente desde 1886 as cadeiras de física, química e história natural no Seminário Diocesano, para onde, em 1 de Outubro de 1889, foi nomeado professor efectivo.
Também desde 1880 a 1885 foi professor de preparatórios no colégio de Cernache do Bonjardim.
Traduziu do francês, além de alguns fascículos de A obra da Santa Infância da Propaganda da Fé, publicados em Lisboa, quando estava em Sernache, mais o seguinte:

Os Esplendores da Fé – Acordo perfeito da Revelação e da Ciência da Fé e da Razão pelo Reverendo Moigno. Porto, 1889-1891, Tip. de António Dourado. Quatro vols., 8.º francês, de 209 págs. e 157 de apêndice e índice (vol. I); 756 págs. e 134 de apêndice e uma de erratas (vol. II); 702 págs. e 109 de apêndice e índice e uma de erratas (III), e 650 (IV). Além disso, o primeiro volume compreende mais XXIII págs., parte numeradas e parte sem numeração, onde vem a dedicatória do tradutor a três dos seus companheiros de missão, um dos quais foi o finado bispo do Porto, D. António José de Sousa Barroso. Neste trabalho ajuntou o autor ao texto notas de muito merecimento.
Estudos filosóficos. Porto, 1897, Tip. de José da Silva Mendonça. Dois vols., 8.º francês, de 463-508 págs. e em cada volume uma de erratas.
Reforma da instrução secundária. Porto, Tip. de José da Silva Mendonça, 1900. 8.º de 29 págs.
O Ano Cristão ou Exercícios devotos para todos os dias do ano pelo Padre João Croiset da Companhia de Jesus, trasladado a castelhano e adicionado com mais algumas vidas dos santos e com o Martirológio pelos Padres José Francisco de Isla da mesma Companhia e D. Justo Petano. Porto, 1886, Empresa de Obras Populares Ilustradas. 2.º vol., de IX (inumeradas)-738 pág., in. 4.º – 3.º vol. Porto, 1887. Editor António Dourado. 4.º de VI (inumeradas)-624 págs. – 4.º vol. Porto, 1888. António Dourado, Editor. 4.º de 571 págs. 5.º vol. Porto, 1889. O mesmo editor. 4.º de 537 págs. O primeiro volume foi traduzido por Dias Freitas, professor no colégio da Formiga.
Jubileu sacerdotal de Leão XIII – Discurso proferido na cidade de Bragança por ocasião dos festejos para solenizar naquela diocese o quinquagésimo aniversário da ordenação sacerdotal de Sua Santidade Leão XIII. Porto, Tip. de A Palavra, 1887. 16.º de 31 págs.
Anuário do Liceu Nacional de Bragança – Ano escolar de 1909-1910. Porto, Tip. Mendonça, 1910. 8.º de 61 págs. Respeita à sua gerência de reitor no mesmo estabelecimento de ensino.

Foi o padre Francisco Vaz o fundador em Bragança da Conferência de S. Vicente de Paulo, que tantos benefícios tem dispensado à pobreza envergonhada da terra e é ainda hoje o seu sustentáculo (ver o Nordeste de 22 de Março de 1899), e a sua caridade levava-o a ir um dia por semana a ensinar a doutrina cristã aos presos da cadeia.
Colaborou na Gazeta de Bragança, Nordeste, Novidades e O Primeiro de Janeiro e em várias outras publicações.
Francisco Manuel Vaz, apesar de estudar preparatórios no liceu de Bragança e ainda frequentar teologia no seminário da mesma diocese, foi concluir esta no colégio de Cernache, onde se ordenou de presbítero, e sendo mandado para a missão de Moçambique, lá se apresentou em princípios de Outubro de 1875. Ali foi nomeado examinador sinodal e capelão do hospital, ao tempo militar, da mesma cidade, onde também foi professor de ensino livre e catequista dos presos.
Mas sucedendo enterrar-se um mação no cemitério público, Francisco Vaz protestou e reclamou do bispo as providências que os cânones recomendam ou, pelo menos, a declaração de que o cemitério ficava poluto, encontrou como resultado ser desterrado dentro de quinze dias para Chiloane, onde aportou depois de tormentosa viagem, e dedicou-se ao ensino da catequese, abrindo ao mesmo tempo escola mista de instrução primária, que chegou a ser frequentada por setenta e tantos alunos, «o que lhe mereceu elogios no Boletim Provincial pelo muito zelo empregado na instrucção».
Após dois anos e alguns meses de paroquialidade em Chiloane, foi transferido para Inhambane, onde continuou as mesmas ocupações.
O denodo com que ali atacou Caldas Xavier, encarregado das obras públicas, que dera a igreja onde o padre Vaz devia celebrar actos do culto como perigosa para isso, por causa de uma fenda que abrira no arco cruzeiro, facto em que ele via intenções de o incomodar, pois não havia outra igreja a menos de dois quilómetros e a fenda não ameaçava ruína iminente, valeu-lhe certa popularidade posta em relevo pelo seu bom comportamento e notáveis qualidades de jornalista, evidenciadas num periódico de Quelimane, onde tundia Caldas Xavier e outros com uma energia e desassombro tais que aquelas regiões, acostumadas a governos despóticos, não estavam habituadas a ver.
O padre Francisco Vaz aproveitou esta popularidade para apresentar a sua candidatura a deputado por aquele círculo eleitoral, que a vingar seria um benefício para a região, mas o governador, F.Maria da Cunha, conseguiu a sua transferência imediata para Moçambique, onde aportou a 27 de Agosto de 1885, depois de uma viagem de tormentas, privações, fome e frio, à qual, para que nada faltasse de horroroso, veio juntar-se o ciclone de 16 de Janeiro de 1880.
Em Abril deste ano deixou Moçambique e veio para Portugal, sendo pelo superior do colégio, bispo Martens Ferrão, nomeado professor de preparatórios, onde esteve até Julho de 1885. Entretanto, a 31 de Maio deste ano, tomara posse como superior daquele estabelecimento de ensino o doutor-cónego António José Boavida, que iniciou o seu governo por uma série de contrariedades ou, melhor dizendo, perseguições, tendentes a desgostar os bragançanos que há muito haviam honrado a casa como membros do seu corpo docente. Francisco Vaz, apesar de só lhe faltarem seis meses incompletos para concluir o tempo da missão, teve de voltar a ela e indo para S. Tomé exerceu ali o cargo de vigário capitular, onde também teve desinteligências com o governador Custódio de Borja, que, não podendo suportar o zelo com que o padre Vaz olhava pelas coisas e interesses eclesiásticos, conseguiu que o ministro da Marinha descarregasse sobre ele uma portaria de censura, que em vista da atitude patriótica que Vaz tomou na questão do protectorado de Daomé, vergonhosa farsa da nossa incompetência administrativa colonial, podemos considerá-la de suma honra.
Como houvesse falta de clero em S. Tomé, exerceu ali o cargo de pároco e, desejando ser útil à instrução, abriu na sua residência uma escola que regeu gratuitamente.
A 22 de Março de 1886 saiu de S. Tomé e voltou a Portugal, tendo findado o seu tempo de missionário, cujo desempenho naquela província foi elogiado por uma portaria do seu superior hierárquico, na qual se lê: «O louvamos pelo interesse e zelo que ali tomou pelas cousas da religião e o recommendamos aos Ex.mos e Rev.mos Snrs. Prelados Diocesanos como sacerdote de bons costumes, de probidade e intelligencia».

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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