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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 9 de março de 2018

Arte sacra. “Existimos para dar. Não somos uma empresa”

Centro de Conservação e Restauro de Arte Sacra da diocese de Bragança-Miranda faz três anos, no sábado. O lema é preservar e conservar para que “aquilo que existe desde há 500 anos, possa existir mais 500”.
Foto: Olimpia Mairos/RR
Nasceu da vontade de assegurar uma resposta “transversal e pluridisciplinar” para conservação e inventariação do património religioso e, nestes três anos de atividade, o Centro de Conservação e Restauro de Arte Sacra da diocese de Bragança-Miranda, com sede em Sendim, já restaurou centenas de peças de arte sacra.

“O balanço é muito positivo, mas ainda não chegamos onde queremos chegar, ainda há muito trabalho para fazer, ainda há muito caminho para percorrer”, diz a diretora do centro, Lília Pereira da Silva, à Renascença.

A responsável realça o muito trabalho realizado “em comunhão com os párocos, unidades pastorais e com o apoio do bispo diocesano”, mas considera que “ainda há muito por fazer, ainda há muito por formar”.

Formar as pessoas para a necessidade de conservação e restauro, mas também para as boas práticas de preservação do património. “É preciso falar também da conservação preventiva e esse é um trabalho que é importante o centro fazer e que tem feito”, explica a técnica.

E há pequenas coisas que se podem fazer no dia-a-dia para dar mais vida, ou seja maior longevidade ao património e às peças de arte, “coisas tão simples como não usar vassouras e usar aspirador, não colocar flores nos altares e colocá-las em floreiras no chão, junto aos altares, porque as madeiras sofrem muito com as humidades”, concretiza Lília Pereira da Silva.

Em termos de trabalho efetivo, o maior número de intervenções por parte do centro tem sido em talha, altares e em escultura, mas regista-se também conservação em pintura mural, pintura em tela e pintura sobre madeira. “Tudo o que vai aparecendo, vamos fazendo e sempre com técnicos especializados”, assegura.

Pintura mural do século XVI. Foto: Olímpia Mairos/RR
Brasil pede colaboração e intercâmbio

O trabalho que é desenvolvido em Sendim já ultrapassou fronteiras. Um dos primeiros técnicos do centro partiu para o Algarve, onde a diocese vai criar um projeto do género que vai ter associado um museu. E do Brasil têm surgido vários pedidos de colaboração e intercâmbio ao centro da diocese transmontana.

O centro de conservação e restauro da diocese de Bragança-Miranda tem como função principal recuperar e preservar o extenso património da Igreja diocesana. Surgiu para dar resposta aos problemas e às necessidades do património cultural religioso.

“É o rosto da comissão de arte sacra da diocese e só intervencionamos património que está sob a nossa tutela, que são bens eclesiásticos”, explica o padre António Pires.

O presidente da Comissão de Arte Sacra e Bens Culturais da diocese de Bragança-Miranda lembra que “o centro nasceu para a diocese, dado existir uma lacuna nesta vertente, conservação e restauro, o que dava azo a intervenções feitas por pessoas sem qualificações e que muitas vezes deixaram o património mais pobre, destruído ou descaracterizado”.

“A diocese consegue absorver este centro, ou seja, o centro não terá capacidade para intervencionar todo o património da diocese”, realça o sacerdote, mostrando abertura em ajudar outras dioceses, “sempre numa linha de comunhão e numa linha eclesial”.

O padre António Pires sublinha também que “a comissão de arte sacra não quer dominar nada nem ninguém, quer é simplesmente servir, ser uma a mais-valia para as comunidades, para todos se sentirem satisfeitos ao ver o resultado das intervenções”.

“O fim último não é o lucro”

O centro de conservação e restauro tem na sua equipa quatro especialistas, mas quando surge algum trabalho para o qual não dispõe de técnicos qualificados, recorre a conservadores seniores que estão associados à estrutura.

“Com este projeto inédito em Portugal, conseguimos agregar à nossa volta um conjunto de técnicos especializados que trabalham pontualmente connosco conforme o que nos vai aparecendo”, frisa.

Economicamente não é fácil suportar um projeto deste género, mas os seus responsáveis lembram que “o fim último não é o lucro”.

“Nós não somos uma empresa, somos um serviço diocesano ao serviço da diocese. Existimos para dar e para dar o que temos de melhor, que são as nossas capacidades e conhecimento técnico, para melhor cuidar o património que é de todos”, refere Lília Pereira da Silva.

A diretora do centro de conservação e restauro reconhece, no entanto, que “não é fácil, porque os técnicos têm que ser pagos e os materiais para fazer as obras são caros”.

Foto: Olímpia Mairos/RR
Preservar para que “aquilo que existe desde há 500 anos, possa existir mais 500 anos”

A diretora do centro de conservação e restauro da diocese de Bragança-Miranda, refere que intervencionar e preservar património “é um trabalho meticuloso, para o qual é preciso muito amor, muita paciência, gosto e prazer”.

Porém, na região não há técnicos qualificados, é necessário recrutá-los noutras partes do país e, por isso, a diretora do centro entende que é necessário dar a essas pessoas condições de vida para se instalarem no Nordeste Transmontano e apela à sensibilidade dos autarcas.

“Nós precisamos de mais apoio a nível estatal, municipal e intermunicipal para que possamos crescer e possamos conservar ainda mais e melhor, com melhores condições”, realça.

Joana Rodrigues, 27 anos, licenciada em conservação e restauro, veio de Fátima. Encontra-se em estágio profissional, mas não esconde o desejo de quando o concluir ficar por terras de Sendim.

“Quando terminei o curso, como todos os recém-licenciados, na procura de emprego foi a oportunidade que surgiu e, além disso, é uma zona do país que eu considero rica a nível de património”, conta à Renascença.

Joana considera esta experiência “muito boa, tanto a nível de aprendizagem como a nível de adaptação ao centro e à região”. Apesar de estar longe da família, sente-se “realizada a todos os níveis” e afirma que “a distância torna-se curta, quando se faz o que se gosta”.

“As minhas mãos têm tocado património valiosíssimo e isso nunca ninguém nos tira. É daquelas memórias que vão permanecer”, remata.

O principal objetivo de Joana, como diz, é “trabalhar e lutar todos os dias para ficar no centro, após a conclusão do estágio”.

Pedro Miguel Felisberto, 35 anos, veio de Coimbra. Licenciado em conservação e restauro, está também a fazer estágio profissional no centro de conservação e restauro. “Na nossa profissão, a salvaguarda do património é a tarefa mais importante. Gosto muito de cá estar e do trabalho que estamos a desenvolver”, conta.

Pedro gosta especialmente de escultura e retabulística e o amor à arte é tão grande que, “com as condições que existem no centro, gostaria muito de ficar”.

Joana Afonso, 32 anos, é de Bragança. Licenciada e com o mestrado em conservação e restauro assumiu recentemente a direção de obras. Está no centro há mais de dois anos, tem trabalhado “principalmente em termos de altares, escultura e pintura e, mais recentemente, em pintura mural”. A experiência “está a ser fantástica”.

“É uma área muito diferente da minha formação, que é pintura de cavalete e escultura. E tenho muito prazer em estar a trabalhar com o grande especialista, Joaquim Caetano”.

“É preciso acarinhar estas pessoas e dar-lhe espaço, dar-lhe qualidade”, defende Lília Pereira da Silva, recordando que o lema [do centro] e pelo qual se batem todos os dias é “a preservação do património por pessoas qualificadas, para que aquilo que existe desde há 500 anos, possa existir, pelo menos, mais 500 anos”.

Olímpia Mairos
Rádio Renascença

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