Foto: Olimpia Mairos/RR |
“O balanço é muito positivo, mas ainda não chegamos onde queremos chegar, ainda há muito trabalho para fazer, ainda há muito caminho para percorrer”, diz a diretora do centro, Lília Pereira da Silva, à Renascença.
A responsável realça o muito trabalho realizado “em comunhão com os párocos, unidades pastorais e com o apoio do bispo diocesano”, mas considera que “ainda há muito por fazer, ainda há muito por formar”.
Formar as pessoas para a necessidade de conservação e restauro, mas também para as boas práticas de preservação do património. “É preciso falar também da conservação preventiva e esse é um trabalho que é importante o centro fazer e que tem feito”, explica a técnica.
E há pequenas coisas que se podem fazer no dia-a-dia para dar mais vida, ou seja maior longevidade ao património e às peças de arte, “coisas tão simples como não usar vassouras e usar aspirador, não colocar flores nos altares e colocá-las em floreiras no chão, junto aos altares, porque as madeiras sofrem muito com as humidades”, concretiza Lília Pereira da Silva.
Em termos de trabalho efetivo, o maior número de intervenções por parte do centro tem sido em talha, altares e em escultura, mas regista-se também conservação em pintura mural, pintura em tela e pintura sobre madeira. “Tudo o que vai aparecendo, vamos fazendo e sempre com técnicos especializados”, assegura.
Pintura mural do século XVI. Foto: Olímpia Mairos/RR |
O trabalho que é desenvolvido em Sendim já ultrapassou fronteiras. Um dos primeiros técnicos do centro partiu para o Algarve, onde a diocese vai criar um projeto do género que vai ter associado um museu. E do Brasil têm surgido vários pedidos de colaboração e intercâmbio ao centro da diocese transmontana.
O centro de conservação e restauro da diocese de Bragança-Miranda tem como função principal recuperar e preservar o extenso património da Igreja diocesana. Surgiu para dar resposta aos problemas e às necessidades do património cultural religioso.
“É o rosto da comissão de arte sacra da diocese e só intervencionamos património que está sob a nossa tutela, que são bens eclesiásticos”, explica o padre António Pires.
O presidente da Comissão de Arte Sacra e Bens Culturais da diocese de Bragança-Miranda lembra que “o centro nasceu para a diocese, dado existir uma lacuna nesta vertente, conservação e restauro, o que dava azo a intervenções feitas por pessoas sem qualificações e que muitas vezes deixaram o património mais pobre, destruído ou descaracterizado”.
“A diocese consegue absorver este centro, ou seja, o centro não terá capacidade para intervencionar todo o património da diocese”, realça o sacerdote, mostrando abertura em ajudar outras dioceses, “sempre numa linha de comunhão e numa linha eclesial”.
O padre António Pires sublinha também que “a comissão de arte sacra não quer dominar nada nem ninguém, quer é simplesmente servir, ser uma a mais-valia para as comunidades, para todos se sentirem satisfeitos ao ver o resultado das intervenções”.
“O fim último não é o lucro”
O centro de conservação e restauro tem na sua equipa quatro especialistas, mas quando surge algum trabalho para o qual não dispõe de técnicos qualificados, recorre a conservadores seniores que estão associados à estrutura.
“Com este projeto inédito em Portugal, conseguimos agregar à nossa volta um conjunto de técnicos especializados que trabalham pontualmente connosco conforme o que nos vai aparecendo”, frisa.
Economicamente não é fácil suportar um projeto deste género, mas os seus responsáveis lembram que “o fim último não é o lucro”.
“Nós não somos uma empresa, somos um serviço diocesano ao serviço da diocese. Existimos para dar e para dar o que temos de melhor, que são as nossas capacidades e conhecimento técnico, para melhor cuidar o património que é de todos”, refere Lília Pereira da Silva.
A diretora do centro de conservação e restauro reconhece, no entanto, que “não é fácil, porque os técnicos têm que ser pagos e os materiais para fazer as obras são caros”.
Foto: Olímpia Mairos/RR |
A diretora do centro de conservação e restauro da diocese de Bragança-Miranda, refere que intervencionar e preservar património “é um trabalho meticuloso, para o qual é preciso muito amor, muita paciência, gosto e prazer”.
Porém, na região não há técnicos qualificados, é necessário recrutá-los noutras partes do país e, por isso, a diretora do centro entende que é necessário dar a essas pessoas condições de vida para se instalarem no Nordeste Transmontano e apela à sensibilidade dos autarcas.
“Nós precisamos de mais apoio a nível estatal, municipal e intermunicipal para que possamos crescer e possamos conservar ainda mais e melhor, com melhores condições”, realça.
Joana Rodrigues, 27 anos, licenciada em conservação e restauro, veio de Fátima. Encontra-se em estágio profissional, mas não esconde o desejo de quando o concluir ficar por terras de Sendim.
“Quando terminei o curso, como todos os recém-licenciados, na procura de emprego foi a oportunidade que surgiu e, além disso, é uma zona do país que eu considero rica a nível de património”, conta à Renascença.
Joana considera esta experiência “muito boa, tanto a nível de aprendizagem como a nível de adaptação ao centro e à região”. Apesar de estar longe da família, sente-se “realizada a todos os níveis” e afirma que “a distância torna-se curta, quando se faz o que se gosta”.
“As minhas mãos têm tocado património valiosíssimo e isso nunca ninguém nos tira. É daquelas memórias que vão permanecer”, remata.
O principal objetivo de Joana, como diz, é “trabalhar e lutar todos os dias para ficar no centro, após a conclusão do estágio”.
Pedro Miguel Felisberto, 35 anos, veio de Coimbra. Licenciado em conservação e restauro, está também a fazer estágio profissional no centro de conservação e restauro. “Na nossa profissão, a salvaguarda do património é a tarefa mais importante. Gosto muito de cá estar e do trabalho que estamos a desenvolver”, conta.
Pedro gosta especialmente de escultura e retabulística e o amor à arte é tão grande que, “com as condições que existem no centro, gostaria muito de ficar”.
Joana Afonso, 32 anos, é de Bragança. Licenciada e com o mestrado em conservação e restauro assumiu recentemente a direção de obras. Está no centro há mais de dois anos, tem trabalhado “principalmente em termos de altares, escultura e pintura e, mais recentemente, em pintura mural”. A experiência “está a ser fantástica”.
“É uma área muito diferente da minha formação, que é pintura de cavalete e escultura. E tenho muito prazer em estar a trabalhar com o grande especialista, Joaquim Caetano”.
“É preciso acarinhar estas pessoas e dar-lhe espaço, dar-lhe qualidade”, defende Lília Pereira da Silva, recordando que o lema [do centro] e pelo qual se batem todos os dias é “a preservação do património por pessoas qualificadas, para que aquilo que existe desde há 500 anos, possa existir, pelo menos, mais 500 anos”.
Olímpia Mairos
Rádio Renascença
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