Os CTT lançaram recentemente, nos meios de comunicação social, um anúncio a promover o seu Banco, onde o ator Albano Jerónimo aparece à frente de uma procissão de seguidores que, quando este refere a resposta que teve de outros bancos, lhe cantam “Blá, blá, blá...” com a música do grande sucesso de Joe Dassin, L’été Indien. Curiosa esta associação com o enorme sucesso dos anos setenta do século passado e que tantas recordações traz, estou certo, a muitos da minha geração. Embalado pela música, não pude deixar de lembrar igualmente da letra “et je me souviens, je me souvien três bien, de ce que je t’ai dit, ce matin-lá, Il y a un an, y a un siècle, y a une éternité. On ira, où tu voudras, quand tu voudras”, tão romântica, tão adequada (e útil) ao sentimentalismo juvenil de então mas, convenhamos, igualmente apropriada para apelar à ligação emocional com os CTT.
Mas...
Com os CTT que, verdadeiramente, ainda há um ano, há um século, desde sempre, nos levava, precisamente, onde queríamos, quando queríamos. Com os CTT-Correios e não com o Banco CTT que, embrulhado na velha imagem do cavaleiro branco em fundo vermelho, nos querem agora impingir, como uma entidade íntegra, preocupada, disponível e prestável, empenhada no bem-estar de todos e de cada um, sem “blá, blá, blá”. O Banco claro...
E os Correios? A manutenção dos níveis de serviço, o apoio às populações, sobretudo as mais isoladas e carentes, as mais necessitadas e que mais prejuízo sofrem com a descarada, óbvia e despudorada redução e supressão de valências, não passa, essa sim, de blá, blá, blá. Como acreditar pois numa entidade que jura ser diferente, para melhor, na prestação de serviços onde concorre com outros e cujo sucesso passa pela capacidade de o fazer em melhores condições, sem qualquer respaldo legal, quando falha redondamente na atividade que pratica em regime de monopólio e com obrigação contratual de manter, com níveis de qualidade aceitáveis.
Ora, acontece que a Administração dos CTT, avisadamente, veio esclarecer, recentemente que a empresa cumpre, como faz desde 2007, o Indicador Global de Qualidade de Serviço tendo, inclusive, segundo a PWC, melhorado no ano de 2018. Precisamente quando a sanha de encerramentos se manteve e nos atingiu dolorosamente. Um dos indicadores de análise é o tamanho das filas. Ora aí está! Nas últimas vezes que me dirigi a um posto dos Correios, o número de utentes à espera no posto continua a ser considerável mas... no balcão reservado ao atendimento bancário... nem um! Como os Indicadores são analisados pela média...
E esse é o problema e, logicamente, a explicação. O nível médio de serviço é assegurado pela atividade bancária e, talvez, concedo, por eventuais melhorias no funcionamento dos postos no litoral. Trocando por miúdos: os CTT podem manter e melhorar o nível de atendimento e ainda assim, continuar a encerrar postos de atendimento no interior, desde que, numa loja qualquer de Lisboa ou Porto, acrescentem mais um guichet que diminua as filas e lhes permita, assim, atrair mais potenciais clientes... para o Banco, claro!
O contrato de concessão vai ser reanalisado brevemente. Se não for denunciado, se não houver a renacionalização, o mínimo que é exigível, ao Governo, é que imponha um Indicador Global de Qualidade de Serviço, menos global, menos genérico, mas, pelo contrário, muito mais específico e detalhado. Para acabar de vez com o blá, blá, blá...
José Mário Leite
in:jornalnordeste.com
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