Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Deambulava numa manhã de domingo, na Praça da Batalha, no Porto, quando perpassei por sujeito, elegantemente trajado: calça e casaco azul-marinho, camisa branca, gravata cinza. Estaquei. Era janota de meia-idade, ou casquilho, como diziam nossos avós.
De súbito, encaminha-se sorrateiramente para junto de bando de pombas, que tomavam sol, sobre as lajes.
Com violência, levanta o impecável sapato de verniz preto, e bate fortemente no granito. Assustadas, levantam num alvoraçado voo.
O “cavalheiro “, com ar de gozo, solta sonora risadinha, como se fosse garotinho traquina de escola. Verdadeiro moleque, como dizem nossos irmãos brasileiros.
Depois…um pouco mais adiante, repete a gracinha, e de novo o rosto se ilumina de alegria.
Vendo essa criança, de quase cinquenta anos, de cabelos grisalhos, fiquei a pensar: “ É esta gente, que escolhe os governantes da nação! …”
Alex Carrel, dizia acerca dos homens do seu tempo: “ Os indivíduos, tanto em França, como nos Estados Unidos, não ultrapassam a idade psicológica dos dez anos. A maioria nunca chega a atingir a maturidade mental. E, no entanto, são esses sub-homens que, graças ao sufrágio universal, dão o seu tom à política nacional.” - “ O Homem Perante a Vida” – Ed. Educação Nacional – 1959.
Como se pode verificar, a humanidade pouco evoluiu. - A prova disso, é o comportamento agarotado do “cavalheiro” que encontrei na Praça da Batalha.
É a democracia, como se sabe, até então, a melhor forma de dirigir as nações, mas, para que o regime democrático seja perfeito, é mister, como disse Afrânio Peixoto, que o povo seja educado, e conheça perfeitamente os deveres: “ Só assim ele saberá escolher um governo idóneo que lhe prepare o destino adequado e sobre o qual possa sempre exercer uma influencia salutar” – Minha Terra e Minha Gente”.
Agora – que o ensino é obrigatório, – e o povo está mais educado – diria melhor: instruído,) saberá escolher, com acerto, ou continua a ser apenas eco da minoria?
Ao assistir – pela TV, – a congresso de importante partido politico – escutei, atónito, as respostas de congressistas, que iam escolher o líder.
Interrogados pelo repórter, se conheciam a moção que iam votar, responderam: que não. E confessaram, também, que nunca leram o estatuto do partido! …
Se congressista, que escolhe o líder, desconhece tudo, ou quase tudo…o que será o povo, que nunca entrou numa sede partidária?
Na generalidade, defende-se a ideologia, do mesmo jeito como se torce por clube desportivo: porque o pai é adepto, ou, para ser do contra, defende-se o clube rival.
Rousseou, disse: que a democracia era o regime ideal… “Se existisse um povo de deuses, governar-se-ia democraticamente. Um governo tão perfeito não convém aos homens.” – “Contrato Social” – Cap. IV
O povo contínua e certamente continuará, a ser, apenas, eco da mass-media e demagogos.
Humberto Pinho da Silva, nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA.Foi redactor do jornal: “Notícias de Gaia"” e actualmente é o responsável pelo blogue luso-brasileiro: " PAZ".
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