O efeito da seca, aliado ao aumento dos custos de produção, levou à redução da área de cereais semeada que, admite o INE, poderá ser a menor dos últimos 100 anos. Azeite bateu recorde em 2021.
NUNO VEIGA/LUSA |
A produção de azeite em Portugal deverá ter atingido no ano passado um valor recorde com 2,25 milhões de hectolitros produzidos, de acordo com previsões do Instituto Nacional de Estatística. O INE diz que este aumento de 46% face a 2019 se deveu a condições meteorológicas muito favoráveis, aliadas ao facto de 2021 ter sido um ano de safra (quando a produção é mais alta) e potenciada por uma maior área de regadio que aumenta a produtividade do olival.
No entanto, as previsões agrícolas do INE destacam os efeitos negativos que a seca meteorológica — que no final de janeiro atingia já 45% do território nacional na forma severa e extrema — está a ter na agricultura. Apesar de a produção pecuária ser a mais afetada por causa das fracas condições de pastoreio, há impactos relevantes na cultura de cereais, em particular “na diminuição das áreas semeadas (previsivelmente, a menor dos últimos cem anos)”. Nas áreas semeadas verifica-se um fraco desenvolvimento das plantas.
O INE estima uma quebra de 40% na produção de aveia. As searas em que a situação é mais preocupante estão no Alentejo, região que representou mais de três quartos da produção de cereais nos últimos cinco anos. A seca está a afetar mais as cearas cultivadas mais tarde, por causa da ausência de chuva em janeiro.
No documento com as previsões agrícolas para 2022 o INE diz que “este cenário de seca, aliado à subida dos preços dos custos de produção, tem gerado incerteza e preocupação crescente no setor”. O quadro de escassez de água no solo vem associado a um “forte aumento do preço dos meios de produção” que está também a conduzir a uma forte redução das áreas de cereais para grão. Desde setembro do ano passado, o preço dos adubos disparou 73% e o gasóleo agrícola aumentou 7%, anulando o efeito potencial que a alta dos preços dos cereais teria no crescimento da área cultivada.
Nas regiões que estão a ser mais penalizadas pela seca, nomeadamente no Sul e interior Norte e Centro, os produtores pecuários tiveram de recorrer à forragens armazenadas, palhas e rações industriais para compensar as pastagens deficitárias. Entre setembro e dezembro do ano passado, o preço dos alimentos para animais subiu 17%.
Chuva e reservas em albufeiras abaixo da seca de 2005
Para este quadro contribuiu um mês de janeiro com uma precipitação que foi 12% do valor normal registado entre 1971 e 2000. Nos primeiros quatro meses do ano hidrológico, a precipitação média em Portugal continental teve o valor mais baixo dos últimos 20 anos, abaixo da registada na seca de 2005. Pelo contrário, a temperatura teve um valor médio superior em 0,8 graus face ao período de 1971/2000, atingindo os 9,7 graus celsius. O INE refere que esta evolução é explicada pelas elevadas temperaturas máximas no Centro e no Norte, apontando mesmo para uma “onda de calor” entre finais de dezembro e 3 de janeiro.
A seca já atingia todo o território continental no final de janeiro, com 45% do território em seca severa e extrema, situação que atingia os distritos de Lisboa, Setúbal, Beja e Faro, mas também largas áreas dos distritos de Bragança, Castelo Branco, Leiria, Santarém, Évora e Portalegre. As reservas hídricas estavam nos 60% da capacidade, muito abaixo do valor médio verificado entre 1990(91 a 2020/21 de 72%. O INE sublinha ainda que o nível de armazenamento das albufeiras era inferior ao verificado em outros anos de seca, nomeadamente o de 2005, obrigando à tomada de medidas extraordinárias para restringir o uso da água em várias barragens.
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