Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
A Natureza está a mudar e está a dar-nos sinais inequívocos dessa sua capacidade de se defender dos que a ofendem.
Com tempo que chegue para tal processo, a mudança faz-se em função das agressões e vem embrulhada em sol e temperatura amena, assim como os rebuçados de fruta cujas coberturas de papel são agradáveis à vista e o resultado final só é visível analisando ou medindo o teor dos diabetes. Subtileza que não obsta à nossa capacidade de observação e ao surgimento de outras formas de fazermos a nossa vidinha, contentes porque está sol, quando era suposto, chover, estar frio ou nevar, pois, "sete nevadas e um nevão, fazem um bom ano de pão".
Após eu constatar que a vida continua e a gente tem que fazer pela vidinha, hoje fui fora da cidade e deliciei-me com o que vi e ouvi. Durante uma vida quase inteira, os hábitos alimentares foram fator não menosprezável para que pudéssemos viver e sermos fortes, bem assim tendo o benefício de degustarmos coisas saborosíssimas, que o povo transmontano soube inventar e conservar ao longo da passagem de séculos e gerações que souberam manter o que era de manter e alterarem o que devagar se concluía ser necessário alterar. Todo o prato que na sua confeção passou de mãe para filha e que perdurou até hoje foi repetidas vezes testado para que os que o consumiram pudessem ficar satisfeitos e deliciados, sendo a matéria-prima, semeada, cuidada, colhida ou criada pelo povo que soube escolher as melhores, carnes, legumes e frutos, para fazer desta vida algo que nos separasse das aves do céu e dos bichos da terra.
Com paciência de Job e persistência de formiga, inventou o povo aquilo a que chamamos "O Fumeiro". Comida para um determinado tempo, o de inverno, persiste neste tempo ameno porque nós somos muito ciosos das nossas coisas e adoramos tê-las e partilhá–las.
Rumei a Nogueira que dista uns oito quilómetros da Praça da Sé para poder adquirir dois quilos de "tabafeias", assim lhes chamava a minha mãe, mas que realmente hoje são conhecidas por "Alheiras". Manhã bonita, sol brilhante e um pouco de frio já que estamos em Fevereiro.
Passada a rotunda da Avenida das Cantarias olhando para o ponto cardeal norte uma paisagem que nos enche a Alma. Passado o acesso à A4, veem-se um Restaurante do lado direito e do lado esquerdo, uma casa de habitação com portão de ferro de duas folhas. O portão estava aberto e no momento que eu passava descia a rampa o dono da vivenda que foi meu camarada de tropa e de quem sou particularmente amigo. Encostei o carro fora da estrada, saí e fui cumprimentá-lo.
Depois de havermos conversado um pouco, convidou-me a cumprimentar a sua esposa que se encontrava no logradouro da casa junto a uma casa pequena que ele construiu para que as tarefas do fumeiro se fizessem em sítio próprio e higiénico. Após os cumprimentos da praxe ela perguntou-me onde ia aquela hora? Respondi que ia à aldeia comprar alheiras. Ato contínuo diz-me que ela própria havia feito o fumeiro e que ainda se conservava nas varas a secar. Disse-me sem me dar tempo de recusar que ia cortar o fio de meia dúzia para eu provar. Um pouco acanhado peguei no saco que me estendeu sem me dar azo a lamúrias e reparei que para além das alheiras havia também um salpicão e que as alheiras eram mais que as seis prometidas. Ainda me ofereceu uma couve troncha que eu recusei pois que isso implicaria ela ter que ir mudar de calçado e ir cortá-la à horta.
Retomei a estrada e só parei junto à capela linda e bem conservada que a par com a Igreja são as joias da aldeia. Do outro lado da rua está a casa ou casas da irmã da D. Madalena antiga proprietária do Restaurante Nazaré após o falecimento do casal fundador, que eu conheço há muitos anos e a quem habitualmente compro algum fumeiro na época própria.
Estavam as duas irmãs juntas como quase sempre e fui recebido com palavras de afeto e alegria e eu pensei; a Natureza está em tempo de mudança mas o povo simples e honrado deste país continua a ser o mesmo, amigo do seu amigo e sempre continuador dos métodos honrados dos seus maiores.
Simpáticas como sempre, pesaram as alheiras e como um ato naturalíssimo lançam-me o repto: Quer levar uns ovos caseirinhos que tenho ali? Respondi afirmativamente e num ápice os ovos passaram da cesta para duas caixas. Com aquele modo suave e franco a D. Madalena pergunta uma vez mais: Quer uma couve tronchuda, que a vou cortar ali à horta que está ali detrás da casa? Respondi afirmativamente pois que ela estava calçada de maneira mais consentânea com ida à horta.
Resumindo, saí dali com a oferta da esposa do Daniel Pires e a oferta da Dona Madalena que acrescentou duas rabas lindas que acompanharão a troncha espetacular que foi criada numa Horta de Nogueira como no tempo dos Afonsinhos.
No regresso pensei, mas que gente é esta a minha que do pouco que Deus lhes deu tem sempre algo para compartilhar com os outros de modo sincero e espontâneo? É o povo que moureja nesta terra há muitas gerações e que soube sofrer com o frio de Inverno e com a Canícula nos Verões de outrora e manter-se fiel ao seu Deus e ao seu povo, partilhando o que granjeou com o seu semelhante e louvando a Deus por lho haver dado.
Quanto à mudança climática compete às elites perceber e tentar compreender o que aí vem e arranjarem forma de minimalizarem o que for possível.
Para mim continua a ser um prazer sair da cidade, ver os campos, as árvores, as flores e os pássaros, as águas e os peixinhos e dar graças a Deus por tudo e mais ainda por esta gente que temos. (O pouco que Deus me deu, cabe numa mão fechada, o pouco com Deus é muito, e o muito sem Deus é nada) (provérbio popular que me ensinou a minha professora Dona Isabel Belchior).
Com tempo que chegue para tal processo, a mudança faz-se em função das agressões e vem embrulhada em sol e temperatura amena, assim como os rebuçados de fruta cujas coberturas de papel são agradáveis à vista e o resultado final só é visível analisando ou medindo o teor dos diabetes. Subtileza que não obsta à nossa capacidade de observação e ao surgimento de outras formas de fazermos a nossa vidinha, contentes porque está sol, quando era suposto, chover, estar frio ou nevar, pois, "sete nevadas e um nevão, fazem um bom ano de pão".
Após eu constatar que a vida continua e a gente tem que fazer pela vidinha, hoje fui fora da cidade e deliciei-me com o que vi e ouvi. Durante uma vida quase inteira, os hábitos alimentares foram fator não menosprezável para que pudéssemos viver e sermos fortes, bem assim tendo o benefício de degustarmos coisas saborosíssimas, que o povo transmontano soube inventar e conservar ao longo da passagem de séculos e gerações que souberam manter o que era de manter e alterarem o que devagar se concluía ser necessário alterar. Todo o prato que na sua confeção passou de mãe para filha e que perdurou até hoje foi repetidas vezes testado para que os que o consumiram pudessem ficar satisfeitos e deliciados, sendo a matéria-prima, semeada, cuidada, colhida ou criada pelo povo que soube escolher as melhores, carnes, legumes e frutos, para fazer desta vida algo que nos separasse das aves do céu e dos bichos da terra.
Com paciência de Job e persistência de formiga, inventou o povo aquilo a que chamamos "O Fumeiro". Comida para um determinado tempo, o de inverno, persiste neste tempo ameno porque nós somos muito ciosos das nossas coisas e adoramos tê-las e partilhá–las.
Rumei a Nogueira que dista uns oito quilómetros da Praça da Sé para poder adquirir dois quilos de "tabafeias", assim lhes chamava a minha mãe, mas que realmente hoje são conhecidas por "Alheiras". Manhã bonita, sol brilhante e um pouco de frio já que estamos em Fevereiro.
Passada a rotunda da Avenida das Cantarias olhando para o ponto cardeal norte uma paisagem que nos enche a Alma. Passado o acesso à A4, veem-se um Restaurante do lado direito e do lado esquerdo, uma casa de habitação com portão de ferro de duas folhas. O portão estava aberto e no momento que eu passava descia a rampa o dono da vivenda que foi meu camarada de tropa e de quem sou particularmente amigo. Encostei o carro fora da estrada, saí e fui cumprimentá-lo.
Depois de havermos conversado um pouco, convidou-me a cumprimentar a sua esposa que se encontrava no logradouro da casa junto a uma casa pequena que ele construiu para que as tarefas do fumeiro se fizessem em sítio próprio e higiénico. Após os cumprimentos da praxe ela perguntou-me onde ia aquela hora? Respondi que ia à aldeia comprar alheiras. Ato contínuo diz-me que ela própria havia feito o fumeiro e que ainda se conservava nas varas a secar. Disse-me sem me dar tempo de recusar que ia cortar o fio de meia dúzia para eu provar. Um pouco acanhado peguei no saco que me estendeu sem me dar azo a lamúrias e reparei que para além das alheiras havia também um salpicão e que as alheiras eram mais que as seis prometidas. Ainda me ofereceu uma couve troncha que eu recusei pois que isso implicaria ela ter que ir mudar de calçado e ir cortá-la à horta.
Retomei a estrada e só parei junto à capela linda e bem conservada que a par com a Igreja são as joias da aldeia. Do outro lado da rua está a casa ou casas da irmã da D. Madalena antiga proprietária do Restaurante Nazaré após o falecimento do casal fundador, que eu conheço há muitos anos e a quem habitualmente compro algum fumeiro na época própria.
Estavam as duas irmãs juntas como quase sempre e fui recebido com palavras de afeto e alegria e eu pensei; a Natureza está em tempo de mudança mas o povo simples e honrado deste país continua a ser o mesmo, amigo do seu amigo e sempre continuador dos métodos honrados dos seus maiores.
Simpáticas como sempre, pesaram as alheiras e como um ato naturalíssimo lançam-me o repto: Quer levar uns ovos caseirinhos que tenho ali? Respondi afirmativamente e num ápice os ovos passaram da cesta para duas caixas. Com aquele modo suave e franco a D. Madalena pergunta uma vez mais: Quer uma couve tronchuda, que a vou cortar ali à horta que está ali detrás da casa? Respondi afirmativamente pois que ela estava calçada de maneira mais consentânea com ida à horta.
Resumindo, saí dali com a oferta da esposa do Daniel Pires e a oferta da Dona Madalena que acrescentou duas rabas lindas que acompanharão a troncha espetacular que foi criada numa Horta de Nogueira como no tempo dos Afonsinhos.
No regresso pensei, mas que gente é esta a minha que do pouco que Deus lhes deu tem sempre algo para compartilhar com os outros de modo sincero e espontâneo? É o povo que moureja nesta terra há muitas gerações e que soube sofrer com o frio de Inverno e com a Canícula nos Verões de outrora e manter-se fiel ao seu Deus e ao seu povo, partilhando o que granjeou com o seu semelhante e louvando a Deus por lho haver dado.
Quanto à mudança climática compete às elites perceber e tentar compreender o que aí vem e arranjarem forma de minimalizarem o que for possível.
Para mim continua a ser um prazer sair da cidade, ver os campos, as árvores, as flores e os pássaros, as águas e os peixinhos e dar graças a Deus por tudo e mais ainda por esta gente que temos. (O pouco que Deus me deu, cabe numa mão fechada, o pouco com Deus é muito, e o muito sem Deus é nada) (provérbio popular que me ensinou a minha professora Dona Isabel Belchior).
Bragança 03/02/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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