Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
No meu tempo de rapaz, a circulação de veículos pesados na cidade era mais intensa comparada com a dos tempos atuais. Todas as camionetas ostentavam uma placa com a velocidade máxima permitida. Na Estrada 50 km/hora e nas povoações 40 km/hora. Quase todas traziam pintadas frase mais ou menos educadas tais como esta, que eu achava intrigante e que hoje seria politicamente incorreta: Dos homens que conheci / Só Adão teve juízo / Casou com mulher sem mãe / E viveu no Paraíso.
Vários fatores concorrem para que assim seja, já que a entrega de artigos ao comércio se faz em carrinhas, VANS, que podemos identificar como a Ford Transit, que hoje foi copiada pelas outras marcas e que são fáceis de conduzir, tal como um carro ligeiro.
No tempo a que me refiro as camionetas de caixa aberta faziam uma classe à parte que fez história pela resiliência de máquinas e "chauffeurs" que se tornaram em mitos para a garotada da minha idade que via este meio de transporte como as máquinas que mexiam o mundo.
Darei aqui um exemplo que serve para relembrar aos meus condiscípulos a mística que atribuíamos ao Tita que morava onde hoje está a Caixa Geral de Depósitos. Era a casa do Chico dos Machos que foi proprietário de veículos de tração animal que estavam a desaparecer com o progresso do transporte mecânico que entrava nas nossas vidas triunfalmente. Tinha este motorista uma "proa" obsessiva com a limpeza e manutenção da sua Volvo vermelha que brilhava com os cuidados que ele e os filhos lhes dispensavam. Era um gosto ver tal veículo que com a sua cor vermelha em desenho magistral se tornou célebre entre a garotada.
Mais abaixo no Tombeirinho estava quase sempre parada e também sempre tiradinha de uma caixa uma Volvo que pertencia ao Senhor Veloso, pai do Neca que a estimava quase como o Tita estimava a sua.
De seguida, ao fundo da Rua Dr. António Cagigal, estava uma Bedford um pouco mais pequena de cor "grenat" pertença do Senhor Augusto Pimparel mais conhecido por Má Cara, que o não era, e que era patrão do celebérrimo Marvel, estivador, pobre, mas trabalhador e que levantava um saco de 100kg sem que isso o obrigasse ao mais pequeno esforço, aparentemente.
Recordo uma Krupp verde da firma, João Miguel Pires & Irmãos, Lda, cujo motorista era o Hélio, homem que durante a minha inteira meninice foi fiel Chauffer desta firma que importava materiais de construção dos centros de produção em todo o país.
O Marcolino Moreno tinha duas camionetas, cujos motoristas eram dois homens que preenchiam o nosso imaginário, o Pedro que morava na Viela do Saco, nos Batoques e o Áureo que morava na Caleja do Forte e que foi para Angola, onde teve uma firma de camionagem, tendo regressado na vaga de retorno dos portugueses, que fecharam o ciclo do Império, os Retornados. Lembro a camionete e o seu dono e "Chauffer" Daniel do Parâmio, que normalmente, trazia a pedra de Montesinho para as obras do meu pai. A pedra que o Tio Miguel Chamorro tratava com carinho e à qual cantava aquela melopeia sincopada que a levava para o muro que ia lentamente tomando forma, eia eia, pedrinha, eia, upa, que vais para a obra, eia eia.
Quando eu andava na Escola o meu pai construiu a primeira casa do Fernando Lelo que também tinha uma Scania com que transportava castanhas e nozes bem como toda a mercadoria que negociava (dó pr' aí abaixo).
O Leal de França a quem o meu pai fez uma casa em Vale d' Alvaro que eu recordo com saudade, pois era a essa obra, onde eu ía levar o café com leite e pedacinhos de pão de trigo para o meu pai matar-o-bicho.
Por cima da linha do Caminho-de-ferro morava outro "Chauffer" famoso e que era conhecido pelo nome de Pranchadas e era pai do meu grande amigo Jorge que foi o noivo do último casamento, que antes de ir para a tropa, fiz no "Cura".
Na Moagem do Lopes & Sá Morais Lda era "Chauffer" o Gil que morava na Boavista e era cliente assíduo do Café Floresta onde fazia sempre um joguinho de Bilhar. Lembro também a Volvo da firma Afonso Lopes & Co Limitada que continua a fazer o serviço de carga do cereal que chega para ser moído e depois entregue aos clientes, com a mesma frequência de outrora. A patine que esta camionete ostenta coberta de pó de farinha que se cola à parte exterior da cabine juntou tantas camadas que parece que foi envernizada. Deve ser a camioneta mais antiga do Distrito que ainda funciona. O seu primeiro "Chauffer" era o pai do Orlando que foi para África e nunca mais vi. Morava no Bairro São João de Brito. Recordo também as camionetas das Obras Públicas e da Florestal. Nas Obras Públicas recordo o Mário Sachola, o André e o Senhor Anes do Bairro da Estação e o inefável Manuel Reis que conduziam o Cilindro e que levavam a garotada atrás, quando lenta e pesadamente passavam nas ruas da cidade. Também tinham camionetas mais pequenas, o Canha e o Fernando Catorze (filho).
O Armando Fouçadas também teve uma de caixa aberta que faz parte das lembranças da minha infância.
Este quadro que eu descrevo e ao qual devo ainda juntar os Irmãos Poças que durante muito tempo traziam quase toda a mercadoria do Porto, que é como quem diz da Zona litoral adjacente à segunda maior cidade de Portugal.
Haverá muita mais gente que trabalhou de camionista (Chauffer) e que eu não recordo agora. A esses presto também a minha homenagem, eu que desde os meus tempos de menino admirei a tarefa honrosa de todos os camionistas que ajudaram a fazer a era dos transportes rodoviários, em Bragança e em todo o Mundo. (Ei, motorista, rico, pobre / preto, branco / cuidado co'a direção / conserve sua direita / escute minha canção (Roberto Carlos ).
Vários fatores concorrem para que assim seja, já que a entrega de artigos ao comércio se faz em carrinhas, VANS, que podemos identificar como a Ford Transit, que hoje foi copiada pelas outras marcas e que são fáceis de conduzir, tal como um carro ligeiro.
No tempo a que me refiro as camionetas de caixa aberta faziam uma classe à parte que fez história pela resiliência de máquinas e "chauffeurs" que se tornaram em mitos para a garotada da minha idade que via este meio de transporte como as máquinas que mexiam o mundo.
Darei aqui um exemplo que serve para relembrar aos meus condiscípulos a mística que atribuíamos ao Tita que morava onde hoje está a Caixa Geral de Depósitos. Era a casa do Chico dos Machos que foi proprietário de veículos de tração animal que estavam a desaparecer com o progresso do transporte mecânico que entrava nas nossas vidas triunfalmente. Tinha este motorista uma "proa" obsessiva com a limpeza e manutenção da sua Volvo vermelha que brilhava com os cuidados que ele e os filhos lhes dispensavam. Era um gosto ver tal veículo que com a sua cor vermelha em desenho magistral se tornou célebre entre a garotada.
Mais abaixo no Tombeirinho estava quase sempre parada e também sempre tiradinha de uma caixa uma Volvo que pertencia ao Senhor Veloso, pai do Neca que a estimava quase como o Tita estimava a sua.
De seguida, ao fundo da Rua Dr. António Cagigal, estava uma Bedford um pouco mais pequena de cor "grenat" pertença do Senhor Augusto Pimparel mais conhecido por Má Cara, que o não era, e que era patrão do celebérrimo Marvel, estivador, pobre, mas trabalhador e que levantava um saco de 100kg sem que isso o obrigasse ao mais pequeno esforço, aparentemente.
Recordo uma Krupp verde da firma, João Miguel Pires & Irmãos, Lda, cujo motorista era o Hélio, homem que durante a minha inteira meninice foi fiel Chauffer desta firma que importava materiais de construção dos centros de produção em todo o país.
O Marcolino Moreno tinha duas camionetas, cujos motoristas eram dois homens que preenchiam o nosso imaginário, o Pedro que morava na Viela do Saco, nos Batoques e o Áureo que morava na Caleja do Forte e que foi para Angola, onde teve uma firma de camionagem, tendo regressado na vaga de retorno dos portugueses, que fecharam o ciclo do Império, os Retornados. Lembro a camionete e o seu dono e "Chauffer" Daniel do Parâmio, que normalmente, trazia a pedra de Montesinho para as obras do meu pai. A pedra que o Tio Miguel Chamorro tratava com carinho e à qual cantava aquela melopeia sincopada que a levava para o muro que ia lentamente tomando forma, eia eia, pedrinha, eia, upa, que vais para a obra, eia eia.
Quando eu andava na Escola o meu pai construiu a primeira casa do Fernando Lelo que também tinha uma Scania com que transportava castanhas e nozes bem como toda a mercadoria que negociava (dó pr' aí abaixo).
O Leal de França a quem o meu pai fez uma casa em Vale d' Alvaro que eu recordo com saudade, pois era a essa obra, onde eu ía levar o café com leite e pedacinhos de pão de trigo para o meu pai matar-o-bicho.
Por cima da linha do Caminho-de-ferro morava outro "Chauffer" famoso e que era conhecido pelo nome de Pranchadas e era pai do meu grande amigo Jorge que foi o noivo do último casamento, que antes de ir para a tropa, fiz no "Cura".
Na Moagem do Lopes & Sá Morais Lda era "Chauffer" o Gil que morava na Boavista e era cliente assíduo do Café Floresta onde fazia sempre um joguinho de Bilhar. Lembro também a Volvo da firma Afonso Lopes & Co Limitada que continua a fazer o serviço de carga do cereal que chega para ser moído e depois entregue aos clientes, com a mesma frequência de outrora. A patine que esta camionete ostenta coberta de pó de farinha que se cola à parte exterior da cabine juntou tantas camadas que parece que foi envernizada. Deve ser a camioneta mais antiga do Distrito que ainda funciona. O seu primeiro "Chauffer" era o pai do Orlando que foi para África e nunca mais vi. Morava no Bairro São João de Brito. Recordo também as camionetas das Obras Públicas e da Florestal. Nas Obras Públicas recordo o Mário Sachola, o André e o Senhor Anes do Bairro da Estação e o inefável Manuel Reis que conduziam o Cilindro e que levavam a garotada atrás, quando lenta e pesadamente passavam nas ruas da cidade. Também tinham camionetas mais pequenas, o Canha e o Fernando Catorze (filho).
O Armando Fouçadas também teve uma de caixa aberta que faz parte das lembranças da minha infância.
Este quadro que eu descrevo e ao qual devo ainda juntar os Irmãos Poças que durante muito tempo traziam quase toda a mercadoria do Porto, que é como quem diz da Zona litoral adjacente à segunda maior cidade de Portugal.
Haverá muita mais gente que trabalhou de camionista (Chauffer) e que eu não recordo agora. A esses presto também a minha homenagem, eu que desde os meus tempos de menino admirei a tarefa honrosa de todos os camionistas que ajudaram a fazer a era dos transportes rodoviários, em Bragança e em todo o Mundo. (Ei, motorista, rico, pobre / preto, branco / cuidado co'a direção / conserve sua direita / escute minha canção (Roberto Carlos ).
Obs* Ilustra este texto uma sugestiva Ford dos tempos áureos, capa da obra de Jonh Steinbeck que descreve a viagem de Oklahoma até à Califórnia nesta máquina.
Bragança,13/02/2022
A. O. dos Santos
Bombadas
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