A antiga Sé de Miranda do Douro é hoje concatedral. (Fotografia de Octavio Passos/GI) |
Erguida no centro urbano, junto à muralha, a olhar as arribas do Douro, a antiga Sé, agora Concatedral de Miranda do Douro, é um edifício imponente de arquitetura maneirista, com um grande corpo central ladeado por duas torres.
Este colosso foi mandado construir pelo rei D. João III – assim como as sés de Leiria e Portalegre – depois de elevada a antiga vila de Miranda à categoria de cidade e sede de diocese em 1545.
A grandiosidade do projeto do novo templo, edificado após a destruição da antiga igreja medieval de Santa Maria, leva até o bispo de Miranda a remeter uma nota de desassossego ao rei: “Porque é tão sumptuoso que se não poderá acabar em vida dos presentes”. Ainda assim, em 1552, foi lançada a primeira pedra, sob a direção de Gonçalo de Torralva e Miguel de Arruda.
No interior, admira-se o retábulo-mor seiscentista, do galego Gregório Fernández, o órgão do século XVIII, decorado com talha dourada, e o cadeiral, com quadros pintados nos respaldos. O núcleo expositivo acolhe ainda peças de pintura, escultura e arte sacra do espólio da Concatedral de Miranda do Douro, entre elas o conjunto pictórico “Calendário da Sé”, pintado em Antuérpia por Pieter Balten em 1580.
Outro elemento de interesse é a imagem do Menino Jesus da Cartolinha, um ícone da religiosidade popular local. A lenda associada a esta figura remete para 1711, ano em que decorria a Guerra de Sucessão Espanhola. Durante a invasão de Miranda do Douro pelo exército castelhano, terá aparecido nas muralhas um menino vestido de fidalgo cavaleiro a chamar os mirandeses e a incentivá-los a lutar contra o inimigo. No fim da batalha e depois da cidade libertada, o menino desapareceu. No dia 6 de janeiro é realizada a festa em sua honra.
A história atribulada da cidade fronteiriça e os conflitos com Espanha terão ditado a mudança da diocese para Bragança em 1780. Mas ainda hoje se encontram vestígios do precioso património do templo. Em 2015, foi descoberto na concatedral o “Livro de missas, magnificas e motetes”, de Diego de Bruceña, único sobrevivente dos 40 exemplares impressos em 1620 pela casa de Susana Muñoz, em Salamanca. A obra está a ser digitalizada, e a Concatedral irá acolher futuramente um conjunto de concertos com base neste livro.
O que fazer em redor
DORMIR Casa de Belharino
A 20 minutos do centro da cidade, no planalto mirandês, esta casa, inserida no cenário rural e sereno da aldeia de Genísio, é um convite ao descanso. Cada uma das oito suítes (duas delas superiores, com uma pequena zona de leitura) foi batizada com expressões populares portuguesas e a decoração combina peças evocativas da vida rural e das tradições da região – antigas peneiras, crivos e máscaras tradicionais transmontanas – com uma simplicidade elegante que transmite conforto. Apetecendo explorar a região ou dedicar-se simplesmente ao ócio, tanto há bicicletas para uso dos hóspedes como uma piscina convidativa e uma cama de rede à sombra de uma árvore. Quarto duplo a partir de 90 euros por noite, com pequeno-almoço.
(Fotografia: DR) |
VISITAR Centro de Valorização do Burro de Miranda
Em Atenor fica este centro, sede da Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino. Ali contribui-se para a conservação do Burro de Miranda, de património genético, ecológico e cultural único de Portugal. Os visitantes podem conhecer as dezenas de burros que ali vivem, o picadeiro, os estábulos e a maternidade, assim como perceber o trabalho feito em prol da sua preservação. São organizados passeios com e sessões de terapia com os animais. Entrada: 5 euros.
(Fotografia de Octavio Passos/GI) |
COMER Miradouro
De volta ao centro da cidade, encontram-se os sabores regionais no Miradouro, restaurante amplo e acolhedor. As entradas vão dos calamares à romana aos cogumelos salteados, passando pela alheira. Nos pratos principais, sobressaem várias opções de bacalhau, como o bacalhau à Miradouro, posta generosa banhada em molho bechamel e servida com batata frita. Na carne, a posta à mirandesa, guarnecida com batata a murro e legumes. O espaço tem invejáveis vistas sobre a cidade. Preço médio: 20 euros.
(Fotografia de Rui Ferreira/GI |
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