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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 30 de outubro de 2022

O que procurar no Outono: a orquídea-de-outono

 Carine Azevedo fala-nos de uma planta muito especial, a última orquídea silvestre do ano a florir em Portugal Continental, cujas flores brancas e perfumadas podemos encontrar por estes dias.

Foto: Donald Macauley

As orquídeas são frequentemente apelidadas de rainhas das flores pela sua elegância, delicadeza e graciosidade únicas. Como as suas flores se mantêm perfeitas por um longo período de tempo, são das plantas mais conhecidas e procuradas para decorar espaços.

Existem cerca de 25.000 espécies de orquídeas, distribuídas por aproximadamente 800 géneros botânicos e muitos híbridos, que apresentam as mais variadas cores, formas e tamanhos. Crescem geralmente no sub-bosque de florestas tropicais e subtropicais, embora possam ocorrer nos mais diversos habitats.

Em Portugal, existe uma vasta coleção de orquídeas nativas que na sua maioria florescem durante a primavera e o verão, mas há uma espécie que podemos encontrar em flor durante o outono. 

A orquídea-de-outono (Spiranthes spiralis) é a última espécie do ano a florir em Portugal Continental. Venham conhecê-la um pouco melhor.

Spiranthes

A orquídea-de-outono é uma espécie do género botânico Spiranthes, pertencente à família Orchidaceae.

Foto: Gilles San Martin

Spiranthes é um género de orquídeas terrestres que contém cerca de 40 espécies, distribuídas pelas regiões temperadas da América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia e Austrália, e que podem crescer numa ampla gama de habitats, incluindo prados, campos e até florestas.

Em Portugal, ocorrem apenas duas espécies cujas características morfológicas são muito semelhantes. No entanto, possuem períodos de floração distintos: a Spiranthes aestivalis floresce no final da primavera, entre os meses de maio e junho, e a Spiranthes spiralis tem floração outonal.

Orquídea-de-outono

A orquídea-de-outono (Spiranthes spiralis) é uma planta perene, herbácea, que pode atingir entre cinco a trinta centímetros de altura.

É formada por dois a quatro tubérculos subterrâneos, elipsóides, castanhos e lisos, que funcionam como órgãos de reserva e que permitem que se mantenha em dormência durante a época mais desfavorável ao seu desenvolvimento.

Quando as condições ecológicas são favoráveis, a orquídea-de-outono desenvolve a parte aérea, formada essencialmente pela haste floral e pelas folhas. 

As folhas são basais e surgem em roseta, em conjuntos de quatro a cinco folhas, ao lado da haste floral. São ovado-elípticas, verdes, muito brilhantes, agudas e glaucas. As suas margens são inteiras e ligeiramente translúcidas.

Foto: Umberto Ferrando

Quanto à haste floral, surge no outono, após a ocorrência das primeiras chuvas. É verde, simples, ereta, cilíndrica, lisa e verde-pálida e tem a particularidade de preceder o aparecimento das folhas. A parte superior desta haste é coberta com pêlos glandulíferos, curtos e transparentes. 

Por sua vez, as flores são perfumadas, hermafroditas, pequenas e brancas. Surgem dispostas numa única linha, em espiral, em conjuntos de 10 a 25 flores e não possuem pedúnculo.

Abaixo de cada flor surge uma bráctea protetora, elíptica e verde, semelhante a uma folha. As sépalas são livres, esbranquiçadas e estreitamente triangulares. Já as pétalas, ao contrário dos restantes elementos que compõem a haste floral, não possuem pêlos glandulíferos e são brancas.

Foto: Umberto Ferrando/Wiki Commons

Quanto ao labelo, é finamente crenado na extremidade, um pouco mais longo do que as sépalas e não possui esporão. É acentuadamente curvo para baixo, glabro, verde-amarelo e com rebordo branco.

Por seu turno, o fruto é uma cápsula ereta e oblonga, com numerosas sementes minúsculas, planas e reticuladas.

‘Autumn lady’s-tresses‘

Foto: JLVitorino/Flora-On

A origem etimológica desta espécie está intimamente relacionada com a forma como as flores ocorrem.

O nome do género Spiranthes deriva do grego antigo, da combinação dos termos “spir-” que significa “enrolar-se” e de “-anthos” que significa “flor”, ou seja, “flores dispostas em espiral”, referindo-se à forma da inflorescência. O epíteto específico spiralis também se refere ao arranjo em espiral das flores ao longo da haste floral.

Esta característica também lhe confere o nome comum, em inglês, de ‘autumn lady’s-tresses’ (“tranças-de-dama de outono”).

Origem, ecologia e habitat

A orquídea-de-outono ocorre por quase toda a Europa, no Médio Oriente e no Norte de África.

Em Portugal está presente em Trás-os-Montes, Douro Litoral, Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo e Algarve, embora seja mais comum nas regiões da Beira Litoral e Estremadura, onde existem várias populações bem estabelecidas. Não há registo da sua ocorrência nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores.

Esta espécie de orquídea ocorre em prados, clareiras de matos, em zonas de matos baixos e bermas de caminhos, mas também pode encontrar-se, mais raramente, em campos de cultivos e até em dunas.

Foto: Hans Stieglitz

Tem preferência por locais com boa exposição solar, mas também pode crescer em locais de semi-sombra. É indiferente ao tipo de substrato, mas no entanto tem preferência por solos secos, embora tolere os solos húmidos, desde que bem drenados. 

A orquídea-de-outono não é autogâmica e atrai inúmeros insectos polinizadores, principalmente zangões e abelhas, que são responsáveis pela polinização e frutificação bem-sucedidas desta espécie.

A dispersão das sementes ocorre pela ação do vento, no entanto, a maioria das sementes não se afasta do local de origem, uma vez que é comum a grande maioria das novas plantas desenvolverem-se junto da planta-mãe.

Esta espécie silvestre, embora não apresente nenhum estatuto de conservação em particular, é rara, devendo por isso ser preservada como qualquer outra espécie de orquídea nativa. 

Para a apreciar temos de estar bastante atentos e aproximarmo-nos bem dela, mas quando a encontramos ficamos com a certeza de que encontrámos um pequeno tesouro natural. 

Se a vir por aí registe esse momento, mas não a colha, para que seja polinizada e volte a florir na próxima época. Basta observar e fotografar e, caso queira, partilhe a sua descoberta nas redes sociais, com #oqueprocurar #plantasdeportugal #floranativa e #àdescobertadasplantasnativas.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Perene – planta que tem um ciclo de vida longo e que viver três ou mais anos.
Herbácea – planta de consistência não lenhosa e verde.
Tubérculo – caule geralmente subterrâneo, suculento e volumoso, que contém substâncias de reserva.
Glauca – de cor verde-cinzenta-azulada.
Glandulífero – que tem glândulas ou pêlos glandulares.
Hermafrodita – flor que possui órgãos reprodutores femininos (carpelos) e masculinos (estames).
Pedúnculo – “Pé” que sustenta a flor.
Bráctea – folha modificada, localizada na base da flor que a protege enquanto está fechada.
Sépala – peça floral, geralmente verde, que forma o cálice.
Pétala – peça floral, geralmente colorida ou branca, que forma a corola.
Labelo – tépala mediana, de tamanho e coloração diferente das restantes peças florais, que serve para atrair os insectos polinizadores.
Crenada – margem com recortes arredondados.
Esporão – prolongamento oco, fechado no extremo inferior, que se encontra na base das pétalas ou das sépalas de algumas flores, e que pode ou não conter néctar.
Glabro – sem pêlos.
Cápsula – fruto seco, com várias sementes, que abre e deixa as sementes cair quando maduro.
Autogâmica – planta cujas flores são hermafroditas e que são fecundadas pelo próprio pólen. 
Autogamia – Polinização de uma flor hermafrodita pelo seu próprio pólen ou pelo pólen de flores do mesmo indivíduo. Opõe-se a alogamia – fecundação de uma flor pelo pólen de outro indivíduo da mesma ou de espécie diferente = Polinização cruzada.

Carine Azevedo

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