Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Contraíra, em 1827, casamento, a Senhora Dona Ana Constança Potter Pereira Lopes, de ascendência inglesa, com o Dr. José Joaquim Gomes Coelho, médico do hospital da Ordem de S. Francisco, no Porto.
Nasceram-lhes nove filhos, todos pereceram, vítimas da tuberculose. Por último apareceu o Guilherminho, – Guilherme Gomes Coelho, – menininho que seria, mais tarde, famoso escritor, usando o pseudónimo literário, de: JÚLIO DINIS.
O rapazinho nascera a 14 de novembro de 1839. Doze anos depois de Dona Ana Constança se ter matrimoniado.
O parto deixou-a muito debilitada, e recomendou, o médico, receando que viesse a contrair a tuberculose, ausentar-se para a província, longe dos ares pestilentos da cidade.
Possuía Dona Ana, íntima amiga: a Senhora Dona Maria Teodora, que morava em Grijó, Gaia, na “Quinta da Fábrica", que prontamente se prontificou a recebê-la, assim como o pequerrucho Guilherme.
Dona Maria Teodora, nascera em 1782, em S. Nicolau, Porto, como sua amiguinha, embora em épocas diferentes.
Dona Teodora era solteira, de estatura meã, e senhora de vastos bens. Trajava à moda da cidade, de chapéu, mesmo quando se deslocava á aldeia.
Receando conflitos fratricidas, entre D. Miguel e D. Pedro, refugiou-se na sua quinta, fugindo das sarrafuscas da cidade do Porto.
Era prima do Sr. Reitor, de Grijó. O sacerdote, frequentemente a visitava, e ainda que Dona Teodora tivesse procurador, orientava-a no governo do património.
Lia pouco a Senhora Dona Maria Teodora, ou quase nada, e escrevia menos ainda. Confiava no procurador, que segundo parecia, lapidava-lhe o património.
Como Dona Ana Constança viesse a falecer, a 25 de novembro de 1844, o Guilherminho, ficou ao cuidado de Dona Teodora.
Afeiçoou-se, de tal modo, ao pequeno, assim como a criada, Maria Corveira, que ambas não o largavam, enchendo-o de mimos
Dona Teodora passou a ser para o Guilherminho, como se mãe fosse e o menino, que era amoroso, carinhosamente a tratava por: tia.
Entretanto a criança cresceu e foi matriculado na Escola Primária de Massarelos, Porto; depois o liceu, concluindo o curso de medicina, em 1868, vindo a ser professor, na Escola Médica.
Júlio Dinis, o Guilherminho, sempre que podia, e lho permitiam, " voava" para a aprazível “Quinta a Fábrica".
Saudades da tia Teodora? Sim; mas também da amiguinha, inesquecível, companheira de brincadeira, de infância.
Em Grijó, sentia-se em casa e, o local era-lhe recomendado para o tratamento do mal, que o corrompia.
Todavia, outro motivo, o levavam a Grijó...
O Prior, era primo de Dona Maria Teodora e tinha uma sobrinha, sua pupila, chamada Henriqueta.
A menina afeiçoou-se, desde cachopa, pelo Guilherminho, seu companheiro de folguedo, e tanto adiante foi a amizade, que nasceu um grande amor: uma grande paixão.
O Prior gostava do estudante (Júlio Dinis,) que descansava na "Quinta da Fábrica", e via, com bons olhos o namoro, assim como Dona Teodora, mas temiam a doença, que já lhe vitimara os irmãos. O rapaz era franzino, e não se descortinava melhoras, nem cura.
Já aos dezassete anos tivera o primeiro aviso, mandaram-no para Ovar, para casa da tia, irmã do pai, ai permaneceu quatro longos meses.
O casamento seria, portanto, desastroso e teria, certamente, desfecho funesto.
A Henriquinha era graciosa, bonita, bem-educada, bondosa e meiga. Possuía belos e abundantes cabelos castanhos, que a tornava, se possível, mais encantadora.
Com tantas qualidades seria-lhe fácil ser requestada pelos pimpões da localidade, e até da cidade vizinha, mas a Henriquinha recordava-se do companheiro da meninice. Ganhara-lhe amor: admirava-lhe não a formosura, que a não tinha, Mas: a inteligência, a cultura, e o futuro promissor. Conhecia a doença do Guilherminho, mas a paixão toldava-lhe, quase por completo, o perigo desse amor, e ansiosamente esperava por milagre: a cura.
Depois... sentia-se amada, não por mero amor, mas por copiosa paixão, que conhecia ser sincera, verdadeira e pura.
A menina, desde tenra idade, frequentava as festas, que se realizavam, na “Quinta da Fábrica “, e todas as semanas acompanhava o Sr. Prior, para brincar com o Guilherminho.
O Reitor, por muito que gostasse de Júlio Dinis, não podia aceitar o enlace. Tratou, então, de a casar com seu protegido, um tal, Monteiro de Carvalho.
Quando soube do matrimónio, Júlio Dinis, sentiu profundo desgosto, que o deixou tísico, de vez.
Se me perguntarem: A Henriqueta foi feliz? Não saberei responder; mas creio que não, ainda que nunca o dissesse ou demonstrasse. Portava-se com a dignidade de mulher casada. Todavia, continuava a ver e a conversar, embora esporadicamente, com Júlio Dinis.
Mas, quem pode ser feliz, se casou " forçado"? Via-se,ainda, com orgulho e vaidade, que certamente a ensoberbecia, retratada em "Célia", em: " Uma Família Inglesa", e de forma velada, em personagens, nos romances de Júlio Dinis (seu querido, amiguinho, Guilherme.)
O escritor, por três vezes foi à Ilha da Madeira, em busca de cura, que nunca encontrou.
Veio a falecer a 12 de setembro de 1871, na Rua Costa Cabral, 284, Porto, com a idade de trinta e um anos, mergulhado de dor e tristeza, por não ter casado com a “sua” querida Henriquinha.
Nasceram-lhes nove filhos, todos pereceram, vítimas da tuberculose. Por último apareceu o Guilherminho, – Guilherme Gomes Coelho, – menininho que seria, mais tarde, famoso escritor, usando o pseudónimo literário, de: JÚLIO DINIS.
O rapazinho nascera a 14 de novembro de 1839. Doze anos depois de Dona Ana Constança se ter matrimoniado.
O parto deixou-a muito debilitada, e recomendou, o médico, receando que viesse a contrair a tuberculose, ausentar-se para a província, longe dos ares pestilentos da cidade.
Possuía Dona Ana, íntima amiga: a Senhora Dona Maria Teodora, que morava em Grijó, Gaia, na “Quinta da Fábrica", que prontamente se prontificou a recebê-la, assim como o pequerrucho Guilherme.
Dona Maria Teodora, nascera em 1782, em S. Nicolau, Porto, como sua amiguinha, embora em épocas diferentes.
Dona Teodora era solteira, de estatura meã, e senhora de vastos bens. Trajava à moda da cidade, de chapéu, mesmo quando se deslocava á aldeia.
Receando conflitos fratricidas, entre D. Miguel e D. Pedro, refugiou-se na sua quinta, fugindo das sarrafuscas da cidade do Porto.
Era prima do Sr. Reitor, de Grijó. O sacerdote, frequentemente a visitava, e ainda que Dona Teodora tivesse procurador, orientava-a no governo do património.
Lia pouco a Senhora Dona Maria Teodora, ou quase nada, e escrevia menos ainda. Confiava no procurador, que segundo parecia, lapidava-lhe o património.
Como Dona Ana Constança viesse a falecer, a 25 de novembro de 1844, o Guilherminho, ficou ao cuidado de Dona Teodora.
Afeiçoou-se, de tal modo, ao pequeno, assim como a criada, Maria Corveira, que ambas não o largavam, enchendo-o de mimos
Dona Teodora passou a ser para o Guilherminho, como se mãe fosse e o menino, que era amoroso, carinhosamente a tratava por: tia.
Entretanto a criança cresceu e foi matriculado na Escola Primária de Massarelos, Porto; depois o liceu, concluindo o curso de medicina, em 1868, vindo a ser professor, na Escola Médica.
Júlio Dinis, o Guilherminho, sempre que podia, e lho permitiam, " voava" para a aprazível “Quinta a Fábrica".
Saudades da tia Teodora? Sim; mas também da amiguinha, inesquecível, companheira de brincadeira, de infância.
Em Grijó, sentia-se em casa e, o local era-lhe recomendado para o tratamento do mal, que o corrompia.
Todavia, outro motivo, o levavam a Grijó...
OS AMORES DE GUILERMINHO E HENRIQUETA OU O GRANDE AMOR DE JÚLIO DINIS
(Continuação)
Por Humberto Pinho da Silva
O Prior, era primo de Dona Maria Teodora e tinha uma sobrinha, sua pupila, chamada Henriqueta.
A menina afeiçoou-se, desde cachopa, pelo Guilherminho, seu companheiro de folguedo, e tanto adiante foi a amizade, que nasceu um grande amor: uma grande paixão.
O Prior gostava do estudante (Júlio Dinis,) que descansava na "Quinta da Fábrica", e via, com bons olhos o namoro, assim como Dona Teodora, mas temiam a doença, que já lhe vitimara os irmãos. O rapaz era franzino, e não se descortinava melhoras, nem cura.
Já aos dezassete anos tivera o primeiro aviso, mandaram-no para Ovar, para casa da tia, irmã do pai, ai permaneceu quatro longos meses.
O casamento seria, portanto, desastroso e teria, certamente, desfecho funesto.
A Henriquinha era graciosa, bonita, bem-educada, bondosa e meiga. Possuía belos e abundantes cabelos castanhos, que a tornava, se possível, mais encantadora.
Com tantas qualidades seria-lhe fácil ser requestada pelos pimpões da localidade, e até da cidade vizinha, mas a Henriquinha recordava-se do companheiro da meninice. Ganhara-lhe amor: admirava-lhe não a formosura, que a não tinha, Mas: a inteligência, a cultura, e o futuro promissor. Conhecia a doença do Guilherminho, mas a paixão toldava-lhe, quase por completo, o perigo desse amor, e ansiosamente esperava por milagre: a cura.
Depois... sentia-se amada, não por mero amor, mas por copiosa paixão, que conhecia ser sincera, verdadeira e pura.
A menina, desde tenra idade, frequentava as festas, que se realizavam, na “Quinta da Fábrica “, e todas as semanas acompanhava o Sr. Prior, para brincar com o Guilherminho.
O Reitor, por muito que gostasse de Júlio Dinis, não podia aceitar o enlace. Tratou, então, de a casar com seu protegido, um tal, Monteiro de Carvalho.
Quando soube do matrimónio, Júlio Dinis, sentiu profundo desgosto, que o deixou tísico, de vez.
Se me perguntarem: A Henriqueta foi feliz? Não saberei responder; mas creio que não, ainda que nunca o dissesse ou demonstrasse. Portava-se com a dignidade de mulher casada. Todavia, continuava a ver e a conversar, embora esporadicamente, com Júlio Dinis.
Mas, quem pode ser feliz, se casou " forçado"? Via-se,ainda, com orgulho e vaidade, que certamente a ensoberbecia, retratada em "Célia", em: " Uma Família Inglesa", e de forma velada, em personagens, nos romances de Júlio Dinis (seu querido, amiguinho, Guilherme.)
O escritor, por três vezes foi à Ilha da Madeira, em busca de cura, que nunca encontrou.
Veio a falecer a 12 de setembro de 1871, na Rua Costa Cabral, 284, Porto, com a idade de trinta e um anos, mergulhado de dor e tristeza, por não ter casado com a “sua” querida Henriquinha.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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