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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

OS AMORES DE GUILHERMINHO E HENRIQUETA OU A GRANDE PAIXÃO DE JÚLIO DINIS

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Contraíra, em 1827, casamento, a Senhora Dona Ana Constança Potter Pereira Lopes, de ascendência inglesa, com o Dr. José Joaquim Gomes Coelho, médico do hospital da Ordem de S. Francisco, no Porto.
Nasceram-lhes nove filhos, todos pereceram, vítimas da tuberculose. Por último apareceu o Guilherminho, – Guilherme Gomes Coelho, – menininho que seria, mais tarde, famoso escritor, usando o pseudónimo literário, de: JÚLIO DINIS.
O rapazinho nascera a 14 de novembro de 1839. Doze anos depois de Dona Ana Constança se ter matrimoniado.
O parto deixou-a muito debilitada, e recomendou, o médico, receando que viesse a contrair a tuberculose, ausentar-se para a província, longe dos ares pestilentos da cidade.
Possuía Dona Ana, íntima amiga: a Senhora Dona Maria Teodora, que morava em Grijó, Gaia, na “Quinta da Fábrica", que prontamente se prontificou a recebê-la, assim como o pequerrucho Guilherme.
Dona Maria Teodora, nascera em 1782, em S. Nicolau, Porto, como sua amiguinha, embora em épocas diferentes.
Dona Teodora era solteira, de estatura meã, e senhora de vastos bens. Trajava à moda da cidade, de chapéu, mesmo quando se deslocava á aldeia.
Receando conflitos fratricidas, entre D. Miguel e D. Pedro, refugiou-se na sua quinta, fugindo das sarrafuscas da cidade do Porto.
Era prima do Sr. Reitor, de Grijó. O sacerdote, frequentemente a visitava, e ainda que Dona Teodora tivesse procurador, orientava-a no governo do património.
Lia pouco a Senhora Dona Maria Teodora, ou quase nada, e escrevia menos ainda. Confiava no procurador, que segundo parecia, lapidava-lhe o património.
Como Dona Ana Constança viesse a falecer, a 25 de novembro de 1844, o Guilherminho, ficou ao cuidado de Dona Teodora.
Afeiçoou-se, de tal modo, ao pequeno, assim como a criada, Maria Corveira, que ambas não o largavam, enchendo-o de mimos
Dona Teodora passou a ser para o Guilherminho, como se mãe fosse e o menino, que era amoroso, carinhosamente a tratava por: tia.
Entretanto a criança cresceu e foi matriculado na Escola Primária de Massarelos, Porto; depois o liceu, concluindo o curso de medicina, em 1868, vindo a ser professor, na Escola Médica.
Júlio Dinis, o Guilherminho, sempre que podia, e lho permitiam, " voava" para a aprazível “Quinta a Fábrica".
Saudades da tia Teodora? Sim; mas também da amiguinha, inesquecível, companheira de brincadeira, de infância.
Em Grijó, sentia-se em casa e, o local era-lhe recomendado para o tratamento do mal, que o corrompia.
Todavia, outro motivo, o levavam a Grijó...

OS AMORES DE GUILERMINHO E HENRIQUETA OU O GRANDE AMOR DE JÚLIO DINIS
(Continuação)
 Por Humberto Pinho da Silva

O Prior, era primo de Dona Maria Teodora e tinha uma sobrinha, sua pupila, chamada Henriqueta.
A menina afeiçoou-se, desde cachopa, pelo Guilherminho, seu companheiro de folguedo, e tanto adiante foi a amizade, que nasceu um grande amor: uma grande paixão.
O Prior gostava do estudante (Júlio Dinis,) que descansava na "Quinta da Fábrica", e via, com bons olhos o namoro, assim como Dona Teodora, mas temiam a doença, que já lhe vitimara os irmãos. O rapaz era franzino, e não se descortinava melhoras, nem cura.
Já aos dezassete anos tivera o primeiro aviso, mandaram-no para Ovar, para casa da tia, irmã do pai, ai permaneceu quatro longos meses.
O casamento seria, portanto, desastroso e teria, certamente, desfecho funesto.
A Henriquinha era graciosa, bonita, bem-educada, bondosa e meiga. Possuía belos e abundantes cabelos castanhos, que a tornava, se possível, mais encantadora.
Com tantas qualidades seria-lhe fácil ser requestada pelos pimpões da localidade, e até da cidade vizinha, mas a Henriquinha recordava-se do companheiro da meninice. Ganhara-lhe amor: admirava-lhe não a formosura, que a não tinha, Mas: a inteligência, a cultura, e o futuro promissor. Conhecia a doença do Guilherminho, mas a paixão toldava-lhe, quase por completo, o perigo desse amor, e ansiosamente esperava por milagre: a cura.
Depois... sentia-se amada, não por mero amor, mas por copiosa paixão, que conhecia ser sincera, verdadeira e pura.
A menina, desde tenra idade, frequentava as festas, que se realizavam, na “Quinta da Fábrica “, e todas as semanas acompanhava o Sr. Prior, para brincar com o Guilherminho. 
O Reitor, por muito que gostasse de Júlio Dinis, não podia aceitar o enlace. Tratou, então, de a casar com seu protegido, um tal, Monteiro de Carvalho.
Quando soube do matrimónio, Júlio Dinis, sentiu profundo desgosto, que o deixou tísico, de vez.
Se me perguntarem: A Henriqueta foi feliz? Não saberei responder; mas creio que não, ainda que nunca o dissesse ou demonstrasse. Portava-se com a dignidade de mulher casada. Todavia, continuava a ver e a conversar, embora esporadicamente, com Júlio Dinis. 
Mas, quem pode ser feliz, se casou " forçado"? Via-se,ainda, com orgulho e vaidade, que certamente a ensoberbecia, retratada em "Célia", em: " Uma Família Inglesa", e de forma velada, em personagens, nos romances de Júlio Dinis (seu querido, amiguinho, Guilherme.)
O escritor, por três vezes foi à Ilha da Madeira, em busca de cura, que nunca encontrou.
Veio a falecer a 12 de setembro de 1871, na Rua Costa Cabral, 284, Porto, com a idade de trinta e um anos, mergulhado de dor e tristeza, por não ter casado com a “sua” querida Henriquinha.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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