A Catedral de Bragança será o local da ordenação e um dos desafios do novo bispo que herda uma factura de cinco milhões de euros de uma obra inacabada, que já custou quase três vezes mais que o inicialmente previsto.
A única catedral do século XX começou a ser construída há 20 anos com um orçamento de 750 mil contos (3,750 milhões de euros), já absorveu quase 10 milhões de euros e ainda necessita de 800 mil euros para ficar concluída.
Dos dois milhões de euros já gastos foram liquidados à volta de seis milhões e o que falta pagar corresponde essencialmente a empréstimos bancários, segundo contou o presidente da Comissão Fabriqueira, João Gomes.
A este valor acrescem ainda os 800 mil euros para a última fase da obra, a conclusão das alas norte e sul, onde será instalado o arquivo diocesano e construídas três capelas mortuárias e a casa do guarda.
Os cerca de seis milhões de euros já liquidados foram realizados com donativos dos fiéis e compartições estatais ou fundos comunitários.
«A manutenção deste edifício vai ficar muito cara à diocese», constatou o cónego João Gomes, que tem acompanhado a obra desde o início e tem sido confrontado com gastos adicionais num projecto de arquitetura moderna em que sobressaem materiais nobres como granitos, madeiras e cobre.
Em apenas uma década já foi necessário substituir portas em madeira e corrigir uma parede exterior de 60 metros com blocos de granito que ameaçavam cair, consequência da «pressa com que a obra foi feita» para o bispo António Rafael fazer a cerimónia da dedicação a Nossa Senhora Rainha, uma semana antes de ser substituído, em Outubro de 2001, segundo contou.
Acrescem ainda os prejuízos dos furtos de placas de cobre do telhado. Só este ano, o cónego João Gomes já contabiliza 22 mil euros para reposição do material levado em três assaltos.
Considerada por alguns como «um sorvedouro de dinheiro» e «uma obra megalómana e desnecessária», esta obra foi o desígnio dos 30 anos de episcopado do bispo António Rafael, que ficou conhecido como «o bispo da catedral».
Pouco depois de ser nomeado, lançou simbolicamente, em 1982, a primeira pedra, mas só uma década depois é que a obra arrancou.
Concluído o esqueleto, fez a inauguração funcional, em 1995, por altura dos 450 anos da Diocese de Bragança-Miranda.
Em 2001, a diocese foi entregue ao bispo António Montes Moreira que agora vai passar o testemunho a José Cordeiro, e destaca, no balanço de uma década de episcopado, «o avanço que se deu às obras da catedral».
O presidente da Comissão Fabriqueira acredita que o novo bispo, com 44 anos, terá tempo de concluir a catedral com a contribuição de todos.
Quando lançou a obra, o antecessor António Rafael percorreu todos os 711 lugares da diocese a pedir que cada fiel contribuísse com a sua pedra para a nova catedral.
António Rafael enfrentou a fúria das gentes de Miranda, o berço da diocese, que se sentiram relegadas para segundo plano quando o prelado fixou o nome da diocese Bragança-Miranda e atribuiu à velha Sé de Miranda o estatuto de concatedral da nova de Bragança.
O cónego João Gomes dedicou «o melhor da vida de padre» a esta obra e «algumas migalhas que tinha enterrou-as ali», mas disse não estar «arrependido».
«Apesar de todos os trabalhos, de todos os sofrimentos e das lágrimas que se derramaram, valeu a pena, porque Bragança não tinha uma igreja-mãe com condições para cerimónias com alguma solenidade», considerou.
Lusa/SOL
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