Uma viagem a Trás-os-Montes através da obra da pintora Graça Morais é a proposta do espectáculo "Terra Quente-Terra Fria" com estreia marcada para hoje no Teatro Municipal de Bragança.
A encenadora Joana Providência aceitou o desafio da directora do TMB, Helena Genésio, para criar um espectáculo a partir do trabalho da pintora transmontana, tal como já tinha feito com Paulo Rego, e em pouco mais de um ano surgiu esta encenação de dança-teatro.
Depois da incursão nas narrativas fantasmáticas de Paula Rego, com "Mão na Boca", Joana Providência volta a desafiar o universo pictórico, desta feita com Graça Morais, para "mergulhar" no universo da pintora transmontana que retrata o quotidiano e as gentes desta região.
"Particularmente, a relação forte das mulheres com a terra, com o lugar, e com tudo o que daí vem", resume a autora do espetáculo, em que cinco pessoas em palco, três actores e duas bailarinas, interpretam este trabalho essencialmente de movimento, como explicou à Lusa Joana Providência.
"Quase não existe palavra. É através das sequências de movimento que vão trazendo à cena situações articuladas com música e vídeo", disse.
O espectáculo é uma coprodução do ACE Teatro do Bolhão (Porto) e Teatro Municipal de Bragança"e conjuga actores e bailarinos num mergulho ao interior do universo da pintora e que transporta o público para o pulsar da vida, para os rituais, inquietações e para as paisagens que habitam a sua obra".
"Pelo corpo e gesto dos bailarinos e atores evoca-se a ideia da terra e dos elementos tão particulares ao carácter das gentes de Trás-os-Montes, tão presentes na obra de Graça Morais" é o resumo deste espectáculo, com a duração de uma hora e um quarto.
A necessidade de ir ao encontro destas raízes, levou a uma residência que permitiu aos intervenientes "conhecer homens e mulheres com estórias sem fim, saídas de uma vida que decorre ainda em moldes tradicionais e antigos". "Vidas duras, marcadas por uma enorme força de viver e por uma vontade de aguentar, de levar em frente uma áspera existência arrancada às entranhas da terra. E todavia, um humor hilariante, uma deliciosa ironia, uma alegria explosiva que rebenta da secura árida e agreste e envolve as suas vidas", explicam.
Deste trabalho de pesquisa, em que a autora e a sua equipa contactaram de perto com as tradições, paisagens e pessoas ficou uma "teia que segreda e revela as metamorfoses, as marias, as escolhidas e tantos outros temas deste universo único de Graça Morais".
O espectáculo estreia em Bragança, onde pode ser visto sexta e sábado no Teatro Municipal, e será apresentado no Porto, entre 11 e 23 de outubro.
Para dar a conhecer o universo da pintora transmontana, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (CACGM) de Bragança, abre em simultâneo uma nova exposição, com o mesmo título, que pode ser visitada até 08 de janeiro de 2012.
O comissário da exposição e diretor do CACGM, Jorge da Costa, disse à Lusa que vão ser mostrados cerca de 70 quadros, alguns pela primeira vez.
LUSA
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