...continuação
Mirandela é um vasto concelho de muitas potencialidades agrícolas, pelas terras e pelo clima. De clima demasiadamente «cálido» e «afogadiço» no Verão, frio no Inverno, na Primavera e no Outono porém é de clima delicioso (Memória de Vila Nova de Patas, Torre de D. Chama), por ele se faz a transição das regiões da Terra Fria e da Terra Quente. As Memórias registam-lhe com efeito um intenso policultivo. De todos os cereais: centeio, trigo, milho e cevada; do vinho e do azeite; da importância dos legumes (sobretudo o feijão, muitas lentilhas), dos frutos (figos), melões e melancias. E também da castanha e do bicho da seda.
O centeio e o trigo são os cereais mais abundantes, bem presentes em todas as terras, com algumas excepções para o trigo (v.g. Regadeiro). Mais abundante o centeio. A cevada e o milho tem menos presença ainda que a cevada em algumas paróquias seja dita abundante (em Barcel, ao lado do trigo). O milho parece circunscrever-se ao milho grosso ou milhão. Com o milho parece estar fortemente articulada alguma abundância de produção de feijão. Com efeito às terras onde vai assinalada abundância de feijão regista-se também milho (Fradizela, Vila Nova de Patas, S. Pedro Velho, Torre de D. Chama…).
O vinho é de pouca produção ou mediana que basta para o consumo local. Com algumas excepções: Abreiro onde se refere que «metade irá para fora da terra». Grande importância, extensão e desenvolvimento tem a cultura da oliveira e a produção de azeite. Vai em geral referida para todas as terras. E muitas vezes vai referida como a produção mais e muito abundante (Abreiro; Freches). A oliveira confere aliás um tónus individualizado a esta paisagem de Mirandela, nos termos referidos pelo memorialista da vila, sede do concelho: «Na fertilíssima e agradável ribeira do rio Tua está situada a vila de Mirandela, (…) admira-se rodeada de um vistoso e excessivo numero de oliveiras que repartidas por diversas herdades a utilizam e formozeam» (Memória de Mirandela, concelho de Mirandela).
No concelho é grande a variedade de frutos que o clima propicia. Particular relevo para o figo. A sua presença vai expressamente referida para algumas terras. É o caso de Freixeda, onde são superabundantes.
Refere o Memorialista que «tem havido ano de recolher dízimo 30 arrobas, somente das que secam, porque das que se comem a verde, se não costuma pagar (dízimo)». Mas particular relevo tem a produção de melões e melancias. Para muitas terras vai referida a sua elevada produção. A sua importância económica e alimentar – também certamente de ultrapassagem das crises cerealíferas e carestias – tal como a castanha para outras terras vai sublinhada pelo pároco de Guide, ao referir-se à muita abundância e qualidade da produção e afirmar «de que os moradores tem uma grande conveniência, assim pobres como ricos». A estas culturas há que referir também testemunhos sobre a importância da criação do bicho da seda (v.g. para Freixeda, Mirandela) e também do linho. Neste contexto a castanha, abundante, parece ter uma importância mais relativa .
As condições climatéricas e também agrológicas criam em geral bases para melhores níveis económicos e de subsistência pela produção e sua variedade. De qualquer modo o tónus geral de insuficiência não está aqui afastado. Em Vale de Gouvinhas onde se colhe de todas as culturas, refere o pároco (que conta 86 vizinhos com as das duas anexas) que «de tudo isto só 10 ou 12 casas colhem para si», isto é, são auto-suficientes. Naturalmente as terras mais pobres são aquelas onde as culturas se reduzem ao pão centeio. Nesse caso, como se regista para Regodeiro, «é lugar tão pobre que (em 1758) ficou sem cura».
As paróquias do concelho de Miranda do Douro são, sem dúvida, as de menor variedade de culturas e produções, a exprimir a rigidez e uniformidade de condições físicas e climatéricas do planalto mirandês.
É esmagador aí o domínio, quase exclusivo, dos cereais: o centeio, o trigo e a cevada. O centeio é de longe o cereal dominante. O trigo e o trigo serodio (uma vez referido tremês, em Picote) estão também presentes em todas as paróquias, mas em quantidades muito menores. Repetidamente as paróquias referem que se produz «algum» «pouco» trigo. Às vezes (em duas freguesias) se refere a presença de alguma cevada, prova de uma ainda significativa presença. A presença do vinho, sempre também em pouca quantidade, vai referida para 10 memórias das 24 paróquias. Num caso, o de Picote, diz-se que é bom na qualidade, mas pouco na quantidade. Presença significativa tem as referências ao grão, isto é, o grão de bico; no final, às comunidades resta-lhes recorrer a alguma fruta. Em Granja referese também a produção de sumagre, «suficiente lavra». No essencial o pão e os gados são as principais referências e bases económicas desta «terra estéril», no dizer do pároco memorialista de Fonte Ladrão.
Em Vimioso os cereais são a cultura quase única: o centeio, o trigo e a cevada. Centeio e trigo, presentes em todas as paróquias, com muito mais abundância por regra para o centeio. Em algumas paróquias é muito escassa a produção de trigo. Em Pinelo o pároco diz que pouco mais se colhe do que 500 ou 600 alqueires, isto é, cerca de 15 carros de trigo. E refere também que «são muito poucos os que o colhem». É claro pois que o pão de trigo pouca presença tem na sustentação e alimentação popular e comunitária. Cultiva-se certamente em grande parte para solver foros e pensões fixadas em trigo. Ainda se refere cinco vezes (em 25 memórias) a presença da cevada, sempre pouca. As referências são também regulares à colheita de vinho e azeite, sempre também em pequenas quantidades. Sobreleva para além das referências aos frutos e gados, a referência ao linho, que em algumas terras se diz em grande quantidade (v.g. Vila Chã da Ribeira).
No seu conjunto, apesar da informação ser muito lacunar, a impressão que se transmite é a da pequena e pouca variada agricultura que não basta para autosuficiência. Na generalidade das terras, como regista o memorialista de Carção, a «moderada» produção obriga os moradores a sustentar-se com muito pão de fora.
continua...
Memórias Paroquiais 1758
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