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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A fonte dos engaranhos

Local: Múrias, MIRANDELA, BRAGANÇA

Na aldeia de Couços, freguesia de Múrias, Concelho de Mirandela, existe uma fonte célebre, chamada Fonte dos Engaranhos. 
 A razão desse nome estranho deve-se às suas águas que, segundo os habitantes da aldeia, curam as crianças engaranhadas, isto é, as crianças raquíticas ou enfezadas. 
 As mães, com filhos nessas condições, vão lá mergulhá-los e depois deixam aí os vestidos que levam, para, com eles, ficar também o mal. 
 Esse poder de curar, que tornou a fonte muito conhecida e procurada, deu origem a esta lenda bem curiosa.
 Certa noite de luar, passou por lá um aldeão que regressava do trabalho e se dirigia para sua casa. Ao passar, mesmo rente à pocinheira da fonte, sentiu um leve ruído que o sobressaltou. 
 Olhou para lá e viu, com grande surpresa, uma linda donzela que penteava os cabelos negros com um pente de oiro fino. Assustou-se com aquela inesperada aparição, mas logo se acalmou, quando ela lhe começou a falar, com uma voz meiga que inspirava confiança: 
 - Não tenhas receio, meu bom amigo, que eu não faço mal a ninguém. Eu sou uma moira encantada, condenada pelo destino a passar mil anos nesta fonte, transformada em cobra. Se fores capaz de me desencantar, dar-te-ei todos os meus tesoiros, porque sou muito rica. 
 - E que tenho de fazer para isso? — perguntou o homem. 
 - Nada, absolutamente nada. Basta que me deixes dar-te um beijo na boca, quando me tiver transformado em cobra. Mas não podes estremecer. 
 - Está bem, aceito. Coragem não me falta, diz o aldeão. 
 - Então prepara-te, que eu vou voltar à minha forma habitual. 
 Dito isto, transformou-se repentinamente numa enorme cobra preta e começou a aproximar-se do homem, já um pouco receoso. 
 Primeiro, enroscou-se-lhe às pernas. Depois, trepou-lhe à cinta e subiu-lhe ao peito, muito vagarosamente, para não o assustar. 
 O aldeão mantinha-se calmo, sem pestanejar. Mas, quando a serpente lhe tocou na boca para lhe dar o beijo, que era a prova de fogo, sentiu um arrepio na espinha que o fez estremecer. Foi o bastante para deitar tudo a perder. 
 Imediatamente a cobra se desprendeu e caiu ao chão, retomando a forma de mulher, para lhe dizer: 
 - Dobraste-me o encanto: agora, tenho que estar aqui mais dois mil anos. Não conseguiste desencantar-me, mas revelaste muita coragem e boa vontade. Por isso, vou ajudar-te a viver bem, sem teres necessidade de trabalhar. 
 Toma lá três moedas de oiro e volta cá, sempre que precisares de mais. 
 O camponês pegou nas três moedas de oiro e foi para casa, a esfregar as mãos de contentamento. Nunca na sua vida tinha tido nas suas mãos uma tal riqueza. 
 Daí em diante, ninguém mais o viu a trabalhar e todos andavam intrigados com a vida de rico que levava: sapatos de verniz, meias de seda, fato de casemira, camisa de popelina e gravata de luxo. 
 Bem comido, bem bebido, lavado e escarqueijado, suscitava a inveja e a admiração dos vizinhos que se interrogavam uns aos outros: 
 - Donde lhe virá o dinheiro para estes luxos? Aqui há coisa grossa. Quem cabritos vende e cabras não tem de alguma banda lhe vêm. 
 Bem tentavam saber dele a razão daquela mudança. Mas ele encolhia os ombros e não se descosia. 
 Até que, um dia, um amigo que tinha mais confiança com ele lhe disse à queima-roupa: 
 - Olha que o povo não se cala e já diz que tu andas a roubar ou tens pacto com o Diabo. Não queres revelar-me o teu segredo? Não confias em mim? 
 Então, ele abriu-se e confidenciou ao amigo que ia buscar o dinheiro à fonte dos engaranhos. Foi a sua desgraça. 
 No dia seguinte, voltou à fonte, mas já não viu as moedas que a moira encantada lhe punha à tona da água. No seu lugar, apenas enxergou três pedaços de carvão. Regressou, pois, a casa muito triste, de mãos abanar. 
 E, como não soube poupar, pensando que a mina não se esgotava, teve de voltar ao trabalho duro. Então, quando os vizinhos lhe perguntavam pelo dinheiro da fonte, respondia, com alguma dose de humor: 
 - Água o deu, água o levou. 
 Agora, quando alguém diz que precisa de dinheiro, as pessoas respondem-lhe: 
 - Vai à fonte dos engaranhos. 
 Ou então, se alguém vive bem sem trabalhar, comentam: 
 - Este vai à fonte dos engaranhos. 
 Mas, se a fonte deixou de dar dinheiro, para sustentar preguiçosos, continua a dar água milagrosa, para curar as crianças engaranhadas. 
 E esse poder de curar — diz o povo — vem-lhe da moira encantada que tem bom coração e gosta muito de crianças.

Fonte:FERREIRA, Joaquim Alves Lendas e Contos Infantis

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