Local: Vila Flor - Bragança
Contam os mais antigos que, no tempo da guerra da Patuleia, o concelho de Vila Flor esteve a ferro e fogo. As esperas, os enforcamentos e fuzilamentos eram constantes.
Havia então um morador, de nome António, pessoa instruída e bem-falante, que costumava falar às pessoas do cimo de patins e que era contrário aos que mandavam na vila. Por isso, logo foi considerado inimigo perigoso e julgado à revelia num tribunal de pé descalço, dizem que formado atrás duma parede.
O homem, sabendo que o procuravam guerrilheiros armados de arcabuzes, refugiou-se na serra do Facho, alimentando-se do que a Natureza lhe dava. O local é hoje assinalado pelo povo como o “Refúgio do António”, e perto dele situa-se a capelinha de Nossa Senhora da Lapa onde ia rezar todos os dias.
Numa certa noite, em que os guerrilheiros, com archotes e muitos cães, rebuscavam todos os cantos da serra, o fugitivo escondeu-se no fundo de uma toca, onde os animais o foram descobrir. Pôs-se então a matilha a ladrar e os perseguidores a gritar:
— Está ali o folião, suga cão! Está o folião, suga cão!
Conta-se que nesse momento o António evocou Nossa Senhora da Lapa, dizendo:
— Nossa Senhora da Lapa, não deixeis que levem a minha cabeça! Antes vo-la prometo por morte!
Nesse momento, os cães pararam de ladrar e seguiram adiante, farejando outros esconderijos. E os perseguidores foram atrás.
Passados os anos, e quando a paz voltou a estas terras, o António, já velhinho, tratou de cumprir a promessa. Em segredo, pediu ao coveiro da vila, o “Crido”, de quem muitos ainda se lembram, que após a sua morte levantasse a ossada do coval e colocasse a caveira no altar da Senhora da Lapa. Foi o que fez, e ela lá está como símbolo de fé e testemunha dos seus milagres.
Fonte:PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro (Narrações Orais), Vol. 2 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2010 , p.271
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(Henrique Martins)
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quinta-feira, 22 de outubro de 2015
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