Concatedral de Miranda do Douro alberga o último livro de missas de Diego de Bruceña?
Damos, em primeira mão, a notícia de uma obra do compositor espanhol, Diego de Bruceña que foi mestre capela nas catedrais de Orense, Oviedo, Burgos e Zamora.
Segundo os seus biógrafos era natural de Orense ou de alguma povoação próxima e teria nascido entre os anos de 1567 e 1571. Entrou como moço do coro na catedral de Orense e, em 1589, aparece como mestre capela da mesma catedral. Foi mestre capela da catedral de Oviedo, mas por pouco tempo, porque, em 1601, encontra-se como mestre capela da catedral de Burgos. Em 1602, o cabido da catedral de Zamora insiste com Bruceña para volte a tomar o lugar de mestre capela da catedral, o que significa que teria sido já mestre capela em Zamora, antes de 1602. O cabido de Zamora reconheceu qualidades extraordinárias em Diego de Bruceña “que dificilmente poderia existir outro tão competente como ele.” Em 1604, concorre a mestre capela da catedral de Toledo e, em 1606, concorre a mestre capela da catedral de Siguenza, mas não é aceite em nenhuma delas. Em 1607 concorre à catedral de Zamora, mas existia uma forte tensão entre ele e o cabido e só, em 1608, o vemos como mestre capela do coro da catedral zamorana. Questões de ordem jurídica impediram que este compositor ocupasse o lugar de mestre capela, antes desta data. Em 1608 o cabido de Burgos despediu-o e o acordo com o cabido de Zamora tem a data de 30 de Setembro de 1608. Ocupa o lugar de mestre capela da catedral de Zamora desde 1608 até ao dia 22 ou 23 de Janeiro de 1623, data em que faleceu. Devemos dizer que Diego de Bruceña veio ocupar o lugar deixado vago, na catedral de Zamora por Alonso de Tejeda, um grande mestre e compositor que foi para a catedral de Toledo, no ano de 1608. Por seu lado, Alonso de Tejeda veio ocupar de novo o lugar de Bruceña, logo depois da morte deste, em 1623.
Segundo os investigadores da vida e obra do mestre Bruceña, perdeu-se o volume que continha as missas, em polifonia, compostas por Diego de Bruceña. O cabido da catedral de Miranda do Douro tinha contínua convivência com o cabido de Zamora e com ele uma apertada relação litúrgica. Daí o facto de existir e se conservar, ainda hoje, na catedral mirandesa um volume (talvez o único) de missas em polifonia, da autoria de Diego de Bruceña. O volume está bastante danificado, mas tem partes ainda muito conservadas. Este volume contém as peças seguintes em polifonia original do século XVII:
Missa Elizabeth et Zachariae; Missa quae est Ista qui progreditur; Missa tu es pastor ovium; Missa Veni de Libano.
Contém ainda composições: Primi, Secundi, Tertii, Quarti, Quinti, Sexti, Septimi, Ocrtavi Toni.
Antífonas: Pro Quacumque necessitate; Comune Apostolorum; (Introito); Comune unius Martiris; Comune Apostolorum.
Várias antífonas: De Beata Virgine; Comune Plurimorum Martirum; Comune Confessorum non Pontificum; Comune Doctorum; In Transfiguratione Domini; Comune Virginum; Comune Confessorum Pontificum; De Beata Virgine.
O Volume citado foi impresso IN OFFICINA TYPOGRAPHICA ANTONII V…ANNO A CHRISTO NATO MDC… (Ilegível ) E tem como autor: DIDACUS DE BRUCEÑA. Todas estas referências estão impressas em latim no livro que citamos acima, como vão aqui descritas, bem como a parte musical.
A música litúrgica de órgão ou de capela na catedral de Miranda do Douro, nos séculos XVII e XVIII na sua maior parte era de compositores espanhóis. Nos livros da Catedral de Miranda encontramos citados os nomes e obras de autores do Renascimento como Tomás Luís de Vitória, um dos mais célebres compositores de música religiosa da Europa dos séculos XVI e XVII, Cristobal de Morales, Sebastian de Vivanco, e também dos autores portugueses do mesmo período: Manuel Cardoso, Duarte Lobo e Filipe de Magalhães. As obras destes compositores desapareceram. De Filipe de Magalhães conserva-se, ainda hoje, na catedral de Miranda do Douro, um volume de missas e motetes, a quatro e cinco vozes, dedicado pelo autor ao rei Filipe IV de Espanha.
A descoberta das obras de Diego de Bruceña e dos outros compositores espanhóis e também portugueses do tempo mostra que o cabido da catedral de Miranda do Douro tinha relações muito fortes com o cabido da catedral de Zamora e estava sempre actualizado na parte litúrgica "moderna", bem como em outros ramos da arte e da cultura do tempo, como temos vindo a demonstrar.
Daqui lançamos um apelo à Comissão de Música Sacra da Diocese de Bragança-Miranda, e ao Cabido da Catedral de Zamora no sentido de transcrever em música actual, estudar, desenvolver e divulgar estas obras de Diego de Bruceña e de Filipe de Magalhães, uma vez que são autênticas relíquias da música religiosa do Renascimento na Península Ibérica e têm um certo impacto na cultura das nossas regiões. A seu tempo podemos fazer uma descrição mais completa destes compositores.
António Rodrigues Mourinho
in: Mensageiro de Bragança
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