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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O Brasil nos Doze Concelhos do Distrito de Bragança

A EMIGRAÇÃO DO NORDESTE TRANSMONTANO PARA O BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XX
O capítulo dos destinos não ficaria completo se não tivéssemos em linha de conta as opções de destino dos emigrantes dos 12 concelhos componentes do distrito em estudo. Em termos quantitativos, a emigração para o Brasil tem um carácter de quase exclusividade. As fontes estatísticas designam-no, autonomamente, como “Brasil” e utiliza-se a expressão “Outros países da América do Sul” para identificar outras zonas geográficas da parte sul deste continente. As tendências concelhias acompanham a tendência distrital em termos de trajectórias geográficas: transoceânica e americana. “Ainda que extensivas a todo o território as saídas para o Brasil foram relevantes nas regiões centro e norte do país (...) particularmente no nordeste transmontano onde se situam os maiores valores (...).
Vejamos valores específicos para o período entre 1901-1920:
Alfândega da Fé
Dos 2 454 emigrantes para o período estudado, a América destaca-se nas trajectórias geográficas e muito concretamente o Brasil, com cerca de 85,33% (2 094 emigrantes).
Também 1912 registou para o Brasil 642 dos 799 emigrantes (80,35%) para esse ano, correspondendo a 26,16% do total de emigrantes alfandeguenses. Os anos de 1901, 1908, 1914, 1915 concentraram no Brasil o total de emigrantes do concelho.
Bragança
O mesmo cenário pode ajustar-se à realidade do concelho de Bragança. A América absorve 6 059 (98,40%) dos 6 157 emigrantes. Dentro deste contexto, o Brasil concentra 5 876 (95,43%) dos mesmos.
O Brasil apresenta o volume máximo em 1912 com 1 499 emigrantes (97,27%) do total para o mesmo ano e catalisa o total de emigrantes do concelho em 1907.
Carrazeda de Ansiães
Num universo de 3 608 emigrantes e dentro do grande continente americano, também os emigrantes deste concelho preferiram o Brasil. Dos 3 469 indivíduos que se deslocaram para este continente, 3 365 foram para o Brasil (97,00%), o país que concentrou o total de emigrantes do concelho em 1914 e 1915.
O ano de 1912 é o mais representativo nesta zona (19,56% do total do concelho). No tocante ao destino brasileiro, dos 706 emigrantes para esse ano, 701 (99,29%) optaram por aquele país.
Freixo de Espada-à-Cinta
Num total de 2 031 emigrantes para o período estudado, continua a destacar-se o continente americano com 1 951 emigrantes (96,06%). O Brasil ocupa um lugar de destaque com a cifra de 1 837 (90,44%).
O Brasil apresenta o pico em 1912 com 329 emigrantes (95,36%) num universo de 345 para esse ano, o qual se destaca nestes dois decénios, pois abrange 16,98% do total de emigrantes freixenenses.
Macedo de Cavaleiros
Registou entre 1901 e 1920 um total de 5 858 emigrantes. A América também é o continente de destaque neste concelho, absorveu cerca de 5 736 indivíduos, correspondendo a 97,91% dos emigrantes macedenses.
Todo o protagonismo americano se centraliza no Brasil. Para aqui se dirigiram 93,82% dos emigrantes de Macedo (5 496 no total), destacando-se o ano de 1912; cerca de 1 765 (96,87%) dos 1 822 emigrantes segue rumo a este país que monopoliza o total dos emigrantes macedenses para os anos de 1908 e 1914.
Miranda do Douro
Num concelho que apresenta apenas 527 emigrantes, a América concentra 519, ou seja 98,48%. O Brasil mantém o seu peso numérico com 451 dos 527 emigrantes (85,57%). O Brasil catalisa 100% dos emigrantes registados para os anos de 1901, 1902, 1904, 1906, 1911.
Também em 1913 se apresentam os valores superiores: 72 emigrantes de um total de 78 (92,30% desse ano). O ano de 1913 é o mais significativo, catalisa 14,80% dos emigrantes deste concelho.
Mirandela
Num universo de 5 144 emigrantes, a América está representada com 4 981 (96,83%). O Brasil tem o peso mais considerável neste continente: 4 932 indivíduos (95,87%).
O ano de 1912 é o que apresenta maior contingente emigratório: 1 359 num universo de 5 144 emigrantes (26,41%), dos quais 1 325 emigrantes (97,49%) foram para o Brasil. O Brasil absorve 100% dos emigrantes do ano de 1914.
Mogadouro
O concelho que apresenta maior número de emigrantes nos dois primeiros decénios do século XX. À semelhança dos outros concelhos do Distrito, é para a América que se destina o maior número de indivíduos. Num total de 6 720, cerca de 6 659 rumaram para este continente, ou seja cerca de 99,09%.
A zona mais privilegiada foi o Brasil que concentrou 97,41% dos emigrantes mogadourenses, ou seja, 6 546 indivíduos. O Brasil revela em 1912 o volume mais considerável: 1 536 (99,48% dos 1 544 para esse ano). Os volumes anuais de emigrantes para este país são consideráveis. Em 1914 concentrou 100% dos emigrantes concelhios.
Torre de Moncorvo
O panorama deste concelho não foge à regra. AAmérica concentrou 4 652 dos 4 812 emigrantes (96,67%). O Brasil foi, sem dúvida, o grande catalisador dos emigrantes deste município (82,35%).
Sem dúvida, o ano de 1912 é também determinante no concelho, absorvendo 19,51% dos emigrantes moncorvenses e o Brasil com 914 emigrantes (97,33%).
O Brasil concentra 100% dos emigrantes moncorvenses de 1908 num total de 234.
Vila Flor
Entre 1901 e 1920, este concelho registou 2 459 emigrantes, 2 390 concentraram- se na América (97,19%). Neste continente o Brasil também se destaca com 2 373 emigrantes (96,50%).
O ano de 1912 é o mais significativo em volume de emigrantes: 25,41% do total. O Brasil absorveu todos os emigrantes de Vila Flor de 1908, 1909, 1910, 1913 e 1914.
Vimioso
Registaram-se para este concelho 2 443 emigrantes; destes, 99,50% refugiaram- se no grande continente americano (2 431 emigrantes) com destaque para o Brasil que atingiu a cifra de 2 348 (96,11%).
O ano de 1912 é o mais representativo pelo volume de emigrantes: 38,27% do total, e o Brasil revela também, neste ano, o seu valor mais elevado, 916 de 935 emigrantes (97,96%), tendo atraído o total de emigrantes dos anos de 1901, 1902, 1903, 1907 e 1919.
Vinhais
É um dos concelhos que registou maior número de emigrantes. Num universo de 5 947, o continente americano foi destino para 5 905 (99,29%), salientando- se o Brasil com 5 790 (97,36%).
Vinhais é um concelho que apresenta valores elevados e muito extremados no tocante aos destinos. Os valores numéricos concentram-se no continente americano e só o Brasil absorve 100% dos emigrantes vinhaenses dos anos de 1908, 1909 e 1910.
O ano 1913 é o que regista mais emigrantes deste concelho: 14,71% do total; para o Brasil dirigiram-se 873, (99,77% do total anual). A distribuição anual para este destino é constante e somente nos anos de 1903, 1917 e 1918 não regista valores superiores a 100 emigrantes.
Concretizando a distribuição de emigrantes dos vários concelhos com destino ao Brasil, e relativamente ao total de emigrantes do distrito, constatamos que os três concelhos que apresentam maior número de emigrantes para este país são os que também registam valores superiores quanto aos totais de emigrantes (gráficos n.º 1 e 2).

Todos os concelhos registam fortes concentrações de emigrantes no Brasil, mas Mogadouro lidera os contingentes, tal como se pode observar no quadro percentual que se segue:

CONCLUSÃO
O Brasil foi o país soberano do grande continente americano em termos de emigração nordestina. Concentrou perto de 94% do total de emigrantes do Nordeste Transmontano. No fluxo emigrante português para o Brasil, entre 1901-1920, estimado em 51 598 indivíduos, os emigrantes do Distrito de Bragança atingiram 9%, direccionados, essencialmente, para São Paulo e Rio de Janeiro.
O Brasil simbolizou, sem dúvida, o destino da “contradição”, da “miragem”, onde se concentraram mais de 50% das mulheres emigrantes do Distrito de Bragança, entre 1914-1920. Anos houve em que conseguiu atrair 100% dos emigrantes de alguns concelhos. Mogadouro, Bragança e Vinhais destacam-se no volume de emigrantes que rumaram para o Brasil. Este país representou uma opção multisecular, ao atrair emigrantes portugueses com afinidades culturais e linguísticas, ao exercer sobre eles o grande fascínio da prosperidade, ainda que nem sempre concretizada na prática, deixando muitos emigrantes apenas no patamar dos sonhos e dos mitos.
O Brasil atraiu, essencialmente, os emigrantes do Nordeste Transmontano, pela conjugação de conjunturas desfavoráveis que a região reflectia no início do século, e pelas necessidades de mão-de-obra de que carecia o grande território brasileiro para revitalizar a economia. A produção cafeeira, entre outras explorações agrícolas (ex: borracha, algodão), dificilmente sobreviveriam sem o braço escravo, abolido em finais do século XIX; rapidamente, as autoridades brasileiras promoveram, subtilmente, a captação de braços alternativos e aliciantes salariais. Os trabalhadores emigrantes, pouco qualificados, albergados sem condições, ficavam expostos às maiores vicissitudes contratuais, tanto nas
explorações agrícolas, como mineiras, passando pelas actividades comerciais, portuárias ou na construção de vias de comunicação.
Contraditória e tentacularmente, o Brasil, o grande “cruzeiro do sul”, simbolizava a terra da promissão, da segurança monetária, do sucesso tão desejado nos grupos emigrantes, mas também da desilusão, da difícil ou impossível riqueza. Por isso se retratam as terras de Santa Cruz como “açougue humano”; “Terra brasileira” que “socorre pela caridade”; “Brasil do ouro” e “Suspirado terreno americano”.

Maria da Graça Lopes Fernandes Martins

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