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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 24 de outubro de 2015

A Esteva


Conhece a Esteva? Aquele mato de flores brancas tão comum nos nossos campos? Pensava que a Esteva não é mais do que um simples arbusto transitório sem importância? Pensava? Então leia esta surpresa.
Ensinaram-me, quando comecei a estudar ecologia que a esteva, ou xara como é conhecida em algumas regiões próximas da fronteira com a Espanha, era um indicativo da chegada à fase final da degradação de muitos dos nossos biotopos.
Com efeito, quando os sulcos sucessivos do arado, em busca da cama para o trigo, acabaram por deixar à superfície pouco mais do que a rocha-mãe, a qual ficou exposta à impiedosa soalheira ou aos invernosos frios arrancados do coração da Meseta, que ser vivo há, capaz de resistir a tais rigores? A esteva.
Que, a pouco e pouco, perserverante, com uma vontade inquebrável, nascendo às vezes nos intervalos das rochas, rasgando chão por entre as fendas dos xistos, consegue sobreviver. Depois instalar-se e, finalmente, cobrir encostas e encostas outrora deixadas nuas pelo abuso dos homens. E o aroma vigoroso do seu ládano passa a encher de Verão as noites quentes. E as magras folhas, cobertas de goma, resistindo ao calor do Sol, criam, a pouco e pouco, sombra. Onde nasce tojo, rosmaninho, pilriteiro, aqui e ali catapereiro, silvados e um conjunto sucessivo de arbustos onde os pássaros fazem ninho. Onde o coelho se furta das vistas de uma águia. Onde a perdiz refugia os perdigotos que escapam assim de morrer desidratados.
Onde o javali encontra refúgio e comida revolvendo o solo já formado em torno das raízes. Rico em insectos e larvas que a galinhola, escapada aos frios setentrionais, também não desconhece.
Quando o homem recomeça, um dia, a arrancar a esteva - e foi com ela que durante séculos aqueceu o forno do pão dá-se conta que por entre aquele matagal, aparentemente monótono, vêm já irrompendo azinheiras e sobreiros, nascidos das landes e bolotas deixadas por algum gaio, ou pombo, ou outro qualquer dos recursos maravilhosos de que a natureza deitou mão.
Voltou o montado!
Voltaram os densos matos mediterrânicos e toda a riqueza faunística que os acompanha. E eis que então, com o despontar da Primavera, com o renascer do campo, aparece a serra coberta de um enorme manto branco. Flores de pétalas imaculadas umas, outras marcadas por um pequeno coração vermelho-sangue.
Flores que atraem as abelhas mas que também ajudam a cerva a dar mais leite à cria.
Flores que gerarão as cápsulas que irão ajudar a fazer do cervato o veado de amanhã. O senhor da serra e das várzeas, cujo berro da brama encherá os vales no Setembro próximo!
Da esteva, da modesta e pobre esteva, brotou toda a esperança...

João Filipe Flores Bugalho

2 comentários:

  1. ESTEVA - A FLOR BRANCA COM AS CINCO CHAGAS DE CRISTO.
    Coisas da natureza para nos lembrar que neste mundo decadente... brotou uma eterna esperança.

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  2. Lindo este texto e muito didáctico! Numa simples flor, por sinal muito simples e bonita, o gérmen da resistência na renovação da vida e da esperança nela. Bem hajam por esta lição de vida através do exemplo de uma simples flor- A ESTEVA!





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