Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O último canastreiro da Lousa

Aos 63 anos, José Pulgas vê a arte que aprendeu em criança em risco de desaparecer

Aos 5 anos, José Pulgas, natural da Lousa, concelho de Torre de Moncorvo, já ajudava o pai a moldar as “cavacas” de madeira de castanho para fazer as cestas e canastras que, naquele tempo, eram usadas nos trabalhos do campo.

A arte de canastreiro é uma das profissões características da localidade, onde, em tempos, laboraram seis “artistas”. Actualmente, José Pulgas é o último canastreiro da Lousa e até do concelho moncorvense.

Aos 63 anos, o artesão recorda com mágoa, mas também com saudade, os tempos em que trabalhava de sol a sol, para conseguir ganhar dinheiro para o sustento da família.

“Antigamente vivíamos disto. Numa altura, fui trabalhar para a quinta de Vila Meã e em quatro dias ganhei dois contos. Naquele tempo era dinheiro…”, enfatiza o canastreiro.
A dureza do trabalho, desde a recolha da madeira à confecção dos cestos, é uma das dificuldades realçadas por este artesão. “É uma profissão muito dura e cansativa. Ao fazer as cavacas apanha-se cada queimadela …”, ironiza José Pulgas.

A par do esforço físico, o canastreiro realça que também é preciso ter habilidade nas mãos, visto que não é fácil transformar um pau em cavacas de diferentes tamanhos, para fazer as cestas e as canastras que, antigamente, eram utilizadas nas vindimas, na apanha da azeitona e, até, das batatas.
“Não é qualquer um que consegue tirar uma cavaca. Mas eu, desde garoto, que consigo fazer cavacas com os olhos fechados”, salientou José Pulgas.

Trabalho árduo em tempos difíceis

A perfeição é outro dos pormenores que caracteriza o trabalho deste artesão, que mostra, com orgulho, as cestas que ainda faz para oferecer aos amigos e familiares.
No conjunto dos seis canastreiros de antigamente, José Pulgas afirma que o melhor era o seu pai, com quem garante ter aprendido a ser um bom artista.
“Aqui na aldeia toda a gente queria o Zé Pulgas à jeira, porque trabalhava muito e bem”, diz o artesão com orgulho.

No entanto, não esquece as amarguras que passou com o seu pai, enquanto aprendia a arte.
“Às vezes, quando estava a cortar as cavacas, havia algumas que me saíam mal. Quando o meu pai não via escondi-as debaixo do banco, mas, quando ele se apercebia, levava com uma pelas costas abaixo”, recorda o artista.

Como era o filho mais velho, José Pulgas ganhou o gosto pela arte do pai, depois de ter sido obrigado a trabalhar, desde os 5 anos, para ajudar no sustento da família.
A partir daí, seguiu esta profissão até aos 25 anos, altura em decidiu emigrar para a Alemanha, à procura de uma vida melhor.

Passados 14 anos, José Pulgas voltou à aldeia que o viu nascer, mas optou por dedicar-se mais à agricultura, visto que os cestos e os baldes de plástico vieram substituir as cestas e as canastras em madeira de castanho.

Plásticos substituem cestas e canastras

“Enquanto um balde custa um ou dois euros, eu não vendo uma cesta por menos de 40 ou 50 euros. Isto dá muito trabalho tanto a fazer, como a arranjar e a preparar a matéria-prima”, realça o canastreiro.

Além disso, José Pulgas conta que, actualmente, é muito complicado arranjar a madeira para fazer as peças artesanais. “Eu costumo ir às matas. Corto um pau aqui, outro além e ninguém me diz nada, mas os incêndios têm queimado tudo e já não é fácil encontrar madeira suficiente para fazer estes trabalhos”, lamenta.

Aliás, o artesão deixou de participar na Feira de Produtos da Terra e Artesanato da Lousa, porque não tem conseguido arranjar matéria-prima suficiente para mostrar aos curiosos a arte de transformar a madeira de castanho em cestas e canastras.
“Na primeira edição da feira, as peças que fiz vendi-as todas bem vendidas. E, as pessoas que as adquiriram dizem que não se desfazem daqueles artigos por valor nenhum”, acrescentou o canastreiro.

Ao ver esta profissão chegar ao fim, José Pulgas afirma que gostava de ensinar a arte às gerações mais jovens, e fala da necessidade de criar cursos de formação direccionados para esta arte.
“Eu não me importava de dar algumas lições para ensinar os mais novos a trabalhar nisto. Apesar destes artigos serem usados, apenas, para decoração, é importante que haja sempre alguém que os saiba fazer”, concluiu José Pulgas.

in:diariodetrasosmontes.com

Sem comentários:

Enviar um comentário