Foto: Paula Lousada |
"Uma miséria" dizem os habitantes de Santa Cruz. "Uma miséria completa. Quando chove piora com os lodos, quando não chove é o pó. Estamos assim aqui nesta miséria sei lá porquê", diz Luzia Pires. Aristides Lousada, de 89 anos, acrescenta que " já caíram por aí muitas pessoas. Algumas ruas são inclinadas e para ir à missa, às vezes só de galochas!". Maria dos Santos diz também que "quando é no inverno aqui esta lodaria toda só de galocha. Não posso sair de casa. Tenho a minha irmã no mais desviada e não posso lá ir porque estamos neste estado".
As obras começaram em 2013 e em julho de 2014 pararam. Sem pavimentação, as ruas de inverno transformam-se em lamaçais e no verão o pó entra pelas casas. Os habitantes, maioritariamente idosos, acusam a autarquia de falta de planeamento e de só ter posto os contadores da água a funcionar. "O erro é que eles começaram as obras em quatro aldeias ao mesmo tempo. Começavam numa e acabavam e depois quando tivessem dinheiro fariam a outra, só que tinham pressa em receber a água", diz Norberto Pires. Paula Lousada acrescenta que "puseram os contadores e puseram-nos a pagar a água. As promessas foram de que no abril a seguir a fazerem as obras iam compor ruas, mas é como se vê, não temos nada arranjado. O presidente começou a fazer sem ter a certeza que a podia acabar, portanto é falta de planeamento".
Américo Pereira, o presidente da Câmara de Vinhais, começa por dizer que compreende a situação: "as pessoas têm toda a razão. Eu também estaria indignado se lá vivesse". Depois acrescenta que a responsabilidade é do anterior governo. "Ainda não está pronta por falta de financiamento comunitário graças à atitude que teve o anterior governo, que decidiu cortar essas verbas às autarquias. Neste momento o concurso está a decorrer e, em breve, iremos começar as obras de pavimentação".
Na terra de São Brás, a desconfiança de São Tomé já tomou parte da população que põe pouca fé nas palavras do autarca. " Não, não acredito", diz Paula Lousada. "Essa promessa já vem desde o primeiro ano que fizeram obras". Guilhermina Pires salienta também que "dizem que não têm dinheiro mas para as aldeias 'boas' há dinheiro para tudo, para nós, da aldeia pequena, então não há nada, só há miséria".
Uma miséria que a aldeia de Santa Cruz carrega às costas já lá vão três anos. No final deste mês, além de ameaçarem não pagar mais água, um abaixo-assinado da população residente, das pessoas da aldeia que vivem fora e dos emigrantes, vai seguir para o Presidente da República, Assembleia da República, Provedor de Justiça e Câmara Municipal de Vinhais.
Afonso de Sousa
TSF
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