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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

MEMÓRIAS ORAIS - TEXTO ARTUR FILIPE

“Os garotos, ali ao cimo, chamavam-lhe o Rossio, aquilo éramos como os estorninhos, quando se veem essas debandadas no ar, espessos! Agora vai a gente daqui ao cimo do povo, à Associação a tomar café à noite, vou ao baixo e vou ao cimo e não se vê uma alma.”
Meio inquieto, vai deixando escapar a cada frase pequenos sons que as castanholas que tem na mão vão reproduzindo. Aprendeu a arte do instrumento há pouco tempo, diz, mas já vai “tocando um bocadito”. “Só comecei aqui há tempos. Veio um do Porto, trabalhou muitos anos na Carris, passei à porta dele e emprestou-me umas castanholas e eu estive a vê-las, “amanhã já vou fazer umas” e tenho lá três ou quatro já na chaminé”. As mãos, apoiadas no cajado, refletem a dureza do trabalho dos tempos antigos e ainda assim o engenho, para as pequenas “aranguiçes” que vai fazendo na distração dos dias, como os peões ou as castanholas.
Fez a tropa na Índia e em verso conta, do início ao fim, o seu serviço militar. E também os tormentos que por lá passou.
Artur Filipe sempre viveu em Mazouco e onde agora se vê o “monte” e o “silveirão” eram terras de centeio e trigo, muitas delas, ajudou-as a lavrar. A gente pela aldeia, já não lhe lembra os “estorninhos em debandada”, “já não se vê uma alma”, diz.
“Antigamente à noite aqui toda a gente dançava, eram muitas raparigas na altura, já há tantos anos, já vou fazer os 80, juntavam-se aqui as raparigas, era às horas aqui a dançar, e ele a tocar, tocava muito bem realejo, chamavam-lhe Fernando (...)”. Augusto aprendeu com ele o realejo. Já o tirou do bolso e dá pequenos sopros a ver se afina. Entre músicas que vai acompanhando com o som das castanholas, toca o hino nacional, este, sem nenhum esquecimento, como que tocado por quem segue uma partitura.

A música é como que a sua companheira. A mulher já não está vai pra 11 anos. Conheceu-a e namorou-a à janela, “foi assim que começaram”, diz. Rapidamente desvia o olhar. As palavras ainda lhe faltam quando fala da mulher e não se quer alongar muito. Antes teima em lembrar-se de uma música do Paulo de Carvalho, e agora, de si, fica apenas o som do realejo.

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