Meio inquieto, vai deixando escapar a cada frase pequenos sons que as castanholas que tem na mão vão reproduzindo. Aprendeu a arte do instrumento há pouco tempo, diz, mas já vai “tocando um bocadito”. “Só comecei aqui há tempos. Veio um do Porto, trabalhou muitos anos na Carris, passei à porta dele e emprestou-me umas castanholas e eu estive a vê-las, “amanhã já vou fazer umas” e tenho lá três ou quatro já na chaminé”. As mãos, apoiadas no cajado, refletem a dureza do trabalho dos tempos antigos e ainda assim o engenho, para as pequenas “aranguiçes” que vai fazendo na distração dos dias, como os peões ou as castanholas.
Fez a tropa na Índia e em verso conta, do início ao fim, o seu serviço militar. E também os tormentos que por lá passou.
Artur Filipe sempre viveu em Mazouco e onde agora se vê o “monte” e o “silveirão” eram terras de centeio e trigo, muitas delas, ajudou-as a lavrar. A gente pela aldeia, já não lhe lembra os “estorninhos em debandada”, “já não se vê uma alma”, diz.
“Antigamente à noite aqui toda a gente dançava, eram muitas raparigas na altura, já há tantos anos, já vou fazer os 80, juntavam-se aqui as raparigas, era às horas aqui a dançar, e ele a tocar, tocava muito bem realejo, chamavam-lhe Fernando (...)”. Augusto aprendeu com ele o realejo. Já o tirou do bolso e dá pequenos sopros a ver se afina. Entre músicas que vai acompanhando com o som das castanholas, toca o hino nacional, este, sem nenhum esquecimento, como que tocado por quem segue uma partitura.
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