O líder de um dos maiores empregadores do concelho explica quais os planos para o futuro, depois de um ato eleitoral em que, pela primeira vez, enfrentou concorrência. No entanto, a vitória foi esmagadora, com quase o dobro da votação.
Mensageiro de Bragança: São 17 anos à frente da SCMB. Entra agora num novo mandato. É uma espécie de ano zero?
Eleutério Alves: Não necessariamente. Há, de facto, novos estatutos, que tiveram que ser alterados em função de mudança da lei mas será um mandato de continuidade. São 17 anos como provedor mas foram mais sete anos como vice-provedor, o que perfaz 24 anos ao serviço da Santa Casa. Será uma continuidade, mais afirmada ainda porque esperamos manter todos os serviços que prestamos, reforçar a nossa actividade, conferir maior qualidade e se possivel continuar a crescer, sem nunca perder de vista a preocupação da sustentabilidade da instituição.Estamos num tempo em que as IPSS se debatem com enormes constrangimentos na sua situação financeira, não por razões de gestão mas, sobretudo, determinadas pela situação sócio-económica do país e das famílias. O Estado, na comparticipação que faz através dos protocolos de cooperação, apenas cobre 35 por cento dos custos dos serviços que prestamos. Os outros 65 por cento têm de ser encontrados em receitas próprias pelas instituições ou nas comparticipações dos utentes e familiares, o que no momento atual não está a ser muito conseguido.
MB.: Porquê?
EA.: A Santa Casa da Misericórdia tem como objetivo ajudar os mais pobres, os carenciados, os dependentes, os mais frágeis, aqueles que não têm condições para usufruir de uma vida com dignidade. E, esses cidadãos, são aqueles que não podem pagar comparticipações de 700 euros por mês para o resultado ser sustentável. Por exemplo, num lar, o custo médio com um utente ronda os mil euros. Se o Estado só comparticipa com 350 euros, faltam 650 euros para que o utente não dê prejuízo à instituição. Obviamente que, através da justiça social que procuramos criar, temos utentes que não pagam comparticipação familiar, temos alguns que pagam o valor do serviço, outros que pagam um pouco mais, para podermos garantir esse equilíbrio. Mas não é fácil.
MB.: Porque diz isso?
EA.: Se começarmos a admitir só utentes que podem pagar estamos a contrariar o nosso objetivo deixando de fora aqueles que necessitam e apoiar apenas os podem pagar. E essa não é a missão de uma instituição de solidariedade. A nossa missão é apoiar e ajudar aqueles que não têm outra forma de ter qualidade de vida e dignidade de vida. E esses são os que não podem pagar os custos. Por isso, vamos procurar ajustar os interesses de todos, utentes, famílias e instituição, para que, sem pôr em causa os nossos objetivos, consigamos garantir condições de sustentabilidade.
MB.: Para além disso, quais as prioridades do mandato?
EA.: Pretendemos requalificar os equipamentos. Há muitos anos que não se fazem obras de conservação. Os edifícios dos lares começam a ter alguma degradação, os centros infantis também, muito equipamento mobiliário está a ficar obsoleto. Agora temos a gestão do CEE, que está numa situação deplorável em termos de equipamento, edificio e mobiliário. A eficiência energética é mínima. Temos de aproveitar a oportunidade que se nos abre no Portugal 2020 para requalificar tudo isto. Para isso precisamos de bons parceiros e a Câmara Municipal será importante para nos podermos candidatar aos fundos comunitários, garantindo apoio na execução de projectos, apoio técnico e, ainda, algum apoio financeiro na contrapartida que compete à instituição. Para termos qualidade no serviço também temos de ter qualidade nos equipamentos.
Também teremos de nos preocupar com a qualificação dos colaboradores. O padrão do utente mudou muito nos últimos 30 anos. Hoje, temos utentes que vêm com 65 anos e ficam até aos 100. A longevidade traz maior dependência, seja por razões de mobilidade, seja pela situação de demência em que muitos caem. As exigências de competências profissionais dos nossos colaboradores são muito distintas e maiores que as de há 30 anos. Muitos dos nossos colaboradores já têm uma idade elevada e estão perto da reforma.A promoção do envelhecimento ativo a que nos propomos leva a que nos ocupemos com o tempo dos utentes aqui na instituição, mantendo-os animados, a desenvolver atividades adequadas, que os ajude a manter um bem-estar físico e emocional. Por isso, a formação dos trabalhadores é importante e decisiva.
Há, também, a necessidade de certificar os nossos serviços. A qualidade, vamo-la aferindo pelo que nos dizem os utentes e as suas famílias e pelo reconhecimento que também temos do bem que aqui fazemos. Mas a certificação dos serviços é importante, até para credibilizar essa qualidade. Vamos iniciar essa certificação no imediato, com a Unidade de Cuidados Continuados, que é a última que construímos, e passaremos no próximo ano a outras valências.
Para além disso, neste mandato temos uma efeméride que exige ser comemorada com dignidade, que são os 500 anos da constituição da Santa Casa da Misericórdia de Bragança. Já vimos com 500 anos de História atrás de nós, que custaram muito, tiveram muitas vicissitudes, mas houve muita gente a fazer o bem cá dentro. Agora somos nós. Por isso, queremos que os cinco séculos sejam comemorados com a dignidade que a instituição merece e, também, o reconhecimento e gratidão que devemos a todos os que nestes 500 anos trabalharam para a instituição e que a cidade de Bragança se orgulhe de uma instituição como esta, que se orgulhe de uma instituição que ao longo de 500 anos soube fazer o bem fazendo-o bem. Se já hoje a Santa Casa da Misericórdia é um orgulho da cidade, queremos que a partir desta efeméride seja um orgulho maior.
MB.: Estes últimos anos foram de crescimento grande da instituição. O que é que ainda falta fazer?
EA.: Foi um crescimento, mas planeado e sustentado. Temos vindo a crescer mas não a qualquer preço. Sempre que criamos mais uma valência ou nos atrevemos a receber mais um serviço, procuramos que sejam sustentáveis. É o caso do Centro de Educação Especial e o caso da Unidade de Cuidados Continuados de Bragança, que são as valências mais recentes. Mas temos ainda condições para crescer mais. A nossa estratégia de crescimento vai ser mais centrada na área da saúde. Vamos manter tudo o que temos em valências sociais, mesmo acreditando que algumas sobretudo na área da infância possam passar por alguma dificuldade já que há menos crianças e há uma oferta forte no setor público. Hoje temos menos crianças no pré-escolar do que tínhamos há dez anos. Temos algum pessoal excedentário nessa valência que não foi despedido e está a ser requalificado para outras funções. Com a creche, por outro lado, estamos a sentir uma maior procura, porque o Estado não tem creches públicas. O Ministério da Educação e as autarquias ainda não entraram nessa fase, mas não sabemos o futuro.
Na parte da saúde, não há respostas suficientes. Temos os Cuidados Continuados que não existiam em Bragança e desde que foram abertos têm lista de espera permanente, que já se estende a pessoas de fora do distrito que querem vir para o nosso serviço.
Temos uma clínica de fisioterapia com acordo com o Serviço Nacional de Saúde e outros sub-sistemas de saúde com capacidade para atender até 80 utentes diários.
Propomo-nos criar uma Unidade especializada em demências por forma a garantir maior e melhor apoio aos cidadãos da nossa região para que, necessitando desses cuidados não tenham de abandonar a sua zona de residência e conforto familiar.
in:mdb.pt
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