Igreja de São João de Sezulfe |
Diz a tradição ou lenda que a imagem de Nossa Senhora das Flores, venerada numa capela no termo de Sezulfe, concelho de Macedo de Cavaleiros, foi escondida pelos cristãos, quando da invasão dos mouros, debaixo de um monte de pedras, que ao depois, com o tempo, cobriram de todo as silvas e outras plantas silvestres. Depois da expulsão dos mouros, foi encontrada, não se sabe como, e é venerada com muita devoção.
Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, vol. IX, Porto, 1934, pp. 456-457.
Cordão de oiro nas Guímbrias
Nas Guímbrias, termo de Corujas [concelho de Macedo de Cavaleiros], havia uma povoação, mas enquanto os cristãos estavam à missa vieram os mouros lançaram lhe fogo e despovoou-se, ficando apenas a capela e vestígios de casas.
Diz a lenda que um homem achou aqui um cordão de oiro e dobou, dobou, dobou... [Por fim] cansado de tanto dobar (...) entendendo que já tem riqueza bastante para si, filhos, netos e tetranetos, corta o cordão. No mesmo instante, ouve-se a voz a desaparecer de uma moura, que clama dolente:
– Ah, ladrão, que me dobraste o encanto.
O cordão dobado converte-se em carvão ou esvai-se e nada mais se vê.(19)
Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, vol. IX, Porto, 1934, pp. 494-48920.
(19) Segundo nos informou Ermelinda Olívia Ferreira (professora), os mais antigos tomam esta lenda como uma espécie de documento identitário da comunidade. Daí que a aldeia de Corujas ainda hoje seja conhecida como terra de “carvoeiros”. Noutros tempos faziam muito carvão e brasas (estas mais finas, feitas de estevas) para as gentes da vila de Macedo. O carvão era carregado em burros, mas as brasas eram as mulheres (chamavam-lhes as "carvoeiras") que as transportavam à cabeça, em sacos de lona, durante dez quilómetros a pé, indo vendê-las de porta em porta nas casas da vila.
A galinha com pintainhos de oiro
Na Pedra Furada, termo de Ferreira [concelho de Macedo de Cavaleiros], (...) há uma gruta ou galeria, por onde os mouros iam levar os cavalos a beber ao local chamado Seixo ou Seixinho. Houve quem visse aqui uma galinha com pintainhos de oiro; mas quando esse alguém ia para os apanhar, desapareceu tudo, e da mesma forma lhe desapareceu uma cabra de oiro que ia berrando de fragueiro em fragueiro.
– Grande bruto – disse a mãe ao filho, quando este lhe relatou o sucedido, – era a moura encantada a querer que a desencantasses e a preparar-te a tua fortuna. Mas tudo se foi por não lhe saberes falar.
Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, vol. IX, Porto, 1934, p. 494.
Espada nele! Espada nele!
Versão A:
No sítio chamado Vila dos Mouros, termo de Espadanedo, concelho de Macedo de Cavaleiros, situado no cume de um outeiro, onde ainda se divisam restos de fortificações, fossos e pedregulhos derrubados, vivia um mouro poderoso, que exigia anualmente dos povos cristãos vizinhos um certo número de donzelas para o seu harém.
Um dia, resolvidos a acabar com tão vexatório tributo, revoltaram-se ao grito de “Espada nele! Espada nele!”, [ou seja] “mata-o, passa-o à espada”. De onde, segundo a etimologia popular, veio à povoação o nome Espadanedo.
Segundo a mesma lenda, o mouro tinha um caminho subterrâneo para levar os cavalos a beber ao ribeiro que longe corre no fundo do outeiro.
Versão B (O rei mouro e as doze donzelas):
Dizem os antigos que a norte da aldeia de Bousende, concelho de Macedo de Cavaleiros, viveram os mouros num sítio a que chamam Fragão. E que se refugiavam ali para verem melhor ao longe e se defenderem dos cristãos. Dizem também que nesse lugar abriram uma passagem secreta por debaixo da terra até à ribeira, onde levavam os animais a beber sem ninguém os ver.
Ora, no sítio do Fragão há ainda hoje uma pedra em cima das outras, a qual era usada pelos mouros para comunicarem a grandes distâncias. Bastava que a puxassem e ela emitia um som muito forte. Conta-se também que este som era o sinal do rei mouro quando queria comunicar com os seus servos, e que, mal o ouviam, reuniam-se rapidamente para receberem ordens.
Um dia o rei ordenou-lhes que fossem ter com os cristãos para lhes exigirem doze donzelas para o seu harém. Só que os cristãos não cederam. Travou-se então uma grande batalha. E diziam:
– Espada nele! Espada nele!
Diz-se que foi com este grito que os cristãos ganharam ânimo e venceram. Por isso aquela terra ficou com o nome de Espadanedo.
Fonte – versão A: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, vol. IX, Porto, 1934, p. 191. Fonte – versão B: Inf.: Ermelinda Olívia Ferreira, 48
anos; rec. Ferreira, Macedo de Cavaleiros, 2001.
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