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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Tio Aurélio, o último aprendiz do meu avô Rabel

Estamos a finalizar o mês de Setembro e como diz o povo “quem não tem vacas nem bois, tem de ser antes ou depois”. Por isso mesmo, já se estão a combinar as vindimas, porque para serem feitas à torna jeira (tu vais para mim, eu vou para ti) é preciso marcar as datas atempadamente. Diz-se que este ano não há muita uva, mas a qualidade é boa. Nas nossas terras a vindima ainda continua a ser uma das festas do lavrador.
Entretanto, neste número vou apresentar-vos o meu avô paterno, que era barbeiro e tinha a alcunha de Rabel.
“Olha! Aquele foi ao Rabel”, ou “Foste ao Rabel?”
são expressões que foram usadas há uns anos, quando alguém tinha ido ao barbeiro, cortar o cabelo. Mas, afinal, quem era o Rabel?
De seu nome António Fernandes Sernadela, nascido a 8/9/1910 e falecido a 20/4/1986, pai de cinco filhos e avô de 19 netos, um dos quais sou eu, criado com ele até à idade dos meus 18 anos.
A história da origem desta alcunha, Rabel, é o que me proponho agora contar e tem a ver com o facto de o meu avô só aos dezasseis anos de idade ter começado a ir à escola, porque até ali andava de pastor de uma cabra. Um certo dia, na escola, num ditado que a professora estava a fazer e que falava de duas personagens que se chamavam Raúl e Isabel, o meu avô, por distracção, juntou as primeiras letras de Raúl e as últimas de Isabel, dando o resultado de RABEL, ficando para toda a vida com esta alcunha.
Foi barbeiro entre 1930 e 1975, estabelecendo-se por conta própria em 1933, na Rua Direita, em Bragança, no tempo em que desfazer uma barba custava uma coroa e um corte de cabelo três coroas, sendo os dias de maior trabalho os sábados, até à meia-noite e os domingos, na sua casa particular, onde habitava, por não poder abrir o estabelecimento. Estes dias eram os escolhidos pelos agricultores para irem ao barbeiro, porque durante a semana tinham os seus afazeres nas aldeias. Foi também durante muitos anos o barbeiro oficial do Seminário, do Patronato e do Paço Episcopal.
Teve muitos aprendizes que, por vezes, pagavam as aulas em géneros alimentícios, como por exemplo, batatas, couves, vinho, azeite e restantes produtos hortícolas da época. O  último aprendiz que teve o meu avô foi o Tio Aurélio Pires, actualmente em actividade e com estabelecimento aberto na Rua do Loreto, em Bragança, que nos contou que começou a trabalhar de porta em porta. O pagamento era um alqueire e meio de trigo por ano. Nessa altura tinha de se pôr em bicos-de-pés para chegar às cabeças dos fregueses e esteve em Portugal até 1970, altura em que emigrou para a França, onde se manteve por mais dezasseis anos na arte. Regressado há trinta anos a Bragança, ao lugar onde ainda exerce com o seu filho. Na actualidade, os barbeiros são mais cabeleireiros que barbeiros por ser raro desfazerem barbas. Parabéns Tio Aurélio Pires!
Refira-se que Bragança é dos locais do país onde o corte de cabelo é mais barato.

Tio João
in:jornalnordeste.com

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