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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Pessoalmente

Noto com tristeza que as pessoas deixaram de falar umas com as outras. Continua a comunicar-se, cada vez mais, com conexões permanentes e sem horas marcadas, mas não há um verdadeiro diálogo entre elas.

Sou nova por fora e velha por dentro quando o assunto é estabelecer contacto com outros seres humanos. É que sempre que possível não dispenso um cara a cara. Em todos os contextos da vida.

Isto era uma técnica muito usada pelas mulheres, no que toca a relacionamentos amorosos. O falar “pessoalmente”. Quando chegava aquela fase do “não te aguento mais, mulher! Está tudo acabado!”, um encontro a dois operava milagres. O que é certo é que se do outro lado se acedesse a este pedido, do “pessoalmente”, era sinal claro de que ainda se nutria interesse, e a coisa dava-se.

Ora, agora isso do “vai ali falar com sicrano” foi trocado por um “depois ligo-lhe”. E nem isso! (Desculpa, Bell). Mandam-se mensagens escritas e emails em telegrama: “assunto-tratado-falar-contigo-quando-andar-menos-ocupado”. E nunca se fala, de falar realmente, porque não interessa.

Qualquer dia, vamos deixar de ter cordas vocais, numa evolução manhosa. É que não usamos com a devida frequência. Ou passa a ser daquelas coisas que temos nos pordentros mas que tanto dá estarem lá como não. Ou, como o mundo está cada vez mais avançado, vamos poder escolher se as queremos ou não.

Há uns tempos um amigo meu dizia-me que tem o que considera ser um defeito, e que é ter a tendência para tocar nas pessoas com quem fala. Eu não o faço com recorrência, admito, mas em boa verdade porque poderia ser confundida com um iceberg. Por vezes tenho inveja de quem o faz (à excepção daquela malta chata, que apetece logo espetar-lhe com uma ordem de restrição na cara). É um dom além de conseguir falar com alguém, mostrar-lhe de uma outra forma que estamos ali, presentes.

E isto lembra-me outro factor determinante: estar presente quando falarmos. Ouvir, compreender, dar verdadeira atenção.

Desenganem-se – tudo actualmente é de plástico e para consumo imediato. Até as pessoas. No outro dia, disseram-me que me viram num local, mas, porém, não me dirigiram palavra. Não me falaram. E arranjam-se justificações lógicas para que isto aconteça. Depois, procura-se um contacto impessoal, sem presença nenhuma associada. Deduzo eu que isto seja uma maneira de avaliar a pessoa antes de saber como é o timbre da voz dela. Se não interessa, amassa-se e atira-se para o lixo cibernético, e faz-se de conta que nem sabemos quem é tamanha personagem. Ok, se calhar há quem se identifique com esta sintomatologia. Eu não.

Antes saíamos de casa, íamos beber um café, fumar uns cigarros às escondidas, e conhecíamos quem era habitual por ali. Conhecíamos pelo nome, dizíamos “olá”, sem receio algum. Aliás, fiz montes de amigos assim, a entabular conversas com desconhecidos.

Hoje fomos trocados, profanamente, por perfis descartáveis nas redes sociais, onde todos somos iguais, onde ninguém se fala. Falar, mas de verdade, digo!

Hoje ligamo-nos na internet, e esquecemos que do outro lado estão seres humanos de carne e osso, que, provavelmente, ainda saem de casa para ir beber um café e fumar às escondidas, mas que não falam com ninguém pessoalmente. Nem com eles próprios.



Tânia Rei
in:diariodetrasosmontes.com

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