(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Certa ocasião, ao escutar debate entre políticos, admirei-me que um deles – conhecida ex-deputada, – dissesse, para reforçar sua opinião, que tinha visto na Internet! …
Essa licenciada, fez-me recordar pobre diabo, que conheci, no tempo de juventude, na aldeia de minha mãe.
Tinha apenas a antiga quarta classe, mas soletrava com facilidade, e conseguia, sem custo, alinhavar as letras, quando lhe pediam para escrever carta ao filho que embarcara para o Brasil.
Nesse tempo, ainda se emigrava para o Brasil; mais tarde, os aldeões, partiam – muitos a salto, – para França e Alemanha, convencidíssimos, que, nesses países, a vida e a remuneração, seria melhor e mais substancial, do que na sua terra, entre a sua gente.
Pois esse camponês, sempre que queria atestar a veracidade de acontecimento, declarava, enfaticamente: “ Veio no Jornal! …”
Para ele, tudo que era escrito em letra de forma, era verdade pura.
Não admira que assim pensasse. Conheci citadinos – e ainda conheço, – que asseveram, a pés juntos, a veracidade da notícia, porque: “ Viram na TV”; “ ouviram na rádio”; ou “ leram no jornal”…
Muitos têm formação académica superior, o que prova, que o “ canudo” nada prova.
Bertrand Russell, considerava que: “ Uma das causas da infelicidade dos intelectuais dos nossos dias, é o facto de muitos deles, especialmente escritores, não terem oportunidade de exercer livremente os seus talentos, e serem obrigados a pôr-se ao serviço de ricas corporações, dirigidas por filisteus, que os obrigam a escrever o que eles muitas vezes consideram disparates perniciosos. Se alguém perguntar aos jornalistas americanos ou ingleses se acreditam a política dos jornais em que trabalham, verificará, suponho, que uma minoria acredita; os restantes, para ganharem a vida, prostituem o seu talento ao servirem objetivos que julgam ser nocivos.” ( “ A Conquista da Felicidade” - Guimarães Editores - 4º edição. Tradução de José António Machado)
Quantos escritores e jornalistas do nosso país se “ prostituem” para verem seus textos publicados?
Uns, abraçam ideologias que não professam, mas que lhes abre a oportunidade de serem editados: assegurando o apoio simpático da crítica da “capelinha”.
Outros, “ vendem” o talento, a partidos políticos; e ainda há quem enxameie os textos com frases e episódios torpes, para conseguirem vender o livro! …Eça não queria que a filha conhecesse alguns dos seus romances…
Possuo carta, de escritora, endereçada a meu pai, que revela que o editor rejeitara a obra, porque não a “apimentou” convenientemente…
E escritor de nomeada, há muito falecido, confessou – em particular, – numa livraria lisboeta, que para conseguir publicar o primeiro livro, foi “ obrigado” a filiar-se num partido político! …
O que se passa com o escritor, passa-se, também, com muitos jornalistas.
Termino, com o parecer do actor João Reis, revelado numa entrevista à “Notícias TV” de 29/06/2012: Se quiserem, as televisões conseguem manipular as pessoas. Aliás, basta ver, às vezes, o alinhamento dos noticiários, para ver que manipulam.”
Mas, ainda há quem acredite, em tudo, que a mass-media divulga; e forme opinião em mentiras e meias verdades! …
“ Vi no jornal!”; ouvi na TV!”; é quanto basta para fundamentarem atitudes, ou condenar artistas e políticos…
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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